30 anos depois, 'O Corvo' continua sendo a maior fantasia gótica do cinema
Miramax/Divulgação

30 anos depois, ‘O Corvo’ continua sendo a maior fantasia gótica do cinema

O Corvo foi lançado em 1994 e é um dos maiores clássicos cult do cinema. O filme estrelando Brandon Lee como Eric Draven, que ressuscita no aniversário de sua morte para se vingar daqueles que mataram ele e sua noiva, é violento, emocional e gótico no sentido tradicional. Nas últimas décadas, adolescentes cresceram com essa franquia de filmes e seu material de origem. Esses adolescentes se tornaram adultos que continuam a revitalizar o material para a próxima geração. Mas por que, 30 anos depios, esse filme acumulou um culto tão devoto?

Uma tragédia típicamente gótica

A HQ homônima de James O’Barr mergulha em elementos sobrenaturais e usa imagens em preto e branco para contar a história de O Corvo. No entanto, no filme, vemos um mundo totalmente desenvolvido, semelhante a Gotham City dos filmes do Batman de Tim Burton.

30 anos depois, 'O Corvo' continua sendo a maior fantasia gótica do cinema
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Sequências intercaladas mostram o corvo voando sobre as ruas com arquitetura gótica em noites tempestuosas e escuras. A trilha sonora de Graeme Revell complementa muitas dessas sequências de forma quase orquestral. A escuridão é um tema prevalente ao longo do filme, onde Eric emerge das sombras e é principalmente mostrado à noite sob uma chuva incessante. De muitas maneiras, esses elementos góticos se intersectam com a estética moderna do neo noir.

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O que torna uma história gótica é a combinação de melancolia, suspense, ação noturna e o macabro mórbido. No caso de O Corvo, vemos Eric ressurgir inexplicavelmente das profundezas de sua sepultura e adquirir todo esse poder para enfrentar aqueles que o prejudicaram. A era romântica da literatura, séculos atrás, nos trouxe histórias de Mary Shelley e Edgar Allan Poe. O filme é quase uma homenagem a essa era de contação de histórias. Sua narrativa fatalista de morte, vingança e perda pode ser o melhor exemplo de um filme gótico dos anos 90.

Eric Draven — com a palavra “raven” (corvo) em seu sobrenome — frequentemente cita o famoso poema O Corvo de Poe para suas vítimas, como os versículos bíblicos de Samuel L. Jackson em “Pulp Fiction”. Ele também deixa sua marca escrita em sangue ou fogo no local de seus atos vingativos. A atuação de Brandon Lee como O Corvo ou Eric Draven é o coração e a alma do filme, e é por isso que o público ainda o considera um dos maiores clássicos cult.

O Corvo e as tragédias

Não se pode falar de O Corvo sem discutir a tragédia que se abateu sobre a estrela Brandon Lee. Sua morte no set deste filme imprimiu uma maior dose de alma e escuridão nos rolos de filme. Tanto na tela quanto fora dela, este é um filme sobre a morte e o que a rodeia.

A obsessão com o mistério da morte é um componente crucial da literatura gótica, mas o personagem de Eric é a personificação viva da morte como mistério. Seu renascimento não é totalmente explicado no filme, e suas habilidades sobrenaturais parecem se misturar com o mundo incomum ao seu redor.

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Este filme está longe de ser convencional. Nosso herói, ou anti-herói, é a manifestação da morte. Talvez a introdução incomum desse personagem tenha sido o principal motivo do interesse do público. Quando vemos Eric, ele está se levantando da sepultura em um cenário de cemitério classicamente gótico. Logo descobrimos que este homem está em uma busca de vingança após o amor de sua vida ter sido tirado dele. O personagem representa tudo o que é romântico na narrativa gótica. No entanto, o romance de Eric não está mais conectado a uma pessoa, mas à própria violência.

O Corvo é um herói assustador

Eric Draven é um anti-herói, e é perfeito nisso. Ele é um vigilante que recorre ao assassinato para satisfazer sua sede de vingança. Ele se veste de preto, usa maquiagem sutil e empunha as armas poderosas, incluindo suas mãos. Aliás, elas em particular, são usadas para simbolismo religioso também. Quando uma bala atravessa a mão de Eric, é feito um comentário usando o nome de Jesus — e uma referência ao estigma se torna clara. A cena imediatamente corta para um close do buraco na mão de Eric se fechando. O poder de Eric lhe foi concedido… através da violência.

30 anos depois, 'O Corvo' continua sendo a maior fantasia gótica do cinema
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Talvez outro motivo pelo qual o filme, com o passar dos anos, tenha se tornado tão popular, é que as sequências de violência são bastante envolventes de assistir. Embora sejam brutais e em alguns momentos não economizem na brutalidade, o bom cinema depende do impacto emocional no espectador. Há algo bastante bonito nos atos de justiça mostrados neste filme. Queremos ver O Corvo vencer os criminosos que o assassinaram brutalmente, assim como a sua noiva. No entanto, a maneira como ele faz isso é nada menos que perturbadora. Ainda assim, não conseguimos desviar o olhar.

A violência é uma parte tão importante da nossa história, e isso é mostrado em grande detalhe em vários elementos da literatura e dos textos religiosos, especialmente os mais góticos. Portanto, o cinema tem liberdade para explorá-la e mostrar ao público como ela move as histórias adiante.

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As músicas ficam para a eternidade

Encabeçada por “Burn” do The Cure, a trilha sonora do filme é um retrato perfeito do lado mais sombrio do protagonista, que dialoga perfeitamente com o restante da trilha sonora, embora composta por bandas mais pesadas e sombrias e que marcaram a primeira metade dos anos 90. Tem até o Nine Inch Nails fazendo cover de Joy Division, pelo amor de Deus. Se isso não é uma declaração de intenções, não sei o que é.

Após 30 anos, o Corvo se mostra realmente imortal

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A narrativa de vingança é tão familiar, mas seu sucesso depende de quem está buscando vingança. Eric é um personagem bastante interessante, envolto em elegância gótica. Ele fala de maneira emocional e às vezes poética, mas libera uma raiva física. Há uma dinâmica na atuação de Lee que ainda não foi duplicada, apesar das tentativas de sequências da franquia.

Lee era O Corvo e O Corvo de Poe também. Ele lamentava a perda de seu amor, assim como o narrador fez no poema de Edgar Allan Poe. Eric também era O Corvo porque ele foi o portador da morte. Essa combinação de morte e amor que torna a literatura gótica tão amada. Gerações de góticos puderam ver elementos em O Corvo que tornaram a era romântica da literatura tão especial. Continuações e até um remake podem existir, mas o filme de 1994 continua a prosperar por causa desses fatores.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.