Contar uma história é um ofício que exige ritmo, emoção e autenticidade. Mas recontá-la pode ser um desafio ainda maior. No cinema, os remakes revelam como diferentes diretores e atores interpretam uma mesma trama, oferecendo novas camadas de sentido e emoção. Assim como aconteceu com a canção “With a Little Help From My Friends”, dos Beatles, que na voz de Joe Cocker ganhou vida própria, algumas produções acabaram sendo mais lembradas em suas versões refeitas do que nos filmes originais.
Selecionamos 10 obras que marcaram gerações, mas que, surpreendentemente, nasceram como remakes – alguns mais famosos, outros quase esquecidos. A lista mostra como uma nova ótica pode transformar clássicos e até redefinir carreiras de grandes nomes do cinema.
Nasce uma Estrela

O filme estrelado por Lady Gaga e Bradley Cooper, lançado em 2018, é considerado um marco recente na música e no cinema. Porém, essa história já havia sido contada antes – e não apenas uma vez. Em 1954, Judy Garland interpretou a primeira versão de grande impacto, seguida por Barbra Streisand em 1976.
O enredo, que mistura amor, fama e tragédia, conquistou público e crítica em todas as suas versões. Mas foi a mais recente que chamou a atenção pela fotografia sofisticada, densidade dramática e a atuação intensa de Cooper, que também dirigiu a obra. Não à toa, a produção venceu o Oscar de Melhor Canção Original com “Shallow”.
Bravura Indômita

Quando os irmãos Joel e Ethan Coen decidiram revisitar o clássico western de 1969, estrelado por John Wayne, o resultado foi arrebatador. A trama, centrada em uma jovem que busca vingança pela morte do pai com a ajuda de um delegado aposentado, ganhou novos contornos na versão de 2010.
Com Jeff Bridges no papel principal e uma atmosfera muito mais sombria e épica, o remake não só atualizou a narrativa, mas também levou a assinatura de dois dos maiores contadores de histórias contemporâneos. O impacto foi tão grande que a comparação com o original se tornou quase injusta.
Cabo do Medo

O suspense psicológico sobre vingança ganhou duas leituras distintas. No original de 1962, Gregory Peck interpretava o advogado Sam Bowden em um tom heroico. Já no remake de 1991, dirigido por Martin Scorsese, o foco se deslocou para o vilão Max Cady, vivido por Robert De Niro em uma das atuações mais perturbadoras de sua carreira.
A versão moderna intensificou a violência e o peso moral da trama, criando um thriller que se tornou referência do gênero. A mudança de perspectiva fez com que o remake fosse muito mais lembrado, ao ponto de praticamente eclipsar o filme original.
Perfume de Mulher

A versão italiana dirigida por Dino Risi em 1974 já era respeitada como obra-prima, mas foi o remake de 1992 que conquistou definitivamente o grande público. Dirigido por Martin Brest e estrelado por Al Pacino, o longa lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator, coroando uma das performances mais icônicas de sua carreira.
A narrativa sobre um militar aposentado que perde a visão e reencontra sentido na vida por meio da amizade com um jovem estudante mistura lirismo e drama. A refilmagem ainda tem uma das cenas mais memoráveis do cinema: a dança de tango ao som de Por Una Cabeza. O remake se tornou um clássico incontestável.
Os Infiltrados

Inspirado no filme de Hong Kong “Conflitos Internos”, de 2002, o remake dirigido por Martin Scorsese transformou uma trama de espionagem policial em um épico sobre lealdade, corrupção e identidade.
Com atuações de peso de Leonardo DiCaprio, Matt Damon e Mark Wahlberg, a produção de 2006 adicionou camadas psicológicas e tensão narrativa que não estavam tão desenvolvidas no original. O resultado foi premiado com o Oscar de Melhor Filme, consolidando o remake como a versão definitiva para o público ocidental.
Onze Homens e um Segredo

A primeira versão, de 1960, tinha Frank Sinatra e Dean Martin como protagonistas. Charme não faltava, mas o remake de 2001 trouxe um elenco estelar liderado por George Clooney e Brad Pitt, que elevou a narrativa para outro patamar.
A trama de um grupo de especialistas em assaltos que planeja roubar os maiores cassinos de Las Vegas ganhou dinamismo, humor refinado e estética moderna. Tudo isso ajudou a fazer do filme uma das produções de assalto mais influentes da nova geração.
Vanilla Sky

Pouca gente sabe que o thriller estrelado por Tom Cruise, lançado em 2001, é um remake do espanhol “Abre Los Ojos”, de 1997, dirigido por Alejandro Amenábar. Curiosamente, o próprio Amenábar participou da adaptação ao lado de Cameron Crowe, que dirigiu a versão hollywoodiana.
O enredo sobre identidade, sonhos e realidade dividiu opiniões, mas conquistou uma legião de fãs. A trilha sonora, que incluiu uma canção inédita composta por Paul McCartney, deu ainda mais força à nova versão.
Scarface

O filme de Brian De Palma, estrelado por Al Pacino, é tão marcante que muitos desconhecem sua origem em um longa de 1932. A jornada de Tony Montana, imigrante cubano que ascende no tráfico de drogas em Miami, se tornou um dos retratos mais intensos do crime organizado no cinema.
Com falas icônicas como “Say hello to my little friend!”, a versão de 1983 não apenas superou o original, mas também entrou para a cultura pop como símbolo da era dos excessos.
True Lies

O clássico de ação dirigido por James Cameron e estrelado por Arnold Schwarzenegger tem origem curiosa: trata-se de uma releitura da comédia francesa “La Totale!”, de 1991.
Na trama, um agente secreto esconde sua identidade da própria família, até que a esposa, vivida por Jamie Lee Curtis, acaba envolvida em uma missão perigosa. O remake uniu espionagem, humor e romance, se tornando um dos maiores sucessos dos anos 90.
Os Doze Macacos

Um dos maiores filmes de ficção científica dos anos 90 nasceu da inspiração em “La Jetée”, curta experimental de Chris Marker, lançado em 1962.
Dirigido por Terry Gilliam, o remake trouxe Bruce Willis, Madeleine Stowe e Brad Pitt em uma trama complexa sobre viagens no tempo e pandemias. O resultado foi uma obra sombria e provocativa, que ampliou o conceito minimalista do curta original em uma narrativa épica e perturbadora.
Sempre ao Seu Lado

O filme Sempre ao Seu Lado, de 2009, remake do japonês “Hachiko Monogatari”, de 1987, rapidamente conquistou o coração do público brasileiro. Baseado em uma história real, o filme já teve outras versões no cinema, mas a adaptação estrelada por Richard Gere se tornou a mais conhecida no Ocidente.
No Brasil, a popularidade da produção foi amplificada pelo fato de ter sido exibido diversas vezes na Sessão da Tarde – um verdadeiro sinônimo de filmes emocionantes e que marcaram a memória de gerações de telespectadores. Muitos – inclusive quem vos escreve – vêem nele um dos últimos grandes sucessos a ser transmitido nas tardes da Rede Globo.
Bônus: Dona Flor e Seus Dois Maridos

Clássico absoluto do cinema brasileiro, o filme de Bruno Barreto baseado na obra de Jorge Amado, saiu em 1976 e ganhou uma versão americana em 1982: “Kiss Me Goodbye” (Meu Adorável Fantasma).
Estrelado por Sally Field, o remake transportou a trama para Hollywood, mas manteve a essência da história: o triângulo amoroso inusitado entre uma mulher, seu novo marido e o fantasma do falecido. Embora não tenha alcançado o mesmo impacto cultural, representa um raro exemplo de exportação direta de nossa cinematografia para o exterior.
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