Preview | A.I.L.A. – Quando a IA descobre seus medos

A.I.L.A. é o mais recente projeto da Pulsatrix Studios, a mesma equipe por trás de “Fobia – St. Dinfna Hotel”, e traz uma proposta ousada dentro do terror psicológico.  A demo, enviada ao Conecta Geek pela própria desenvolvedora, mostra de forma bem concreta que o estúdio brasileiro está criando, um horror em primeira pessoa que aborda Inteligência Artificial (IA).

Aqui, assumimos o papel de Samuel, um beta tester de um sistema de IA projetado para criar experiências de medo sob encomenda que leva em conta as reações pessoais de cada pessoa. É uma premissa que flerta entre o medo digital e do medo humano. Na demo já podemos ter um gostinho disso.

Imagem capturada por Vinicius Mesquita

Tensão que nasce do silêncio

A primeira coisa que se destaca em A.I.L.A. é o ritmo. A demo não se apressa em causar medo. Ela opta por criar desconforto aos poucos, sons distantes e aquele silêncio ensurdecedor. Você acorda em um laboratório isolado, rodeado por câmeras, cabos e uma sensação de incerteza. É exatamente essa sensação de mão atadas que já mostra como vai ser dali pra frente.

O foco é na exploração e na solução de enigmas, em vez de combates ou perseguições. Portas fechadas, terminais criptografados e charadas sutis intensificam a impressão de estar sendo observado o tempo todo, envolvido em um experimento que nunca esteve sob seu controle.

Essa estratégia proporciona um tipo de terror que não depende de sustos inesperados, mas sim da tensão. No entanto, a falta de indicações em algumas áreas pode travar o jogador em certos momentos. Fica claro que alguns detalhes precisam de lapidação. A demonstração, que dura cerca de 30 minutos, termina no seu auge, deixando aquela sensação de “quero mais”.

Imagem capturada por Vinicius Mesquita

O medo tem textura

Visualmente, A.I.L.A. é impressionante. Desenvolvido na Unreal Engine 5, o jogo utiliza luz e sombra de maneira inteligente, transformando cada corredor em um ambiente tenebroso. O brilho frio dos metais, o mofo nas paredes e o reflexo úmido das poças criam uma atmosfera quase claustrofóbica. A direção de arte investe no minimalismo e no desconforto, elementos que se alinham perfeitamente ao tom da narrativa.

Entre tantos acertos, o grande destaque mesmo é o som. O design de áudio é o que realmente provoca medo no jogador. Ambientes sonoros, onde ecos distantes incomodam e o silêncio se entrelaçam, parecem reagir a cada movimento seu. LOgo, o uso de fones de ouvido é mais do que recomendado, pois é aí que o jogo realmente mostra todo seu potencial. Cada ruído parece responder à sua presença, como se o sistema estivesse avaliando seus medos medos a todo momento.

A ambientação mistura elementos de ficção científica e decadência industrial, gerando um contraste quase único entre o tecnológico e o visceral. É um mundo que aparenta ser frio e impessoal, porém, ao mesmo tempo, é profundamente humano – exatamente porque a IA conhece mais sobre você do que seria esperado.

Imagem capturada por Vinicius Mesquita

Performance e parte técnica da demo de A.I.L.A.

Quanto à performance, a demo roda de forma estável na maior parte do tempo. Apesar de usar a UE5 não houve engasgos ou travadas. O Lumen, junto com as opções de iluminação da Unreal Engine 5, entregam um realismo impressionante, mas claro que a custo de desempenho.

Mesmo assim, a atmosfera continua a mesma. A.I.L.A. evita exagerar nos efeitos e prefere usar o visual como ferramenta narrativa. Essa escolha aprofunda a imersão e evidencia que a Pulsatrix entende que o terror demanda coerência e ritmo, não efeitos e particulas em excesso. Se permanecer assim até o lançamento, o jogo pode facilmente se destacar entre os indies com mais destaque do gênero.

Um medo que observa você de volta

Apesar de uma demo curta, A.I.L.A. atua como uma pesquisa sobre o medo. A Pulsatrix demonstra estar no controle quando se trata de jogos de terror. A desenvolvedora entende quando é preciso silenciar ou permitir que o jogador reflita. Acima de tudo, ela sabe quando o silêncio deve ser mais impactante do que qualquer susto.

Se Fobia demonstrou a capacidade técnica do estúdio, A.I.L.A. evidencia sua evolução na narrativa. É um terror que te observa enquanto você joga — e, de alguma forma, faz você se observar também. E se essa demo for um indicativo do que está por vir, a Pulsatrix pode estar a caminho de revolucionar o gênero horror psicológico na cena indie brasileira.

Leia também: