No longa O Último Episódio, o diretor Maurílio Martins – integrante da produtora Filmes de Plástico – revisita lembranças de infância no bairro de Contagem, em Minas Gerais, com um olhar afetuoso sobre o fim dos anos 80 e início dos 90. A produção, que marca seu primeiro filme solo, mergulha na memória de uma geração analógica e se conecta tanto a quem viveu o período quanto a quem o descobre pela primeira vez.
Em entrevista ao Conecta Geek, o diretor falou sobre o processo de reconstruir um tempo que muitos da equipe não viveram e sobre como o cinema pode unir vozes de diferentes idades em torno de um mesmo sentimento. Martins também comentou o desejo da produtora de transitar entre gêneros populares, como a comédia romântica e o filme familiar, sempre a partir de um olhar autoral e regional.
Eu tentava contaminar as pessoas com a minha paixão. Mostrava fotos, referências, lembranças… e, no fim, todo mundo queria descobrir aquele tempo comigo, conta o diretor.
Trabalhar com gerações diferentes

Conecta Geek: Como foi trabalhar com uma equipe formada por pessoas de gerações tão distintas e transformar isso em algo coeso na tela?
Maurílio Martins: Eu acho essa uma pergunta maravilhosa, porque poucas pessoas param pra pensar nisso. A equipe era diversa em idade, então foi preciso um trabalho prévio de entendimento. No caso de O Último Episódio, tudo partia das minhas memórias — eu tinha 13 anos naquela época —, então eu funcionava meio como um guia, um fio condutor para as pessoas mais jovens.
Segundo o diretor, o processo foi marcado por troca e curiosidade. “Acho que minha paixão contaminava. Eu mostrava minhas fotos, referências, e as pessoas mais novas queriam entender, pesquisar, ver filmes, ler coisas. Tinha esse processo da descoberta, e isso tornava tudo muito vivo.”
Um exemplo citado por Martins é o cartaz do longa:
O cartaz foi a última peça feita para o filme e ele foi feito por um garoto de 25 anos, que não viveu nada daquilo, mas que trouxe uma visão artística incrível. Essa união de olhares é a magia do cinema.

Entre o popular e o autoral
Conecta Geek: A Filmes de Plástico vem experimentando novos gêneros, como a comédia romântica [“O Dia Que Te Conheci”]e agora um filme familiar. Como é pensar em obras mais acessíveis sem perder a identidade autoral?
Maurílio Martins: A gente tem uma máxima na produtora: primeiro fazemos os filmes que queremos ver. A gente vem de uma cinefilia muito grande, mas também fomos educados por Sessão da Tarde, Trapalhões, Hermes e Renato… produtos que, até pouco tempo atrás, não eram tratados como algo sério, e hoje são.
O diretor explica que O Último Episódio nasce desse desejo de dialogar com o público sem abrir mão da autenticidade:
“Era natural que, em algum momento, a gente se enveredasse por filmes de maior comunicação. O gênero de amadurecimento sempre me encantou – Conta Comigo, Anos Incríveis, Meu Primeiro Amor –, e eu queria fazer algo assim, mas do nosso jeito, com o selo Filmes de Plástico.”
Nostalgia com os pés no chão

Embora o filme desperte lembranças de uma era pré-internet, Martins reforça que a nostalgia nunca foi o ponto de chegada, mas o caminho para falar sobre afetos e mudanças. “Eu queria que o público se reconhecesse, mas também olhasse para o tempo presente. As crianças do filme são protagonistas, mas quem se vê ali, muitas vezes, são os adultos que viveram algo parecido.”
Com O Último Episódio, Martins reafirma o compromisso do coletivo Filmes de Plástico com um cinema mineiro, popular e sensível – capaz de fazer rir, lembrar e refletir.
Acho fascinante o cinema conseguir unir tantas vozes e pensamentos diferentes em prol de uma coisa só: o filme.
O Último Episódio estreia nesta quinta-feira (9) nos cinemas.
Leia outras entrevistas:
- Criadores de Tibia se surpreendem com fama do jogo no Brasil: ‘não é muito conhecido na Alemanha’
- Entrevista | Stefanie fala sobre Bunmi: ‘Quis basear esse disco em situações que até o momento eu ainda não tinha passado’
- Entrevista | Da reclusão pandêmica ao som de Bacuri, o Boogarins fala sobre o processo criativo de seu novo disco
Deixe uma resposta