Desde o início da década passada, Gaby Amarantos é um expoente divulgação do tecnobrega, tecnomelody e da música paraense para o restante do Brasil. Desde “Treme” (2012) a cantora vem evidenciando a vocação pop de ritmos que já são consagrado na região norte do país. Agora, a artista dobra a aposta e aumenta a voltagem em uma experiência imersiva pela música popular do norte do país em Rock Doido, seu novo álbum.
Se em “Purakê” (2021) Gaby buscava dialogar com a mpb e o pop mainstream e no relançamento de TecnoShow (2022) ela fazia o movimento contrário, resgatando o repertório da sua antiga banda, em Rock Doido a cantora e compositora excuta com maestria a difícil tarefa de transportar a atmosfera pulsante das festas de aparelhagem para o disco.

Aqui, a estrela paraense não se preocupa em formatar sua música para o pop convencional e torna-la mais palatável ao público do Sul e Sudeste. Pelo contrário. Ao longo de 22 faixas curtas que juntas somam apenas 36 minutos, o disco se desenrola de maneira intensa, frenética, sem intervalos e com transições entre faixas que garantem uma fluidez impecável e fazem o ouvinte realmente se sentir em meio a uma festa na periferia de Belém.
A produção caprichada da própria artista em parceria com o MGZD, trio formado pelos músicos Baka, Dedé Santaklaus e Cido garante que a cada minuto o álbum apresente surpresas deliciosas, altamente dançantes e uma mistura de ritmos . desde a abertura com “Essa Noite Eu Vou Pro Rock” que se transforma na divertida “Arrume-se Comigo” , seguindo para “Short Beira Cu”, Rock Doido já inicia em alta e não perde o fôlego.
Outro destaque da obra é o seu olhar para a cultura do Norte a partir do seu aspecto coletivo. Algo que fica evidente no excelente vídeo em plano sequência de 22 minutos, dirigido por Guilherme Takshy, Naré e a própria Gaby, que é repleto de referências, homenagens e resume toda a essência do álbum.
No disco em si, esse caráter coletivo também está presente em parcerias como nomes como Viviane Batidão que aparece em “Te Amo Fudido”, Lauana Prado que participa da anti-sofrência de “Não Vou Chorar”. A Gang Do Eletro aparece em “Tumbalatum”, versão da canção infantil “Tumbalacatumba”, e MC Dourado está presente em “Cerveja Voadora”.
Uma tradição muito presente na música pop do Norte e Nordeste, as versões abrasileiradas de músicas internacionais também estão registradas em Rock Doido. A irreverente “Foguinho” é uma versão do hit “Somebody That I Used to Know”, do belga Gotye e aqui funciona como uma curiosa reparação histórica já que o músico foi processado por utilizar “Seville”, composição do brasileiro Luiz Bonfá.

O álbum se mantém divertido, empolgante e genuinamente pop até o fim, passando por momentos divertidos, com toques cômicos como “Bonito Feio” e “Carregador de a Aparelhagem”, e se encaminha para o final desacelerando e entrando em um tom mais celebratório, como é o caso de “Rock Doido é o Meu Lugar” e “Deixa”.
Gaby Amarantos faz de Rock Doido uma grande homenagem e exaltação da música paraense, fazendo o tecnobrega, o tecnomelody e outros ritmos proeminentes na região Norte brilharem sem se curvarem as convenções mercadológicas. Aqui, a artista une o que há de mais popular com o que há de mais vanguardista e dá forma a uma obra prima brasileira.
Leia também:
Deixe uma resposta