Capa do álbum The Bends de Radiohead

30 anos de The Bends | O clássico anticapitalista de RadioHead

No seu segundo álbum Radiohead traçava o caminho que os levaria a serem considerados a banda de rock mais original depois dos The Beatles

Em 13 de março de 1995 foi lançado o segundo álbum da banda britânica Radiohead, chamado The Bends. Os cinco amigos já se conheciam e ensaiavam desde a fase escolar, no colégio Abingdon School, em OxfordShire. Mas foi durante as suas vidas universitárias que Thom Yorke, Jonny Greenwood, Ed O’Brien, Colin Greenwood e Phil Selway decidiram se unir e formar a chamada – a princípio – On a Friday (esse nome foi escolhido pois, na época de escola, sexta-feira era o único dia que eles podiam ensaiar em uma sala do colégio).

O álbum de estreia dos rapazes de Oxford, chamado Pablo Honey (1993), foi um enorme sucesso, porém progressivo, e já contava com Creep, principal música do álbum. Com o crescimento ao estrelato, as turnês promovidas nos Estados Unidos para fazer Pablo Honey conhecido, a pressão e as tensões para que o segundo álbum fosse lançado logo – e com o mesmo sucesso – foram enormes, chegando ao ponto de fazer o vocalista da banda, Thom Yorke, a cancelar uma apresentação importante no Reading Festival. Em entrevista à NME (New Music Express) Yorke chegou a dizer que “estava completamente ferrado e mentalmente farto”.  

Porém foi em The Bends que a banda começou a seguir o caminho de experimentação musical e originalidade artística, na qual seria a principal marca do grupo e que os consagraria ao estrelato. Depois que as gravações de Pablo Honey terminarem, Yorke apresentou a Paul Q Kolderie (também co-produtor do primeiro álbum da banda) músicas novas e que estavam intituladas como “The Benz”. Naquela ocasião, Kolderie ficou impressionado com a qualidade musical e chegou a dizer que aquelas músicas eram melhores do que qualquer coisa em Pablo Honey.

Para a nova produção, a banda também chamou o produtor John Leckie, que já tinha trabalhado em álbuns de outros artistas que os integrantes admiravam, como, por exemplo, a banda Magazine. Nas palavras de John Greenwood, guitarrista da banda

“Ele não nos tratou como se tivesse algum tipo de feitiçaria que só ele entende. Não há mistério nisso, o que é tão revigorante.”

O nome The Bends serviu uma metáfora para o que a banda estava vivendo naquele momento, já que Bends é a doença da descompressão; algo comum à mergulhadores quando voltam à superfície. E era justamente isso que estava acontecendo com Radiohead à época. A pressão por parte da gravadora EMI (Electric and Musical Industries), o tempo dado aos garotos para gravarem e escreverem as músicas fez com que as gravações de The Bends durassem de fevereiro de 1994 até novembro do mesmo ano. Assim, as sessões de gravações no estúdio Abbey Road – o mesmo que o dos The Beatles – não foram nada fáceis de serem concluídas.

Yorke, também declarou à época que foi lançado The Bends que ele tinha se inspirado no álbum solo de John Lennon e sua esposa Yoko Ono, Plastic Ono Band, pois era desconfortável escutar as músicas de Lennon daquele álbum. E era, justamente, isso que Yorke queria trazer para o segundo lançamento da banda, diante das pressões que as músicas de The Bends também fossem grandes sucessos e hits . Os integrantes de RadioHead não estavam dispostos a fazer músicas apenas para vender. Como um artigo do NME classificou, The Bends é um ode anticapitalista e anticinismo.

Foto da capa do álbum "Plastic Ono Band" de John Lennon e Yoko Ono
Foto da capa do álbum “Plastic Ono Band”.

No Brasil, a banda ficou conhecida a partir do comercial “Carlinhos” que falava sobre síndrome de down e a música Fake plastic trees, faixa 4 do álbum, foi a escolhida para ser a trilha sonora da propaganda. Thom Yorke concedeu os direitos da música para que a campanha fosse continuada, sem nenhum problema.

A banda que escutamos em The Bends é diferente daquela que escutamos em Pablo honey, pois é neste álbum que vemos o caminho que Radiohead iria trilhar; vemos aqui a participação de todos os integrantes da banda na composição instrumental das músicas. Em Pablo Honey, temos um Radiohead estreante, novos, querendo sucesso; grande parte das músicas do álbum de estreia foram compostas e trabalhadas musicalmente por Thom Yorke; em The Bends temos Yorke comando o ritmo das músicas, Greenwood conduzindo esse mesmo ritmo, e O’Brien fornecendo os efeitos para tal. O sucesso de The Bends foi tal que o álbum entrou para a lista do “500 melhores álbuns” colocados pela a revista americana Rolling Stones; além de receber uma indicação de “Melhor álbum britânico” no Brit Awards em 1996.

The Bends é um álbum que evoca a sensação de estar desconectado de algo, desintegrado à algo. A Rolling Stones classificou o álbum como uma “mistura de hinos de guitarra sônica e baladas marcantes”, com letras evocando uma “paisagem assombrada” de doença, consumismo, ciúme e saudade”. O segundo álbum de Radiohead mostrou o caminho da experimentação musical e da originalidade artística, com letras marcantes e questionadoras, que o seguiriam sempre. Isso os tornou conhecidos de tal maneira, que Radiohead é considerada a banda original do rock britânico e mundial mais artística depois de os The Beatles.

Três décadas se passaram desde o lançamento de The Bends, que assim como naquela época, continua sendo atual ao mostrar os questionamentos e críticas ao cinismo, materialismo, entre outros tópicos. Muitas das vezes sendo mal interpretado por sua grande carga pessimista, The Bends continua sendo necessário para a nossa sociedade atual, ao chamar o público para prestar atenção na realidade social do mundo. Assim como o criador de The Bends, RadioHead, é uma das bandas mais necessárias para nós, justamente pela beleza que há no desconforto de suas músicas.

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