Como cineasta, Oz Perkins construiu uma carreira criando filmes atmosféricos e repletos de tensão, capazes de gerar suspense a partir do desconhecido. Portanto, era esperado que Longlegs: Vínculo Mortal, seu quarto longa-metragem, fosse melhor no que se refere a aumentar a sensação de ambiguidade sombria e inquietante.
Um thriller policial de crime e terror que busca se assemelhar aos filmes sombrios e melancólicos de policiais e criminosos dos anos 90 — época em que o filme se passa —, Longlegs é eficaz em manter uma lenta e constante sensação de terror iminente e preocupação angustiante. No entanto, quando chega o momento de revelar o que realmente se esconde na escuridão, o filme de Perkins não consegue satisfazer completamente.
Lee Harker (Maika Monroe), uma recém-recrutada agente do FBI que trabalha ao lado do Agente Carter (Blair Underwood), tem uma tarefa incomum para uma novata: rastrear um serial killer megalomaníaco conhecido apenas como Longlegs. Nas últimas décadas, houve um padrão perturbador de assassinatos seguidos de suicídios ligados apenas por uma série enigmática de cartas. Essa força indefinível de vingança tem aterrorizado a cidade e deixado uma sequência de perguntas sem resposta. Através de uma habilidade quase telecinética para decifrar as notas manuscritas de Longlegs e desvendar a conexão até então desconhecida entre essas mortes, Lee faz progressos significativos no caso e finalmente está próxima de trazer justiça. Mas isso pode vir a um custo terrível: ao se aprofundar, Harker descobre que este caso é mais pessoal do que ela imaginava, e ela não sairá a mesma pessoa.
Oz Perkins se adequou ao mercado?
No momento em que este texto foi escrito, Longlegs já superou filmes anteriores distribuídos pela Neon, até mesmo o vencedor do Oscar de Melhor Filme “Parasita”, tornando-se o filme de maior bilheteria da empresa “indie”. Há vários fatores que contribuem para isso, mas o principal é algo simples: o marketing foi realmente bom e eficaz. A sensação e o tom transmitidos eram reconhecíveis, mas era difícil entender exatamente o que estava em jogo. Você sabia que algo sinistramente assustador estava prestes a acontecer, e não precisava ser fã de terror para querer saber o que estava por vir.
É curioso viver em uma época em que Perkins está por trás não apenas de um sucesso de bilheteria, mas do grande sucesso surpresa do verão. Longlegs tornou-se o pequeno filme de terror que conseguiu, e isso não é pouca coisa. Como diretor de produções menores como A “Enviada do Mal” e “Maria e João: O Conto das Bruxas”, o cineasta prosperou ao criar filmes lentos e cuidadosamente calibrados que evitam seguir a linha dos sustos fáceis.
Havia frequentemente uma qualidade elegante e contida em suas obras que não agradava a todos. Aqueles que preferem filmes de terror com mais tensão do que sustos foram bem atendidos. Longlegs busca preencher a lacuna entre thrillers de terror mais comerciais e o estilo característico de Perkins. Embora seja frequentemente uma mistura bem-sucedida, o equilíbrio se perde no terceiro ato, que é mais focado em violência gráfica e em explicar o que não necessariamente precisa ser explicado. Deixando de lado a atmosfera sombria que tornou a primeira metade tão envolvente.
A Fúria de Cage
Aos 31 anos, Monroe encontrou um nicho sólido no cenário do terror indie. Desde seu papel de destaque em “Corrente do Mal”, em 2014, até agora, ela brilhou em filmes como “O Hóspede”, “Observador” e “Obsessão”. Mesmo que esses filmes nem sempre tenham feito jus ao talento da atriz, eles sempre destacaram uma jovem atriz talentosa que sabia como jogar com seus pontos fortes e manter uma presença marcante na tela.
Esse também é o caso em Longlegs. Como a socialmente desajeitada, mas moralmente íntegra Agente Harker, Monroe sabe como tirar o máximo de pequenos detalhes e explorar as peculiaridades dessa personagem telecinética sem deixar que essas peculiaridades a definam totalmente. É uma personagem intrigante que faz você querer aprender tanto sobre quem ela é quanto entender o que está acontecendo com esse assassino misterioso.
Mas, quando chegamos ao vilão titular, interpretado por ninguém menos que Nicolas Cage, Perkins arrisca em trazer o ator “solto” para interpretar um tremendo maluco. Acredito que essa escolha seja bastante divisiva, mas particularmente, para quem vos escreve, prefiro a ousadia de um Cage sem coleiras do que fazer o que pedir uma repetição da performance dele em “Pig”.
Cage é alguém que consegue canalizar personagens perturbadoramente insanos, e sua escolha de interpretar esse papel de maneira exagerada tem o efeito pretendido de parecer tanto inquietante quanto cativante. O ator vencedor do Oscar se destaca em um filme tão contido como este.
Dito isso, Cage está talvez 15% mais exagerado do que o necessário. Quando ele canta desafinado e faz caretas em sua maquiagem grotesca, é fácil entender por que alguns espectadores podem querer rir em vez de se encolher de medo ao vê-lo. É uma performance exagerada — intencionalmente, mas que às vezes não parece ser a mais adequada para o que o filme estava buscando.
Adicione as revelações sobrenaturais e você obtém um filme que não se perde totalmente, mas que perde seu fator de impacto. Diferente de “A Bruxa de Blair”, Longlegs não consegue manter o mistério por toda a jornada. Quando sente a necessidade de revelar suas cartas, você acaba desejando que tivesse permanecido mais próximo de “Zodíaco”. O mundo real já é assustador o suficiente. O terror do desconhecido carrega mais peso. Não é necessariamente preciso trazer o diabo para a história.
O hype matou Longlegs?
É fácil entender por que Longlegs está fazendo tanto sucesso nas bilheterias. É um filme tenso e habilidoso, com um olhar apurado para atmosfera, tom e tensão perturbadora. Mas, apesar de tudo o que o filme consegue ao preparar o cenário, Longlegs não consegue evitar de ficar aquém das expectativas. Ainda assim, embora não alcance o mesmo nível de suas influências como “O Silêncio dos Inocentes” ou “A Cura”, ele prova que Perkins continuará a fazer seu nome de forma duradoura e perturbadora no sempre temível mundo do terror cinematográfico.
Leia outras críticas:
Sou a Gabriella Barbosa Rocha, gostei muito do seu artigo
tem muito conteúdo de valor, parabéns nota 10.