Na última semana, o Twenty One Pilots lançou Breach”, seu oitavo álbum de estúdio. O disco traz temáticas já corriqueiras em trabalhos anteriores da dupla onde temas envolvendo a saúde mental são uma constante, em uma síntese musical característica, que já pode ser considerada parte intrínseca do duo americano.
Conhecido por misturar gêneros musicais, a dupla consegue com isso agradar fãs de diversas vertentes – algo cada vez mais raro em se tratando de artistas ligados ao rock .
Fazendo da música um escape para os problemas de saúde mental
O disco mostra sua força logo na abertura. “City Walls”, é um rock alternativo com pitadas eletrônicas, marcadas por uma simples linha de baixo distorcido. No entanto, essa estrutura é logo alterada quando um reggae entra na mistura e os vocais das estrofes entram em ritmo de rap. Na letra, temas como isolamento, busca por identidade no mundo e escape para a mente em meio aos problemas dão a tônica.
O videoclipe da faixa (acima), segue uma narrativa já construída em trabalhos anteriores. Há elementos importantes como a frase “I am Torchbearer”, em uma pegada similar a “I am Clancy”, frase que prediz o início do videoclipe de “Overcompensate“, que inicia o álbum anterior, “Clancy”. Analisando todos os elementos, é possível deduzir que Torchbearer seria o personagem interpretado nos clipes por Josh Dun, o baterista. Por sua vez, ele sempre ajuda Clancy, interpretado por Tyler, em sua luta contra ansiedades, medos, inseguranças e problemas relacionados ao campo mental.
Esta história vem desde o álbum “Blurryface”, e termina agora. Na criação do universo desses álbuns, a dupla criou conceitos e personagens para representar medos, inseguranças, ansiedades e outros problemas que enfrentavam. Blurryface, por exemplo, é o personagem central que controla DEMA, lugar que estaria apenas na mente de Tyler, o vocalista. Um lugar que o subjugava, dentre sofrimentos e lutas, ao enfrentar obstáculos e situações difíceis na vida.
Mais do que um mundo distópico, pode-se dizer que o DEMA exprime como a mente das pessoas pode afetá-las e dificultar o processo de crescimento, amadurecimento e evolução.
Composição experimental, agressiva e catártica
“Breach” tem um bom número de destaques, seja para o fã de longa data quanto o casual. “The Contract”, o primeiro single, mergulha no nu metal, hip-hop e hyperpop. Com uma carga profunda, sincera e de desabafo, a música volta ao estilo emo carregada de batidas fortes, melodia catchy e vocais em destaque..
“Drum Show”, o segundo single, também merece uma audição mais atenta. Em uma clara homenagem ao baterista, trata-se de uma música sensível, profunda e honesta sobre fobia social, medo de mudanças, angústia e crescimento pessoal.
Crua e sincera, a letra é praticamente uma carta aberta, ao discorrer sobre os desafios de se viver em sociedade quando se é uma pessoa introspectiva e ansiosa. Aqui é o rock alternativo quem dá as caras, na primeira vez em que Dun canta em uma faixa do duo.
“Cottonwood” é outra faixa de grande força. Entre piano e bateria, o ritmo singelo se junta à melodia nostálgica em uma composição melancólica e clima retrô.
Todavia, nem tudo são acertos. “Downstairs”, traz uma sonoridade no mínimo confusa. A princípio, parece que há muito a dizer, mas sem um som que encaixe ao certo. Ainda assim é interessante vê-los tentando novos climas e buscando sair de seu lugar de conforto.

Breach: Equilíbrio entre inovação e lugar seguro
Breach mostra que, mesmo após mais de uma década de estrada, os Twenty One Pilots ainda têm algumas cartas na manga. Um exemplo é “Robot Voices”. Dançante, explosiva, relaxante e hiperativa, com um groove envolvente ela soa diferente de tudo que os dois já produziram até aqui..
“One Way”, carregada de reggae, cria uma ambientação única. A letra toca novamente na temática da pressão da indústria da música, assunto já abordado anteriormente por eles.
Para os admiradores mais fiéis, Joseph e Dun colocaram alguns easter eggs no disco. Um exemplo está em “Center Mass” onde ouvimos a fala “girl, i dont really think you should take that”, retirada de áudios de um show em que uma fã roubou um bumbo personalizado do duo.
Intentions, que finaliza o álbum, traz uma referência marcante e importante de se destacar. Com os “ooh’s”ao reverso e o instrumental de “Truce”, temos um retorno ao terceiro álbum de estúdio, “Vessel”.
A conclusão a se tirar é a de que “Blurryface” (2015) deu início a uma história que se desenvolveu em “Trench” (2018), “Clancy” (2024) e agora chega ao fim. Esse senso de unidade é confirmado pela presença na produção de dois nomes velhos conhecidos: Paul Meany e Mike Elizondo. O primeiro ajudou a dar vida aos últimos quatro trabalhos de estúdio de Tyler e Josh. O segundo produziu os hits “Heathens”e “Stressed Out”. Com esse capítulo da carreira encerrado, resta saber para onde os Twenty One Pilots irão daqui para frente.
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