Review | The Precinct é (quase) um GTA de Policiais

The Precinct é um jogo desenvolvido pela Fallen Tree Games, que tem bastante inspiração nos primeiros “Grand Theft Auto” (GTA’s) e em seu spin off “Chinatown Wars”, mas que apesar de muitos pesares, traz bastante originalidade em sua fórmula.

Premissa interessante com entrega fraca

Aqui controlamos um policial novato Nick Cordell Jr, que teve seu pai (que também policial) assassinado em um incidente. E isso traz a motivação para nosso protagonista também seguir os seus passos, então enquanto resolvemos os crimes da cidade de Averno, também buscamos por respostas em investigações.

A premissa do jogo é simples e sua apresentação é bem direta ao ponto, The Precinct tem uma pegada bem “indie” nessa fórmula, mas seu setting e sua ideia de nos fazer controlar um policial num cenário de mundo aberto mostra uma grande originalidade no meio desse gênero de jogos, já que em sua maioria controlamos personagens desajustados no mundo e geralmente eles são criminosos, mas nunca estamos do outro lado da lei.

Então todas as troupes de GTA são descontruídas por um formato mais “formal”, precisamos seguir o dia a dia diário de um policial, que consiste de ir para a delegacia de polícia e então rondar áreas especificas da cidade, seja uma ronda a pé ou uma ronda com veículos, e devo dizer que ter essa rotina no jogo foi uma surpresa e tanto pra mim, e uma bastante agradável.

Porém, em apresentação visual, The Precinct é bem fraco. Seus menus parecem placeholders e nos mostra que os desenvolvedores não deram quase nenhuma importância para esse departamento do jogo.

Sua apresentação de história em “cutscenes” também é extremamente simples, usando um estilo de apresentação que nós geralmente vemos em visual novels, onde temos apenas uma arte dos personagens para ilustrar cada um deles, e uma caixa de dialogo rolando.

Não temos nenhum jogo de câmera ou estilo de arte distinta para fazer essa parte do jogo brilhar, é simples até demais e não mantém o interesse do jogador para o que está acontecendo no enredo.

Loop de gameplay fascinante, mas sem um bom polimento

Como eu citei, o jogo apesar de ser “mundo aberto” não é totalmente livre para nós fazermos o que bem entender, precisamos escolher áreas da cidade para realizar uma ronda local, então estamos limitados a um tempo de trabalho até o dia fechar e começar um novo, nesse tempo vamos observando os locais e vamos resolver os crimes que estão ocorrendo ao redor.

Os crimes são vários e variam de assaltos, a agressão; extorsão; etc. Nós cobrimos também até delitos pequenos como multar um carro estacionado errado a pedestres jogando lixo no chão, em torno disso o jogo tem um sistema de identificação de crimes, onde o jogador vai julgar a pessoa por uma lista de crimes que ela cometeu, e escolhendo os crimes certos, o jogador vai ganhar mais pontos de experiencia, no entanto se a escolha for errada, nós perdemos experiencia por julgar o civil por um crime que ele não cometeu.

É um sistema fascinante que funciona muito bem, e que requer a atenção do jogador para a ambientação em geral. Eu nunca havia visto um sistema assim em um jogo antes, e aqui ele até que é bem robusto, esse loop de coisas para monitorar faz o jogo manter o interesse do jogador, e é até um tanto viciante.

Quando terminamos nossa patrulha, uma barra de evidências contra possíveis criminosos da nossa investigação principal é preenchida e quando o número de evidências é preenchido, o jogador então entra nas missões principais do jogo, e é assim que avançamos em sua história.

Apesar da parte de patrulhar ser muito satisfatória, quando o jogo entra nos combates, ele começa a mostrar os seus defeitos, sua jogabilidade na ação do jogo é bem mal polida, a mira é pouco funcional e confusa de guiar, acaba parecendo que estamos atirando aleatoriamente.

O estilo de mira e combate é um pouco inspirado em Hotline Miami na forma de como guiamos o ponteiro, mas a mira no controle tem pouca precisão e seu cursor se move muito rapidamente, facilitando a margem de erros em boa parte dos tiros.

O sistema de dano funciona como um típico jogo de tiro onde se levarmos dano demais, precisamos pegar um cover para regenerar o nosso sangue, e então voltar a atirar nos inimigos.

O combate corpo a corpo é igualmente desengonçado, e ocasionalmente ocorrem bugs que atrapalham o fluxo de gameplay, com direito a  IAs com comportamentos estranhos e a física não funcionando direito, acaba que fica frustrante engajar em combate.

O esquema de controle também é um pouco confuso, leva um tempo até entender onde está cada função dos menus, até trocar de arma fica um pouco confuso, mas quando pega o jeito, as coisas fluem de uma forma mais satisfatória.

Dirigir os carros também é algo que decepciona, a física e o peso dos carros são quase inexistentes e eles em maioria são tão leves que você não sente impacto nenhum quando eles batem ou quando está na estrada.

Virar a câmera dentro de um carro também é muito frustrante o que pode atrapalhar nas horas de perseguições, além disso a direção dos carros também é bem fraca e confusa em certas horas, e você provavelmente vai querer evitar fazer patrulhas com veículos.

Veículos aéreos como helicópteros de vigia também fazem parte do pacote, por sorte é bem mais fácil de pilotar em comparação aos carros, mas não temos boas atividades em relação a isso, elas consistem apenas de flagrar ou perseguir carros, mas é bem legal que o jogo também cubra esse tipo de patrulha.

The Precinct tem também habilidades, como chamar apoio de outros policiais – seja a carro ou com helicópteros, colocar espinhos nas estradas para perfurar o pneu dos carros que estamos perseguindo, e por aí vai.

Quanto mais vamos evoluindo no jogo, mais habilidades e possibilidades de suporte vamos ganhando no decorrer do jogo, além de novas armas e novas armas etc. O jogo tem uma boa progressão em geral.

Outro ponto a se falar é que o jogo utiliza algumas funções do controle de PS5, assim como em GTA V, quando estamos num carro de polícia e ligamos a sirene, o controle simula as cores delas, e o gatilho adaptável também dá uma leve travada na hora de atirar, mas é apenas isso em geral.

Trilha sonora e dublagem um tanto genéricas

A trilha sonora do jogo tem bastante a vibe de eletrônicas dos anos 80, mas sem o impacto delas, elas não casam bem com o setting do jogo que apesar de dizer que é inspirado em neo-noir, etc. Não puxa muita coisa disso, e a trilha sonora combina um pouco com algumas situações, mas em geral não casa bem.

Em parte de efeito sonoros, o jogo é bem ok, nada tão memorável, mas o jogo tem alguns problemas de mixagem de som em que se pode ouvir alguns chiados durante alguns diálogos dos personagens, e as vezes o áudio sai um pouco estourado durante suas falas.

A dublagem também é bem decepcionante, não temos um elenco tão empenhado em entregar uma boa dublagem, a do Sargento Kelly é a mais memorável de todas, mas em geral é tudo muito fraco nesse departamento.

Considerações Finais

The Precinct é um jogo que me pegou um pouco desprevenido, ele em si é apenas um GTA clássico com um twist novo, como era True Crime quando a franquia ainda existia, mas o fato de você ser um policial e fazer atividades diárias da profissão é uma boa forma de quebrar a roda.

A falta de polimento em algumas áreas e um desenvolvimento aparentemente apressado e bagunçado faz a magia dessas qualidades se perderem um pouco, infelizmente. No entanto The Precinct é um jogo que pode divertir por algumas horas livres, naquele momento em que você quer apenas jogar algo bobo e rápido ele com certeza vai ser útil.

E para quem já sonhou em jogar um GTA onde você é um policial, The Precinct também pode suprir essa necessidade, mas eu recomendo não ir jogando esperando grandes coisas do que ele tem a proporcionar.

The Precinct poderia aprender boas lições com GTA Chinatown Wars por exemplo. O jogo reconhecia suas limitações, ele usou bastante a interatividade do PSP/ Nintendo DS em seu favor, com atividades divertidas como: criar coquetéis molotvs; fazer ligação direta em carros, ou até mesmo ser um traficante de drogas! As features que Chinatown Wars tinha podia até mesmo ser implementadas em GTAs principais e enriqueceria muito a experiencia final.

Outra coisa que Chinatown Wars fazia com para dar uma volta em suas limitações era ter um estilo de arte muito forte e uma apresentação diferente e dinâmica na história. Ele pegava mais um estilo de história em quadrinhos para contar sua história, e o seu estilo de arte lembrava bastante as artes chinesas com fortes pinceis emulando o estilo tradicional do país.

The Precinct podia ter pensado mais nessas áreas de apresentação em geral, mas infelizmente é um jogo com uma experiencia mediana, que volta ou outra pode vir a divertir.

Um agradecimento a Kwalee por terem disponibilizado o jogo para review! The Precinct foi lançado no dia 12 de maio para PlayStation 5, Xbox Series e PC.

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Escritor Freelancer, tenho como paixão primária em videogames e principalmente em JRPGs, apesar de amar cultura pop em geral.