Popload Festival 2025 | Jadsa, Beraldo e Clubbers cariocas se destacam em pocket shows
Colagem: Conecta Geek

Popload Festival 2025 | Jadsa, Beraldo e Clubbers cariocas se destacam em pocket shows

Se no palco principal do Popload Festival 2025, em São Paulo, as mulheres roubaram a cena no último sábado (31), no Palco Poploadind – dedicado a artistas emergentes – a história não foi diferente. Com o objetivo de valorizar novos talentos brasileiros, o espaço manteve a música rolando mesmo nos intervalos dos shows principais.

Stefanie celebra estreia com show potente e reivindicativo

Popload Festival 2025 | Jadsa, Beraldo e Clubbers cariocas se destacam em pocket shows
Fernanda Silva/Conecta Geek

Pouco depois do meio-dia, o palco Poploading testemunhou um momento marcante: Stefanie, cria da Zona Leste de São Paulo, transformou seu set de abertura em celebração do álbum “Bunmi” – que, mesmo sendo seu primeiro disco solo, chega após décadas de resistência no rap. Apenas com um DJ e uma voz de apoio, a artista provou que não precisa de grandes estruturas para afirmar seu lugar em um cenário ainda dominado por homens. Versos como os de “Desconforto” ecoaram como manifesto: “O problema não é ser confundida como atendente/É que vocês não querem ver uma Shirley pra presidente” – cada palavra, um lembrete de que sua presença no hip-hop é, em si, um ato político.

Stefanie roubou a cena com a maturidade de quem sabe o peso deste momento. Em “Nada Pessoal” e “Plenitude”, mesclou vulnerabilidade e força sobre batidas cruas, mostrando que Bunmi não é um começo, mas a consagração de uma trajetória. Sem as participações do disco, cada rima ganhou ainda mais destaque – prova de que, mesmo em formato reduzido, sua voz não precisa de reforços. Quem chegou cedo ao festival presenciou mais que um show: viu uma artista completando o ciclo de quem sempre soube merecer o centro do palco.

Supervão faz um show sobre amores, vícios e guitarras sujas

Popload Festival 2025 | Jadsa, Beraldo e Clubbers cariocas se destacam em pocket shows
Fernanda Silva/Conecta Geek

Eu sempre conheci a Supervão de ouvir algumas faixas soltas, mas nunca com muita atenção – até aquele show, que foi minha primeira experiência ao vivo com a banda.Eles mergulharam direto em “Amores e vícios da geração nostalgia”, e de repente tudo fez sentido: as letras sobre amores desengonçados e a obsessão por referências passadas, as guitarras que oscilam entre o indie dos anos 2000 e um certo arrocho pop, tudo ganhou outra dimensão no palco. Com aquela levada que lembra Strokes, mas com uma guitarra mais suja, numa pegada Sonic Youth, como estampava a camiseta do vocalista e guitarrista, Mário Arruda – que, provavelmente deve ter ficado muito feliz em tocar no mesmo festival que a lenda Kim Gordon.

O ápice da curta apresentação veio quando Papisa apareceu para “Querendo um tempo” – sua voz delicada, quase frágil, contrastando com as guitarras densas, trouxe aquele clima de dream pop anos 1980 que a gravação já sugeria, mas ao vivo soou ainda mais emocionante. Foi ali que percebi o que tinha perdido por nunca ter me dedicado de verdade à banda antes. A nova formação, com Olimpio no baixo e Rafaela na bateria, deu um gás dançante às músicas, mostrando que a Supervão não é só nostalgia: é uma reinvenção constante, mesmo quando olha para trás. Saí do show com a certeza de que, dessa vez, eu realmente ia ouvir o disco inteiro – e com afinco.

Jadsa apresentando o melhor disco do ano ao vivo

Popload Festival 2025 | Jadsa, Beraldo e Clubbers cariocas se destacam em pocket shows
Carlos Alberto Jr/Conecta Geek

No palco secundário do Popload Festival, o Poploading, Jadsa transformou seus poucos minutos em um microcosmo do que faz “big buraco” tão especial — e para quem vos escreve, o melhor disco do ano até aqui. Em um formato enxuto, com percussão metais acompanhando a cantora, que além de tocar guitarra, fazia ela mesma a voz de apoio, com um microfone auxiliar com um pedal de voz ligado.

Com seus versos sobre dançar até o chão tremer — e a acidez onde o refrão “Big descaso / Big desdém” ecoou como um grito coletivo. A construção das músicas, que no disco soam como conversas íntimas, ganhou corpo ao vivo: os arranjos minimalistas sem as camadas densas do estúdio, com os metais cortando o ar em sincronia com sua voz, ora melódica, ora quase falada.

Certamente, junto com St. Vincent, foram meus momentos preferidos do festival todo. E não querendo desmerecer os caras do The Lemon Twigs, mas trocaria facilmente o show deles por uma apresentação com uma banda completa, tocando big buraco na íntegra e talvez alguns sons do projeto “Zelena”.

Moor Mother

Fernanda Silva/Conecta Geek

Durante a cobertura que fizemos em tempo real em nossas redes sociais, brinquei que estava difícil trabalhar porque hão havia espaço entre um show e outro. E foi durante o setlist discotecado por Moor Mother que eu fiz uma pausa e não consegui assistir sua apresentação de perto, mas ouvi de longe ela mandando um The Mars Volta do outro lado do parque!

Vera Fischer Era Clubber é brat!

b+ca/Divulgação

Depois do show da lenda Kim Gordon, que fez seu trap punk experimental para um público dividido entre adolescentes que não faziam ideia do que acabara de assistir e fãs da artista, surgiu, do outro lado, no palco menor a galera do Vera Fischer Era Clubber provou que o “brat” não é só um disco da Charli XCX — aliás, que esteve na lista dos preferidos de nossa redação ano passado — é um estado de espírito, e as Veras dominam ele com maestria.

Enquanto a britânica faz sucesso com seu pop hiperativo, as cariocas entregam uma versão tropical e debocheira do conceito, misturando pós-punk, ansiedade geracional e um humor que só quem já rachou Uber de madrugada entende. “LOLOLOVE U” foi o momento mais brat possível: aquele baixo sujo, a letra que flertava com o nonsense (“Não sei se foi amor ou se foi onda de loló”) e a plateia dividida entre rir, dançar ou ter uma crise existencial. A construção da música era simplesmente genial — um mix de batida dançante e ironia tipicamente carioca, como se Letrux e CSS tivessem feito uma colab no meio de uma noite de climão em Niterói.

Maria Beraldo me conquistou

b+ca/Divulgação

O show da Maria Beraldo no palco Poploading, do Popload, foi uma surpresa que desmontou qualquer resistência prévia. Sempre a ouvi por alto, sem motivo aparente para não me interessar mais, mas ali, com as músicas de “Colinho” ganhando vida em versões reduzidas, algo mudou. As letras, que no disco soam como confissões íntimas, no palco viraram pequenos dramas sonoros — a melodia de “Faz Assim” oscilando entre o doce e o ácido, enquanto a batida minimalista de “Ponto Final” criava um contraste perfeito com a aspereza lírica. A construção das faixas, muitas vezes baseada em loops e repetições que se desdobram como um quebra-cabeça, fez sentido de um jeito que só o ao vivo consegue entregar.

Deixando lado o teor jornalístico da cobertura, esse foi o show que mais me instigou a querer ir atrás — e, como público, saí certo de que estarei no próximo show solo dela. Mesmo num palco tão limitado, Maria Beraldo conseguiu transformar Colinho numa experiência que vai além do registro em estúdio, especialmente quando resgatou canções de “Cavala”, como “Cachorro”, e mostrou como sua música evoluiu sem perder a essência. Aquele palco minúsculo, que antes parecia um erro de produção, acabou funcionando como um convite: um espaço quase caseiro para quem queria ouvir de perto cada palavra e cada escolha instrumental. Difícil não ser conquistado.

Yago Oproprio fecha com chave de ouro

b+ca/Divulgação

Se o palco Poploading começou com rap, também terminou com rap. Outra semelhança entre Stefanie e Yago Oproprio, que encerrou as atrações do palco secundário do festival, é que, na cena, um artista ainda pode ser considerado uma promessa mesmo aos 30 anos. Esse status de nome em ascensão se confirmou: Yago foi atração mais aguardada e cantada do Poploading.

Com repertório baseado no álbum “Oproprio”, considerado por muitos o melhor disco do rap nacional em 2024, o artista conquistou até mesmo o público mais jovem – alguns remanescentes do show da sensação Laufey, como denunciavam os laços no cabelo. Embora uma atração masculina talvez não fosse a escolha mais acertada, já que, ao anoitecer, os dois palcos do Parque do Ibirapuera eram dominados por vozes femininas, Yago comandou o espaço e o público, que sabia cada verso de suas músicas.

Assim, o palco secundário, mesmo menor em estrutura e com setlists mais curtos, cumpriu seu papel: manter a música rolando e apresentar novos artistas a um público que, muitas vezes, vai ao festival apenas para ver um ou dois nomes internacionais.

Leia sobre outros sons:

Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.