Maria Gladys, atriz brasileira. Fonte: Chippu
Maria Gladys, atriz brasileira

Mais do que a avó da atriz Mia Goth, conheça 5 papéis que mostram que Maria Gladys é uma estrela

Dizem que filho de peixe, peixinho é. Também é possível dizer o mesmo sobre avós e netas? Por aqui, sim! A atriz Mia Goth confessou ter sua própria musa: sua avó, Maria Gladys, que também tem direito de gritar que é uma estrela. Pensando nisso, fizemos uma lista com os 5 filmes com a avó-da-neta-da-atriz-brasileira (!), Maria Gladys. Vem conferir!

Obs.: contêm spoilers.

1. Os Fuzis (1964)

Brasileiro e argentino, Os Fuzis, de Ruy Guerra, faz parte da nossa “trilogia de ouro” do Cinema Novo, ao lado de Vidas Secas (Nélson Pereira dos Santos) e “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (Gláuber Rocha). O filme é tão relevante para a nossa cultura que Abraccine o incluiu na lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

Além de sua importância nacional, o longa também recebeu destaque fora do país, recebendo o Urso de Prata em Berlim, na categoria “direção”. De fato, não poderia ser outro o filme em que Maria Gladys iria estrear como atriz de cinema.

Maria Gladys em "Os Fuzis"
Maria Gladys em “Os Fuzis”, filme de 1964

O enredo do filme é sobre fome, ordem e poder militar. Ordem essa que serve apenas para a manutenção de um status quo que insiste em gerar e aumentar as classes sociais e, claro, a fome de uns para a gula de outros.

A trama se passa no nordeste brasileiro, e há quem diga que, nesse ponto, o filme peca, visto que retrata um nordestino rebaixado e ignorante. De qualquer forma, é um filme que vale a pena assistir, admirando a atuação de Maria como “Luísa”.

2. Cuidado, Madame (1970)

Cuidado, Madame é um filme de 1970 sobre duas empregadas, sendo uma delas interpretada por Maria Gladys que, inconformadas com a situação em que se encontram, matam seus patrões.

Maria Gladys em Cuidado, Madame
Maria Gladys em “Cuidado, Madame”, filme de 1970

Além de trazer uma reflexão sobre a condição de trabalho de muitos trabalhadores (empregadas inclusas), o filme também traz à tona a polícia como uma figura de poder e opressão que, entretanto, não atua. Dessa forma, o crime pode continuar acontecendo – bem como as condições de trabalho precarizados.

Matheus Zenom fala um pouco sobre “Cuidado, Madame” na Revista Limite:

Duas atrizes, Helena Ignez e Maria Gladys, representando empregadas domésticas, em uma caracterização tipificada que se volta ao puro jogo lúdico da atuação. Quais são as suas ações? Uma série de assassinatos em cumplicidade, em meio a diversas perambulações, passeios, conversas que a câmera observa à distância e que o registro de som deixa mesmo de apreender por completo. O que as ameaça? A polícia, certamente, que, no entanto, deixa de ameaçar, manifestando-se somente em sua ausência de ação, em sua presença somente superficial, como instituição de poder que não o cumpre, sem figuras de representação, sem indivíduos.

3. Sem Essa, Aranha (1970)

Mais um sucesso nacional, Sem Essa, Aranha, filme dirigido por Rogério Sganzerla e parte do nosso Cinema Marginal, também está incluído na lista dos 100 melhores filmes brasileiros da Abraccine.

Maria Gladys em "Sem Essa, Aranha"
Maria Gladys em “Sem Essa, Aranha”, filme de 1970. Fonte: IMDb

Além de Maria Gladys, o filme também conta com grandes figuras do Brasil, como é o caso do Luiz Gonzaga! Aqui, o longa se destaca por ser uma obra experimental, diferente de tudo produzido por aqui até então.

O enredo conta com temáticas que envolvem problemas sociais muito presentes no Brasil, como a fome, pobreza, desigualdade e falta de identidade nacional – que nós até comentamos quando falamos sobre filmes de terror brasileiros!

Dessa vez, quem fala sobre o filme na Revista Limite é Davi Braga, afirmando que:

Jamais um defeito, mas sim uma ideia extremamente bem lapidada, essa noção de caos é justamente o que interessa a Sganzerla, num filme que se manifesta, a todo momento, como um singelo grito de ode ao Brasil e uma resistência ao processo da descaracterização identitária do país.

4. O Meu Pé de Laranja Lima (1970)

Título inconfundível, O Meu Pé de Laranja Lima, dirigido por Aurélio Teixeira, é uma adapatação de uma obra literária de mesmo nome.

Maria Gladys em "O Meu Pé de Laranja Lima"
Maria Gladys em “O Meu Pé de Laranja Lima”, filme de 1970

A história, que é uma autobiografia do autor José Mauro de Vasconcelos, é sobre um menino pobre que conversa com um pé de laranja lima no quintal de sua nova casa. Nesse filme, Maria interpreta a Professora Cecília, sendo Zezé, o garoto protagonista, seu melhor aluno.

5. Matou a Família e Foi ao Cinema (1991)

O filme, que repete o título de outro longa de 1969, tem como atriz convidada, Maria Gladys. Matou a Família e Foi ao Cinema, de 1991, é uma obra extremamente caótica e, por isso mesmo, encantadora.

Maria Gladys em "Matou a Família e foi ao Cinema"
Maria Gladys em “Matou a Família e foi ao Cinema”, filme de 1991

Como mutios dos filmes brasileiros da época, o longa abusa da violência e da sensualidade. Contudo, Maria Gladys atua mais de uma personagem no filme, sendo uma delas a vítima de uma violência: uma mãe, assassinada por seu próprio filme – que, depois, vai ao cinema.

Não satisfeita com um assassinato, Maria atua como uma mãe rígida e violenta mais uma vez, sendo assassinada por sua filha lésbica por causa de sua homofobia. Neste filme, é possível sentir a força da atuação de Maria, que tanto mergulhou em suas personagens que até nos lembra alguns de nossos familiares. Ainda assim, sofremos com a filha assassina pela morte da mãe. Afinal, família ainda é família para muitas vítimas – e assassinas.

Quem é Maria Gladys?

Pode parecer sem sentido falar sobre quem é Maria Gladys. Afinal, ela é a avó da atriz Mia Goth! E é exatamente por isso que conhecer Maria é tão importante: ela é mais do que uma avó. Ela é uma atriz que atuou em grandes filmes do cinema nacional que, cada vez mais, necessita de reconhecimento – bem como os artistas que se envolveram no projeto.

Maria Gladys é uma dessas grandes artistas. Atriz de um dos principais movimentos do cinema brasileiro, o cinema marginal. Antes de se tornar atriz, Maria foi a filha que nasceu após dois partos mal-sucedidos e vítima de uma paralisia infantil. Foi também mãe na adolescência, aos 15 anos. Ainda muito jovem, conheceu muitos artistas e até namorou o Roberto Carlos.

Sua carreira como artista começou no palco, atuando em peças de teatro. Não demorou muito para demonstrar o seu talento para o público, estreando na peça “O Mambembe”, em 1959. No cinema, Maria Gladys começou como a enfermeria em “Por um Céu de Liberdade”, depois atuou em “Bonitinha, mas Ordinária” e, finalmente, conquistou um papel de destaque em “Os Fuzis”.

Desde então, Maria seguiu como a musa do cinema marginal e, com certeza, conheceu muitas pessoas valiosas em sua vida. Atuou ao lado de Fernanda Montenegro e Sérgio Britto em peças de teatro, além de filmes indicados à premiações importantes. De fato, Maria fez o seu nome e continua fazendo ao inspirar Mia Goth. Afinal, neta de peixe, peixinha é.

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Estudante de Tradução e redatora há mais de 2 anos.