Eu nunca joguei Minecraft. Nunca. Nem por cinco minutos. Sei que existe um tal de Steve, que tem uns blocos coloridos, que de vez em quando aparece um monstro verde que explode – ou será que não? –, e que, aparentemente, é o jogo favorito de muitas crianças e youtubers. Sendo assim, fui assistir Um Filme Minecraft completamente desprovido de qualquer conhecimento prévio sobre o universo pixelado. E, caros leitores, que experiência foi essa.
Vamos começar pelo básico: o filme é uma montanha-russa de decisões questionáveis. Se você já se perguntou como seria se um grupo de roteiristas resolvesse explicar uma piada três vezes seguidas, com direito a slideshow e teste oral no final, este é o filme dos seus sonhos. Cada linha de diálogo soa como se tivesse sido escrita por alguém que acha que o público é composto exclusivamente de pessoas que acabaram de sair de um coma de dez anos e precisam ser lembradas, a cada cinco minutos, que “no Minecraft, você pode construir coisas!”. Sim, obrigado, filme. Eu não sabia.
A trama – se é que podemos chamar assim – gira em torno de Steve (Jack Black) e sua jornada para… bem, honestamente, ainda não sei direito. Tem um vilão interpretado por Jason Momoa, que parece ter sido contratado depois de uma noite de bebedeira no set de “Aquaman 2”. Ele, por algum motivo que ainda não entendi, fala como se estivesse declamando Shakespeare e passa mais tempo posando do que representando. E, entre um momento e outro, há uma química tão estranha entre ele e Jack Black que chega a ser constrangedora. Em algum momento, eu jurei que os dois iam se beijar. Seria mais interessante do que a maioria das cenas de ação, que parecem ter sido coreografadas por alguém que nunca viu um filme, mas já ouviu falar que “luta é quando as pessoas se movem rápido e toca uma música alta”.

Falando em Jack Black, o homem está em modo turbo o tempo todo. Ele canta, ele grita, ele faz caretas, ele pula, ele dança, ele faz um monólogo emocionante sobre… algo relacionado a blocos? É como assistir a um show do Tenacious D, mas sem a parte em que você pode ir embora quando cansar.
E não podemos ignorar Jennifer Coolidge, que aparece do nada, fala umas três frases desconexas – incluindo uma referência a “Legalmente Loira” que parece ter sido escrita por um bot de IA treinado em memes de 2010 – e some tão rápido que você se pergunta se aquilo realmente aconteceu ou se foi um delírio coletivo causado pelo cheiro de pipoca com manteiga rançosa. Mas, sinceramente? Foi uma das poucas coisas que me manteve acordado.
Visualmente, o filme é uma confusão. A animação tenta ser realista e estilizada ao mesmo tempo, e o resultado é uma espécie de pesadelo do vale da estranheza, onde tudo parece um pouco… errado. Os personagens têm textura de plástico derretido, os cenários são tão brilhantes que doem os olhos, e os efeitos de iluminação parecem ter sido feitos por alguém que acabou de descobrir o botão “Bloom” no Photoshop. É como se o filme tivesse sido renderizado em um computador da NASA, mas dirigido por alguém que ainda usa Windows XP.

E aí chegamos no maior problema: o filme não sabe para quem ele foi feito. As piadas são tão infantis que até crianças se constrangem, mas o ritmo é tão caótico que exige uma capacidade de atenção que só alguém sob efeito de muito café teria. Tem referências ao jogo que devem fazer os fãs hardcore gritarem de alegria, mas são entregues com a sutileza de um caminhão de tijolos. “OLHA, É O PORCO DO MINECRAFT! LEMBRA? DO JOGO? VOCÊ JOGOU O JOGO, NÉ?”. Sim, filme, eu lembro. Eu juro que lembro. Agora, por favor, pare de gritar.

No final das contas, Um Filme Minecraft é aquele tipo de experiência que só funciona se você for muito fã, um pai de uma criança ou ter feito parte da equipe de produção do longa. É um filme que não tem vergonha de ser ruim – e, de certa forma, há uma certa honestidade nisso. Ele não tenta ser profundo, não tenta ser minimamente interessante artisticamente, não tenta ser nada além de um produto descartável feito para vender ingressos e merchandising. E, nesse aspecto, ele é um sucesso retumbante.
Mas, cá entre nós, eu ainda não sei nada sobre Minecraft. E, depois desse filme, tenho ainda menos vontade de aprender.
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