Às vezes, um filme chega com aquele cheiro de promessa de boas risadas, como se fosse uma comédia leve, dessas que fazem você se esquecer dos problemas do dia e só relaxar. Histórias Que é Melhor Não Contar, dirigido por Cesc Gay, tinha tudo para ser esse tipo de filme. Começa com a situação clássica: uma mulher tentando esconder o amante do marido. A tensão entre desejo e medo cria o cenário perfeito para uma comédia romântica leve e cheia de risos. Mas logo, o que parecia ser um prato cheio se perde, e o filme vai deixando o gosto amargo de uma piada que não se desenvolveu.
No início, é fácil se empolgar. Os primeiros minutos até parecem promissores, com situações engraçadas e um elenco que promete entregar bons momentos. A história sobre uma mulher tentando manter o segredo de um amante é uma ótima base para aquelas situações constrangedoras que fazem você rir de nervoso, mas também refletir sobre esses personagens falhos. O problema é que, aos poucos, o filme perde ritmo e as piadas vão se dissipando. O que parecia um jogo de erros e enganos vai se transformando em uma sucessão de explicações longas, que acabam tirando a leveza da proposta.
O grande erro de Histórias Que é Melhor Não Contar é a previsibilidade. As situações, que poderiam ser frescas e cheias de surpresas, acabam se tornando repetitivas. Em vez de ver os personagens lidando com suas falhas de forma espontânea, temos o sentimento de que eles estão apenas seguindo um roteiro que já sabemos qual será. O diretor, ao tentar explorar as pequenas mentiras e os defeitos dos personagens, acaba tirando o frescor da comédia, substituindo o imprevisto pelo previsível. A piada não só se perde, mas se explica demais, como se o filme tivesse medo de deixar alguma coisa sem resposta.
A fotografia de Arnau Bataller é eficiente, mas sem grandes surpresas. Os cenários são típicos de uma comédia romântica, com luz suave e ambientes que ajudam a construir o universo dos personagens. Não há ousadia na forma como a câmera se move, tudo parece muito seguro e sem riscos. A iluminação, por exemplo, segue a fórmula que a gente já espera de filmes do gênero, mas falta aquele toque criativo que faria a trama sair da mesmice. A fotografia, assim como os personagens, acaba se acomodando na zona de conforto.
A trilha sonora, composta por Joan Miquel Oliver, acompanha os momentos de tensão e tentativa de humor, mas de forma discreta demais. As músicas são agradáveis, mas não deixam marca. Elas ajudam a criar a atmosfera necessária, mas faltam momentos de explosão emocional, algo que poderia ter dado mais vida à trama. O design de som, com o excesso de explicações sobre as emoções dos personagens, acaba tornando o filme ainda mais cansativo. Cada diálogo vira uma tentativa de esclarecer algo que, no fundo, já sabíamos desde o início.
O elenco, por outro lado, faz o que pode com o que tem em mãos. Chino Darín e Anna Castillo entregam boas performances, com personagens que são fáceis de gostar e que, em teoria, deveriam ser mais engraçados. Embora os atores estejam bem, não há espaço para que suas interpretações brilhem. As boas atuações são ofuscadas pela falta de desenvolvimento nas histórias e pela rigidez da direção.
A intenção de Gay de explorar as falhas e as mentiras que permeiam os relacionamentos é válida, mas, no fim das contas, ele acaba nos dando uma aula sobre moralidade, em vez de nos fazer rir dessas mentiras. O filme fica tentando dissecar o que há por trás de cada gesto, e isso torna tudo um pouco cansativo.
É curioso pensar que, talvez, o que poderia salvar o filme seria justamente a simplicidade. Se Histórias Que é Melhor Não Contar tivesse ficado mais leve, sem querer explicar tanto, poderia ter sido uma comédia romântica muito mais eficaz. Ao tentar explorar demais as relações e as emoções dos personagens, o filme se afunda nas próprias intenções do diretor.
Histórias Que é Melhor Não Contar é um daqueles filmes que, apesar de prometer muito, acaba não entregando o que esperamos. Comédia romântica é um gênero que depende de surpresas ou do carisma do casal protagonista. Apostando numa estrutura de segmentos, nenhum personagem tem tento o suficiente para nos apegarmos e, isoladamente, só um deles é realmente bom enquanto um conto.
E, no fim das contas, a lição que Histórias Que é Melhor Não Contar nos deixa é justamente sobre isso: a beleza da comédia está no inesperado. Quando tentamos explicar demais, acabamos perdendo o que realmente torna essas falhas interessantes. Às vezes, é melhor não contar certas histórias. Ou, pelo menos, não contá-las de forma tão previsível.
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