Neste ano marcamos o 50º aniversário de O Massacre da Serra Elétrica, de Tobe Hooper. Falsamente divulgado como um filme “baseado em uma história real”, o pequeno projeto independe slasher foi impulsionado a se tornar um grande sucesso de bilheteria, quebrando o recorde como o filme de terror independente de maior bilheteria de todos os tempos — só sendo superado quatro anos depois por “Halloween” de John Carpenter, cujo Michael Myers foi, sem dúvida, inspirado por Leatherface.
Devido à violência sem precedentes, a MPAA imediatamente deu ao filme uma classificação R (para maiores de 18 anos), o que impediu que ele fosse exibido nas principais redes de cinemas, especialmente porque não era apoiado por uma grande produtora e contava com atores desconhecidos na época. Mas, após sua estreia em uma matinê em um pequeno cinema em Austin, no Texas, o burburinho boca a boca sobre a “história real” levou o filme às redes de cinema, apenas para ser banido algumas semanas depois graças aos pais conservadores que não apreciaram a brutalidade. No entanto, como qualquer coisa proibida por ser muito controversa, isso só despertou mais interesse.
O Horror Independente
Lançado há 50 anos, O Massacre da Serra Elétrica marcou uma revolução no cinema de horror independente. Com um orçamento reduzido de menos de 300 mil dólares, financiado pelo próprio Hooper, pelo escritor Kim Henkel e por investidores, o filme foi uma verdadeira produção independente — e tão corajosa, quanto arriscada. Antes da era do Novo Cinema de Hollywood, este tipo de produção era quase inexistente. No entanto, o sucesso de O Massacre da Serra Elétrica inspirou muitos jovens cineastas a tentarem a sorte no horror com suas próprias câmeras, dando origem a diversos subgêneros que hoje enchem as exibições de festivais de cinema.
O Assassino Mascarado e a Exposição Midiática do Vietnã
Leatherface, o assassino mascarado do filme, foi inspirado pelo serial killer Ed Gein e pela violência da época, em particular, por conta da cobertura mediática da Guerra do Vietnã. A decisão de Hooper de promover o filme como “baseado em uma história real” ajudou a intensificar o medo e o fascínio do público. O anonimato de Leatherface simbolizava a violência generalizada, não restrita a uma única pessoa, mas refletindo um estado coletivo da humanidade naquele momento.
A Ferramenta do Poder
Antes de O Massacre da Serra Elétrica, os vilões no cinema usavam armas convencionais como facas e pistolas. A introdução de ferramentas de poder como a motosserra revolucionou o gênero, levando os cineastas a explorar novas formas de violência. Filmes como “Jogos Mortais” seguiram essa tendência, utilizando armadilhas criativas e brutais que permaneceram na memória dos espectadores.
A Violência
Hooper deliberadamente limitou — o máximo que pode — o gore explícito em no filme, a tal ponto que ele esperava uma classificação indicativa menor. Em parte, isso foi uma escolha artística, mas também houve pressão financeira que limitou a quantidade de efeitos especiais que a produção podia realizar.
O tema deste filme frequentemente era que fazer as coisas de verdade era a melhor política, e isso ocasionalmente se aplicava à violência também. Gunnar Hansen (intérprete do Leatherface) disse em um dos comentários do DVD do filme que, quando tiveram dificuldade em tirar o sangue cenográfico do tubo, cortaram o dedo indicador de Marilyn Burns de verdade com uma lâmina de barbear.
Hansen, também, demonstrou um grande compromisso. Durante uma cena, ele supostamente instruiu o co-estrela William Vail a não se mover e então correu a motosserra muito real a três polegadas de seu rosto. Ele também deixou “uma grande marca” no olho de um co-estrela quando ele balançou um martelo de adereço com verdadeira ferocidade, de acordo com a entrevista de Hooper ao Indiewire.
A cena climática e infame da mesa de jantar provou ser uma experiência árdua e de pesadelo para todos os envolvidos. Hooper disse que a cena é “caótica” e que ele “manteve tudo o mais real possível”. Mais, notavelmente, o martelo que o personagem extremamente velho do Vovô falha em matar o personagem de Burns era real, e o ator deixava a arma cair muito perto da cabeça dela.
Foi, definitivamente, uma filmagem para se lembrar, mesmo que não pelos motivos certos. Hooper disse que virtualmente todos os envolvidos “se machucaram um pouco” durante o processo de fazer o filme.
Sequências, Prequelas e Jogos
O impacto de O Massacre da Serra Elétrica foi tal que gerou, ao todo, nove filmes. Incluindo sequências, prequela, remakes — isso mesmo, no plural —, jogos de videogame e inúmeras imitações e paródias. Esta proliferação de continuações tornou-se uma característica controversa no cinema de horror. Além do cinema, a influência de O Massacre da Serra Elétrica estendeu-se aos videogames, para além dos licenciados, onde a motosserra se tornou uma arma popular em títulos como nas séries “Grand Theft Auto” e “Doom”. Além, é claro, da reprodução quase fiel da famosa cena do jantar em “Resident Evil 7: Biohazard”.
Publicidade enganosa e o nascimento do mockumentário
A estratégia de Hooper e Henkel de usar atores desconhecidos e anunciar o filme como baseado em fatos reais abriu caminho para sucessos como “A Bruxa de Blair”. Esta abordagem de marketing criativa e, por vezes, desonesta, foi crucial para levar o público aos cinemas, estabelecendo um novo padrão para o gênero de horror.
O Legado
“Todos me odiavam no final da produção”, disse Hooper em sua entrevista à Screen Anarchy. “Demorou anos para eles se acalmarem.”
Mas será que valeu a pena? O Massacre da Serra Elétrica certamente é considerado um dos maiores clássicos do terror. As sequências incomuns e difíceis sob as quais o filme foi criado são, sem dúvida, indissociáveis do seu status como um dos filmes mais assustadores já feitos. É palpavelmente sujo do início ao fim, com a sujeira e a imundície de sua exploração de seu micro-orçamento aparentemente transbordando de cada quadro, se destaca como um exemplo primário de como as limitações de uma produção conturbada podem ajudar a capturar a essência de algo verdadeiramente especial.
O Massacre da Serra Elétrica é grotesco, perturbador e quase certamente um pouco de mau gosto — mas é indubitavelmente especial.
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