Kraven, o Caçador, o mais novo – e o último – filme do Sony’s Spider-Man Universe (também conhecido como Sonyverse), chega com a promessa de mostrar ao público um vilão inédito e cheio de potencial. No entanto, ao tentar se encaixar no universo dos anti-heróis, o filme acaba se perdendo um pouco em sua própria proposta. Em vez de uma caça épica, temos uma história que se enrola entre boas intenções e escolhas questionáveis, deixando o espectador dividido entre momentos de diversão e frustração.
Aaron Taylor-Johnson, o ator que interpreta o personagem-título, se esforça para dar vida a Kraven com muita força e presença. Ele tem carisma, sem dúvida, e sua performance é até sólida, especialmente nas cenas de ação. Mas, por mais que ele seja convincente, seu Kraven sofre com um grande problema: o roteiro não sabe muito bem o que fazer com ele. O filme tenta explorar o drama psicológico da relação com o pai e o irmão, mas essas partes acabam sendo constantemente interrompidas por cenas de violência exagerada e elementos fantasiosos que não se encaixam de forma natural na trama.
O enredo começa até bem, com uma introdução interessante de oito minutos que cria a expectativa de algo grandioso. Temos Kraven, ou Sergei Kravinoff, um homem marcado por um passado difícil com seu pai, interpretado por Russell Crowe. O pai o ensina a caçar leões na África, o que, em teoria, seria uma ótima base para um vilão cheio de traumas e habilidades excepcionais. No entanto, à medida que a história vai se desenrolando, o filme vai perdendo o rumo e a promessa de uma jornada emocionante vai murchando.
O maior problema do filme é a tentativa de misturar temas sérios com cenas exageradas que não fazem sentido. O longa tenta ser uma história de origem de vilão, com uma abordagem filosófica sobre a caça e a natureza do predador. Porém, entre os flashbacks e os momentos de ação, o filme se perde em sua própria narrativa, criando uma sensação de desconexão. A troca constante entre momentos sombrios e cenas de ação caóticas deixa o ritmo irregular e difícil de acompanhar.
Quando o filme se aventura no lado mais fantástico, a confusão aumenta ainda mais. Kraven ganha poderes especiais depois de ser ferido por um leão, mas a explicação para isso é tão forçada que parece uma desculpa para adicionar mais elementos mágicos ao enredo. A personagem de Ariana DeBose, que interpreta uma feiticeira, poderia até ser interessante, mas ela acaba sendo mais uma distração, com pouco a contribuir para a história. No meio disso tudo, temos personagens como o Camaleão (Fred Hechinger), que, apesar de ser um bom ator, acaba sendo apenas mais um nome no elenco, sem trazer nada de novo ou relevante para a trama.
A direção de JC Chandor, que já demonstrou grande talento em filmes como “Até o Fim” e “O Ano Mais Violento”, tenta dar um tom mais sombrio ao filme, mas não consegue esconder a bagunça do roteiro. Visualmente, o filme tem seus momentos, especialmente nas cenas de Kraven andando pelos fiordes da Islândia, que são lindas de se ver. No entanto, a direção de fotografia e a iluminação não conseguem salvar o filme da confusão do enredo e da falta de coesão nas cenas.
O ponto alto de Kraven, o Caçador é, sem dúvida, o próprio protagonista. As cenas de ação, embora desconexas e que, por vezes, quebre o ritmo do longa, são bem feitas e mostram o potencial de Taylor-Johnson – para quem viu performance em “Trem-Bala” sabe do que estou falando. Ele realmente se entrega ao papel, entregando uma fisicalidade impressionante.
A violência é intensa, com mortes sangrentas e momentos mais aterrorizantes, que dão ao filme uma energia inesperada. Porém, é uma pena que esses momentos de ação sejam tão poucos. Quando aparecem, são divertidos, mas a falta de cenas assim acaba deixando o filme mais morno do que deveria.
O elenco de apoio também poderia ter contribuído mais. DeBose, por exemplo, com sua feiticeira sem profundidade, sendo praticamente irrelevante para a trama. O Camaleão, de Hechinger, parece estar ali apenas para preencher o espaço de um vilão dos quadrinhos, sem realmente ter um impacto no desenvolvimento da história.
E o que dizer de Russell Crowe? Como pai de Kraven, ele tem uma presença forte, mas o filme não aproveita bem essa relação. A dinâmica entre pai e filho é uma das principais apostas do roteiro, mas não há profundidade suficiente nesse relacionamento para justificar tanta atenção. Crowe acaba sendo apenas mais uma peça na história, sem causar grande impacto, apesar de seu talento.
O grande problema de Kraven, o Caçador é que ele tenta ser muitas coisas ao mesmo tempo e não consegue ser bem-sucedido em nenhuma delas. Em alguns momentos, o filme tenta ser uma reflexão sobre a caça e a natureza do predador, em outros tenta ser uma história de vingança de um anti-herói que busca seu lugar no mundo. E, em meio a tantas tentativas, o filme se perde, como um caçador que não encontra sua presa.
Kraven, o Caçador parece ser um reflexo de um universo que nunca soube exatamente para onde estava indo. Entre cenas de ação esparsas e personagens que mais confundem do que encantam, o filme se esforça para ser algo maior, mas acaba se perdendo em sua própria bagunça.
É como tentar montar um quebra-cabeça com peças de diferentes tamanhos e formas – até que algumas peças se encaixam e criam algo interessante, mas, no geral, o resultado final é desorganizado e frustrante. Talvez o maior acerto do filme tenha sido justamente a escolha do protagonista, que, por mais que não consiga salvar o projeto, entrega o máximo de si. O problema é que, como Kraven, ele caça um lugar ao sol em um filme que, no fim, nunca soube como brilhar.
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