Ludmilla em Fragmentos
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Crítica | Ludmilla aposta no R&B e entrega em ‘Fragmentos’ um álbum maduro e consistente

Depois de conquistar território no pagode e se consolidar como um grande nome atual do gênero, Ludmilla tem um novo e ambicioso objetivo: popularizar o R&B no Brasil. Apesar de o gênero já ter uma longa tradição na música brasileira, há muito tempo ele perdeu força no mainstream e chega até a ser frequentemente confundido com MPB, rap ou outras vertentes. Fragmentos, novo álbum da cantora carioca, chega na tentativa de mudar esse cenário.

Fragmentos capa
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Ao longo de 15 faixas, a artista realoca canções que poderiam perfeitamente caber em mais um volume do “Numanice”, para o r&b. Para isso, ela se baseia em referências internacionais, como SZA, seguindo a risca os moldes contemporâneos do gênero, mas também vai atrás do legado nacional, trazendo ecos de nomes Fanzine, Sampa Crew e até mesmo um flerte com o funk melody, o funk contemporâneo, o hip hop e o trap.

O resultado é o disco mais maduro de Ludmilla até aqui. A cantora se mostra confortável e habilidosa no r&b, e se destaca pelo aprimoramento dos vocais, que estão em sua melhor forma, ganhando peso e técnica com o tempo e as experiência dos anos de carreira, esbanjando variações entre agudos e graves, melismas e diferentes tons de interpretação.

O que faltou de coesão e empolgação em “Vilã” (2023), aparece em Fragmentos, mesmo que ele não se distancie tanto assim do que a artista vem fazendo nos últimos anos. O que se sobressai aqui é que, no geral, são canções cativantes que seguem a cartilha do pop, mas não deixam de ressoarem a identidade da artista.

O álbum abre em alta com “Whiskey Com Água de Choro”, uma balada sofrida que é um dos pontos altos e potenciais hits da obra. Em seguida vem “Cheiro de Despedida”, navega pelas ondas do trap em um bom dueto com Veigh que ilustra uma discussão de casal e o declínio de um relacionamento. “Falta Eu”, segue na mesma vibe desse início e pode soar repetitiva, mas não chega a ser cansativa. “Tudo Igual” resgata um pouco da sonoridade do r&b na década de 1990, lembrando Boys II Men.

“Paraíso”, primeira faixa a ser divulgada, é mais um ponto alto e emociona pelo seu caráter íntimo. Uma declaração de amor de Ludmilla para a esposa, Bruna Gonçalves, e uma celebração ao nascimento da filha do casal, Zuri. “Coisa de Pele” transiciona acertadamente o clima da obra do romance para a sensualidade e a partir daí o álbum segue para o seu momento mais quente.

“Cam Girl”, parceria com a estrela norte-americana Victoria Monét e o segundo single a ser lançado, ganha mais peso e soa melhor dentro do álbum. “Calling Me” é um dueto com Luísa Sonza que surpreendentemente funciona e mantém o pique do disco. “Energy” conta com as excelentes participações de Ajuliacosta e Duquesa. “Textos Longos” encerra com êxito em um hibrido entre r&b e funk contagiante.

Em Fragmentos, Ludmilla acerta ao apostar no r&b e apresenta um álbum que se beneficia da maturidade alcançada tanto por sua trajetória no funk e no pop, quanto por sua experiência no pagode. Apesar de alguns excessos e momentos que parecem estar sobrando, no todo, o disco acerta e garante uma adição deliciosa. Se isso vai ser o suficiente para romper as barreiras do mercado nacional com o gênero, isso só o tempo dirá.

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