O Prime Video lançou a série Tremembé, com a direção de Vera Egito, que apresenta uma trama baseada em criminosos que ganharam notoriedade no Brasil por crimes que causaram grande comoção pública.
De um lado da narrativa estão Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga e Anna Carolina Jatobá; do outro, Christian e Daniel Cravinhos, Alexandre Nardoni e Roger Abdelmassih. A produção também traz à tona outros personagens que tiveram alguma convivência e interação com esses nomes dentro do sistema prisional, como Sandrão, Terremoto ,Duda e Gal.
A série surgiu com a promessa de explorar, de forma cinematográfica e inspirada em relatos reais, as relações entre os detentos, os bastidores da penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo, e os impactos psicológicos e sociais desses crimes que marcaram o país.
O Conecta Geek relembra então as histórias reais por trás desses criminosos, que se tornaram personagens na série do Prime Video, além de passar pela versão de alguns dos envolvidos nos crimes.
ALERTA DE GATILHO: O material deste especial contém relatos de crimes hediondos e pode ser sensível para alguns leitores.
Suzane von Richthofen e Irmãos Cravinhos
Suzane von Richthofen, juntamente com o namorado Daniel Cravinhos e o irmão dele, Christian Cravinhos, protagonizou um dos crimes mais comentados do país. No dia 31 de outubro de 2002, o trio assassinou os pais de Suzane, Manfred e Marísia von Richthofen, em São Paulo.
Nascida em 1983, Suzane era descendente de uma tradicional família alemã de classe média alta. O pai era engenheiro de uma estatal paulista e a mãe, médica psiquiatra. Ela teve uma infância confortável, recebeu boa educação e, na época do crime, cursava Direito na PUC-SP.

O relacionamento entre Suzane e Daniel começou sem oposição dos pais. No entanto, com o tempo, Daniel passou a demonstrar comportamento obsessivo e a influenciar Suzane no uso de drogas. Diante disso, o casal Von Richthofen proibiu o namoro, o que gerou atritos entre Suzane e a família.
As investigações apontaram Suzane como a mentora do crime. Na noite do assassinato, ela levou Daniel e Christian até o quarto dos pais, onde os irmãos Cravinhos golpearam o casal com barras de ferro. Enquanto o crime era cometido, Suzane permaneceu na biblioteca da casa. Depois, o trio tentou forjar uma cena de latrocínio (roubo seguido de morte) para despistar a polícia.

Elize Matsunaga
Elize Matsunaga assassinou e esquartejou o marido, o empresário Marcos Kitano Matsunaga, em 19 de maio de 2012, no apartamento do casal, em São Paulo. Partes do corpo foram colocadas em malas e abandonadas em estradas na região metropolitana da capital.
Ex-enfermeira, Elize oferecia serviços de acompanhante. Conheceu Marcos em 2004, quando ele ainda era casado. Os encontros continuaram até o divórcio dele, em 2009, ano em que os dois se casaram. Até 2010, o relacionamento era estável. A partir daí, Elize passou a suspeitar de traição do marido.

A mulher contratou um detetive particular, que confirmou as suspeitas. Ao confrontar Marcos, ele negou e tentou enfrentá-la. Arma em punho, Elize disparou um tiro contra o marido. Para ocultar o crime, esquartejou o corpo, procedimento que, segundo investigadores, pode ter sido facilitado pelo conhecimento técnico de enfermagem da acusada.
Apesar da brutalidade do crime, Elize recebeu apoio de parte da opinião pública, que apontou Marcos como marido agressivo e viu na ré uma mulher que se defendeu do marido.
Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá
Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram condenados pelo homicídio triplamente qualificado de Isabella Nardoni, de 5 anos, filha de Alexandre e enteada de Anna. O crime ocorreu em 29 de março de 2008, no apartamento do casal, no sexto andar de um edifício na Zona Norte de São Paulo.

A menina foi jogada da janela após sofrer agressões no interior do imóvel, conforme apontaram marcas de violência e a cronologia dos fatos investigados pela polícia. O Tribunal do Júri impôs a Alexandre pena de 30 anos de prisão e a Anna, 26 anos e 8 meses. O julgamento, transmitido ao vivo, mobilizou o país e gerou grande comoção pública
Roger Abdelmassih
Roger Abdelmassih, ex-médico formado pela Unicamp e especialista em urologia e reprodução assistida, foi condenado a 278 anos de prisão pelo estupro de 37 pacientes. Os crimes ocorreram entre 1995 e 2008 em sua clínica de fertilização in vitro, referência no setor e frequentada por celebridades.

Abdelmassih abusava das vítimas sob efeito de sedação durante os procedimentos. As primeiras denúncias surgiram em 2009, desencadeando investigações. Condenado em 2010, o médico ficou foragido por três anos até ser capturado em 2014.
Sandrão
Sandra Regina Ruiz, retratada como “Sandrão” na série documental e apontada como ex-namorada de Elize Matsunaga e Suzane von Richthofen, cumpre pena de 27 anos de prisão pelo sequestro e assassinato de um adolescente de 15 anos.

O crime ocorreu em outubro de 2003. Sandra agiu com três cúmplices: mesmo após o pagamento do resgate, a vítima foi executada. Na penitenciária, sua trajetória foi marcada por atos de violência, o que adiou benefícios como progressão de regime.
Terremoto
Terremoto, um assassino de aluguel profissional, foi detido após acumular mais de 40 homicídios confirmados, segundo o livro Ulisses, do autor que o descreve como um serial killer em ascensão.

Altamente remunerado por cada execução encomendada com valores altíssimos, ele transformou o ofício em vício. Dentro da penitenciária de segurança máxima onde cumpre pena, destaca-se pela brutalidade extrema em confrontos com detentos e pela presença física imponente, que intimida tanto presos quanto agentes penitenciários.
Gal e Duda
Na série Tremembé, Gal e Duda aparecem brevemente na série. Os nomes são criações ficcionais para o desenvolvimento dos personagens, mas o livro de Ullisses Campbell, autor e roteirista da produção, revela as origens reais.

Gal é inspirada em Tieta do Agreste, figura baseada em um crime real: condenada por matar a própria mãe, que a expulsou de casa a pauladas por rejeitar a orientação sexual do filho e bani-lo da cidade. O trauma molda o perfil frio e vingativo da personagem na tela.
Já Duda tem como contraparte Ricardo de Freitas Nascimento, preso aos 26 anos por assalto à mão armada e transferido para Tremembé. Na série, o personagem vive um romance com Cristian Cravinhos, relação que explora tensões afetivas e poder dentro do sistema prisional.
Ficção vs realidade em Tremembé
A série de outubro de 2025 baseia-se nos livros do jornalista e escritor brasileiro Ullisses Campbell, especializado em crimes reais. Suas obras, como “Suzane: Assassina e Manipuladora”, detalham pesquisas e entrevistas com condenados, revelando aspectos de suas vidas pessoais que culminaram nos delitos.
Como produção dramatúrgica, a adaptação incorpora elementos fictícios para intensificar a narrativa, como diálogos, cenas e vivências inexistentes na realidade:
- O triângulo amoroso entre Suzane, Elize Matsunaga e Sandrão é retratado de forma alterada;
- O encontro entre Suzane e Elize não ocorreu como narrado;
- Nomes como Duda e Celina são fictícios, alterados para proteção ou dramaticidade;
- A cronologia dos fatos foi reorganizada para fins narrativos.

Mas o que dizem os criminosos?
A série também reacende controvérsias baseadas em relatos não totalmente consensuais. Um episódio destaca o suposto relacionamento homoafetivo de Cristian Cravinhos com o detento Duda, cujo nome real é Ricardo de Freitas Nascimento na Penitenciária de Tremembé.
Campbell, que obteve confirmação e provas diretamente de Duda em 2016, descreve o envolvimento como intenso, incluindo um episódio polêmico de Cravinhos usando lingerie feminina. Contudo, Cravinhos nega veementemente o romance, classificando-o como “inverdade” e expressando irritação com a exposição, que viralizou nas redes após a estreia.
Outra história não confirmada, dramatizada na trama, envolve a denúncia de assédio sexual feita por Suzane em 2009 contra o promotor Eliseu José Berardo Gonçalves, de Ribeirão Preto (SP). Suzane alegou que ele se apaixonou por ela durante investigações de ameaças na prisão, levando-a ao gabinete para conversas íntimas, com música romântica e pedido de beijo.
O caso resultou em suspensão de 22 dias para o promotor, mas ele nega todas as acusações, afirmando que as provas eram falsas e testemunhas mentiram, e que as interações foram profissionais. O episódio contribuiu para a transferência de Suzane a Tremembé, mas permanece sem comprovação judicial plena, alimentando debates sobre manipulação e ética no sistema prisional.
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