Amaarae
Salome Gomis/divulgação

Crítica | Amaarae renova o pop com bagagem afrodiaspórica em ‘Black Star’

Com o pop norte-americano atravessando um período morno em que poucas obras trazem realmente algo de novo e relevante, o melhor do que tem ganhado espaço no principal mercado do mundo tem origens em outros pontos do globo. Amaarae é um símbolo disso. A artista de ascendência ganesa, radicada nos Estado Unidos lança seu terceiro álbum, “Black Star”, um mergulho nos ritmos da música afrodiaspórica, que apresenta um pop refrescante e delicioso.

Amaarae - Black Star
Divulgação

Após assumir de vez a sua veia pop no excelente “Fountain Baby”, Amaarae apresenta 13 faixas que celebram as suas raízes culturais africanas e fazem uma viagem pelos desdobramentos da dance music e da música eletrônica negra na América do Norte e do Sul, mais especificamente no Brasil, através do funk. O resultado é um pop que ao mesmo tempo é altamente acessível, mas nunca deixa de surpreender.

Desde a abertura com “Stuck UP”, Amaarae nos transporta para um ambiente norturno, esfumaçado, regado a muitas sensualidade, drogas e ritmo. Aqui a cantora se entrega ao hedonismo das pistas de dança, mas sem perder um importante cunho político: a celebração da sua identidade ganesa e da cultura negra africana e pan-americana. Não atoa a capa do disco é a bandeira de Gana com a artista no centro, ocupando o lugar da estrela negra.

“Ms60”, funciona como uma boa síntese da obra com uma mistura de ritmos frenética e o impacto dos versos finais recitados por ninguém menos do que Naomi Campbell: “Me chamam de vadia, de vilã, de diva polêmica, não: eu sou a estrela negra”.

“Kiss Me Thru The Phone Pt. 2” mantém o ritmo e a fluidez com uma ótima colaboração com PinkPantheress. “B2b” é um house atmosférico temperado com um toque de latinidade, marcado por uma guitarra espanhola. “She is My Drug” é outro dos pontos mais altos da obra, com destaque para o excelente uso da interpolação de “Believe”, da Cher.

“Girlie-Pop!” tem destaque para colaboração dos brasileiros do Deekapz e Maffalda. S.M.O, o primeiro single divulgado, é uma das faixa que traz mais proeminente a presença dos ritmos ganeses. “Fineshyt”, flerta com um eletrônico mais minimalista, mantendo o clima atmosférico esbanjando sensualidade. O disco encerra em alta com a combinação intensa de elementos de “Free The Youth”.

Em “Black Star”, Amaarae dobra a aposta como artista pop e apresenta um álbum altamente instigante e dançante que celebra o legado afrodiaspórico da música eletrônica ao mesmo tempo em que mostra a artista se entegando sem pudor aos seus próprios desejos e excessos. O saldo é de um dos discos pop mais interessantes do ano e que traz uma gama de novidades bem-vindas.

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