Zafari, filme de Mariana Rondón, é exibido na 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo | Foto: Divulgação
Zafari, filme de Mariana Rondón, é exibido na 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo | Foto: Divulgação

48ª Mostra | Zoo venezuelano de Mariana Rondón remonta miséria do país em filme

Um hipopótamo chega ao zoológico de Caracas e, então, engata uma selvageria maior do que um safari poderia proporcionar: a humana. Zafari, da cineasta venezuelana Mariana Rondón (“Pelo Malo”, 2013) e roteirizado por Marité Ugás, é um trocadilho que dá nome ao animal e conduz a uma narrativa que expõe a miséria dos indivíduos num retrato conciso da realidade. Isto porque o longa baseia-se no caso de escassez de comida do Zoo Caricuao, em Caracas, Venezuela, diante da crise do país. O desaparecimento de 10 espécies no local em 2017 repercutiu nos noticiários e, criticamente, inspirou obras a respeito.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a   Venezuela sofre o segundo maior nível de fome na América do Sul, depois da Bolívia. Embora o país não seja citado na película, Rondón afirma que a ideia do longa surgiu a partir do desaparecimento dos animais no zoo de Caracas: “Em Zafari encontramos uma escassez de coisas tão básicas como a água e a eletricidade que levam à falta de alimentos.”, começou a diretora, que esteve nas exibições do filme na 48ª  edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

“Uma crise profunda pode ser alcançada muito rapidamente com a ausência de itens básicos. Então, há uma reflexão como um espelho para o público. O espectador pode se colocar no dilema e decidir o que faria naquela situação. Cada um tem que tomar suas próprias decisões… O que você faria?”

Zafari, filme de Mariana Rondón, é exibido na 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo | Foto: Divulgação
Zafari, filme de Mariana Rondón, é exibido na 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo | Foto: Divulgação

Enredo

O drama mostra as comemorações de vizinhos de diferentes classes sociais pela chegada de Zafari, o hipopótamo. Uma família, composta por Ana (Daniela Ramírez), que é casada com Francisco (Francisco Denis), ambos pais do adolescente Bruno (Varek La Rosa), acompanha as movimentações da janela de seu apartamento em um condomínio decadente de classe alta. Em meio ao caos gerado pela falta de alimentos, eles precisam resolver problemas cotidianos enquanto tentam encontrar uma solução para deixar o país. Neste cenário, Zafari é o único que tem o que comer. 

Com data de lançamento para 2025, Mariana discorreu sobre o processo de criação a partir da técnica e do envolvimento de seus brilhantes atores na trama. “Trabalhei com coproduções entre Brasil, Peru, México, França, Chile, República Dominicana e Venezuela, então assim que o elenco foi formado.”, disse. 

“Então começamos a imaginar, a conceber, a ensaiar, a improvisar sob as mesmas ideias… Não faltaram conflitos pessoais dos personagens diante das deficiências gerais de um lugar desmoronado. Já trabalhei com alguns dos atores antes, então nos deram muitas possibilidades maravilhosas!”, pontuou. 

Zafari, filme de Mariana Rondón, é exibido na 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo | Foto: Divulgação
Zafari, filme de Mariana Rondón, é exibido na 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo | Foto: Divulgação

Inspirações pela Mostra SP

Embora um caso fatídico tenha sido usado como pano de fundo da narrativa, Rondón afirma que o cineasta hispano-mexicano Luis Buñuel sempre está presente como referência em suas produções. Ademais, Mariana pontua como foi a experiência de participar, mais uma vez, da Mostra em São Paulo. “A experiência é sempre maravilhosa, tive a sorte de exibir vários filmes! Fiz muitos amigos ao longo dos anos, então, encontrá-los e poder conversar sobre filmes de toda a região é sempre interessante.”, conta. 

Sobre projetos futuros, Rondón prospecta um novo filme em breve: “Neste momento, estou ambiciosa por um filme com Marité Ugás, com quem sempre trabalho. Estamos co-dirigindo e se chama La Noche de San Juan. Quando terminarmos, faltam alguns meses, poderemos conversar mais sobre isso”, finaliza.

Zafari, que também foi apresentado no Festival de San Sebastián, é distribuído no Brasil pela Vitrine Filmes e conta com a produção da brasileira Klaxon Cultura Audiovisual, além da Sudaca Films, Paloma Negra Films, Still Moving e Quijote Films.

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Jornalista, Repórter de Cultura Pop e Crítica de Cinema | contatoliviasc@gmail.com