Nos últimos dias, entrou em debate no meio do entretenimento audiovisual brasileiro, principalmente na produção de novelas e filmes, a contratação em massa de artistas sem o devido registro profissional. O assunto voltou à tona após a revelação que Rafael Vitti, ator da Globo, não possuía o DRT, documento exigido no Brasil para atuar em novelas, séries e filmes.
O ator buscou recentemente se regularizar no Sindicato dos Artistas do Rio de Janeiro (Sated-RJ), mas seu caso escancarou um problema ainda maior: a crescente presença de influenciadores digitais em produções audiovisuais, muitas vezes sem a formação exigida.
O que é o DRT?
O DRT de ator é o registro profissional emitido pela Delegacia Regional do Trabalho (DRT) de cada estado e é assim obrigatório para atuar profissionalmente no Brasil. O documento serve então para comprovar pontos cruciais como a qualificação do artista, a legalidade para trabalhar na área e, principalmente, o talento artístico. Além disso, também simboliza que há o comprometimento em aprimorar continuamente as habilidades por parte do indivíduo.
Artistas sem DRT, porém, podem atuar de forma amadora, geralmente como figurantes ou em papéis sem falas. No caso de crianças, no entanto, o registro não é obrigatório, mas há documentos alternativos, como a Carteirinha de Artista Mirim, em São Paulo.
Ou seja, o DRT é – ou ao menos deveria ser – exigido em castings, produções profissionais, filmes, séries e novelas, garantindo assim que apenas artistas qualificados participem dessas produções, que costumam contar com grandes investimentos e disputas por papéis.
O caso Rafa Vitti
O envolvimento de Rafa Vitti no tema começou na última semana, quando grandes portais de notícia, como o Metrópoles, repercutiram o fato de que o artista nascido em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, estava correndo atrás de sua regularização. Assim, o mesmo recebeu o DRT provisório no Sindicato dos Artistas, o que lhe garante o direito de atuar livremente por um ano.
Em entrevista à Contigo!, o presidente do SATED-RJ, Hugo Gross, afirmou que o processo seguiu os trâmites normais, sem quaisquer privilégios a Rafa Vitti, independentemente de sua fama. No entanto, seu histórico profissional foi levado em consideração.
“Ele já tinha feito outros trabalhos. A gente poderia até ter negado, mas a gente tem também um bom senso. O sindicato não está aqui para proibir ninguém de trabalhar“; disse assim Hugo Gross.
Mas quem é Rafa Vitti?
Rafael Vitti ganhou destaque na televisão ao interpretar Pedro em “Malhação Sonhos”, ainda em 2014. Desde então, consolidou sua carreira em produções como “Rock Story”, “Verão 90” e “Além da Ilusão”. Além da TV, Rafa tornou-se figurinha carimbada em outras produções nacionais, como filmes e projetos teatrais. É casado com a humorista e apresentadora Tatá Werneck, com quem tem uma filha.
Filho dos atores João Vitti e Valéria Alencar, Rafa cresceu em meio às artes e compartilha então a profissão com seu irmão, Francisco Vitti. Ou seja, o fato do mesmo ainda não possuir o DRT de ator surpreendeu a mídia especializada. Recentemente, o ator de 29 anos foi um dos destaques da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo ao fazer parte do elenco do longa-metragem “O Clube das Mulheres de Negócios“.
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Influenciadores e problemas na Globo
Com o histórico profissional e a popularidade de Rafa Vitti, evidentemente ele não se trata do maior problema desta equação, mas foi o estopim para que envolvidos com o meio artístico, principalmente a mídia, voltassem novamente seus holofotes para a recente onda de influenciadores digitais em grandes obras como novelas e filmes de médio a alto orçamento.
Muito questionam assim a capacidade destes indivíduos em exercer a função de ator. Além disso, a situação abriu brechas para que fossem levantadas dúvidas em relação ao profissionalismo da Rede Globo em suas produções e a forma como trata seus funcionários, acirrando assim um debate entre a emissora e órgãos regulatórios como a Sated-RJ.
“A TV Globo é que é culpada de contratar sem registro profissional. Por quê? Porque ela não valoriza isso. Ela valoriza o número“; disparou assim Hugo Gross na entrevista à Contigo!
Além de Rafa Kalimann e Jade Picon
Nos últimos anos, a Rede Globo e outras grandes emissoras chamaram atenção por contar com a participação central de grandes figuras da internet em suas obras, principalmente em novelas.
Dentre os possíveis exemplos estão os casos das influenciadoras Rafa Kalimann e Jade Picon, ambas “ex-BBB’s” que possuem uma enorme quantidade de seguidores nas redes sociais. Muito provavelmente na busca de reverter esses números em telespectadores de suas produções, a Globo decidiu inseri-las nos elencos de suas novelas: Rafa em obras como “Família É Tudo”, de 2024, e Jade em “Travessia”, de 2022.
De fato, tais movimentações geraram grande repercussão e seguem movimentando as redes sociais, mas nem sempre da forma mais positiva possível. As atuações de diversos desses influenciadores dividem opiniões e levantam questões sobre a profissionalização destes indivíduos, inclusive especulações sobre a possível falta do DRT de ator na grande maioria dos casos.
Vale aqui uma reflexão: com a alta do cinema brasileiro devido às indicações de Fernanda Torres e o longa-metragem “Ainda Estou Aqui” ao Oscar, não chegou o momento da teledramaturgia entender que também poderá colher frutos ao focar em qualidade e não somente em números? É importante abrir portas para novos talentos e até mesmos pessoas influentes que possuem potencial ou vocação, mas dar oportunidades exclusivamente pela repercussão, seja ela qual for, não parece ser um caminho saudável para a indústria, pois escancara a falta de profissionalismo e sequer atinge o possível objetivo de alcançar a audiência das novas gerações, que em sua grande parte costumam priorizar o entretenimento de qualidade.
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