Shows internacionais, festivais de música, feiras de entretenimento e convenções culturais atravessam um mesmo movimento econômico: cresceram em escala, visibilidade global e relevância de marca, mas também ficaram significativamente mais caros. O que antes era consumo cultural de massa passa, cada vez mais, a operar sob a lógica de produtos premium, com preços elevados, experiências hierarquizadas e acesso desigual.
O fenômeno não é exclusivo de um setor. Ele aparece em festivais como Lollapalooza e Rock in Rio, em grandes feiras de games, eventos de cultura pop e até em exposições imersivas. A lógica é semelhante: custos operacionais maiores, dependência de grandes patrocinadores, presença de marcas globais e uma aposta clara de que parte do público está disposta a pagar mais por exclusividade.

Do ponto de vista econômico, o aumento do preço por si só não explica a insatisfação de parte do público. O ponto central está no retorno percebido. Quando o ingresso sobe, o consumidor espera mais conteúdo exclusivo, melhor organização, menos tempo perdido e atrações que justifiquem o investimento financeiro e emocional.
Eventos de grande porte passaram a vender não apenas acesso, mas eficiência: filas menores, assentos privilegiados, horários antecipados e áreas restritas. Esses benefícios, no entanto, costumam estar concentrados em pacotes VIP, que custam múltiplos do ingresso padrão.
O resultado é uma segmentação clara da experiência. Quem paga mais consome conforto e tempo. Quem paga o ingresso básico consome espera.
A Comic Con Experience (CCXP), maior evento de cultura pop da América Latina, tornou-se um dos principais termômetros desse movimento. Com ingressos que chegam a centenas de reais no pacote completo e opções premium ainda mais caras, o evento frequentemente entra no debate público como símbolo da transformação do entretenimento em produto de alto valor agregado.

Para o jornalista Leonardo Augusto Sousa, supervisor de operações na Jovem Pan News, que deu uma entrevista exclusiva para a Conecta Geek a discussão passa menos pelo valor nominal e mais pela percepção de entrega.
“O público sentiu falta de grandes marcas e plataformas de streaming, além de mais organização interna. Ao mesmo tempo, a exclusividade de acesso a determinadas atrações e personagens ainda justifica o preço para uma parte do público”, afirma.
Segundo ele, eventos desse porte dependem fortemente de grandes anúncios e elencos de peso para sustentar o valor cobrado. “A presença de elencos fortes ou anúncios inéditos muda completamente a percepção de valor e o impacto do evento.”
Há um risco econômico claro nesse modelo: a perda de identidade. À medida que eventos se tornam grandes plataformas de ativação de marca, o foco se desloca do público para o patrocinador. O consumidor passa mais tempo interagindo com ações promocionais do que com conteúdo exclusivo.
No curto prazo, isso maximiza receita e reduz risco financeiro para os organizadores. No longo prazo, pode enfraquecer o engajamento e transformar eventos culturais em vitrines corporativas, com menos valor simbólico.
A pergunta que atravessa o setor é simples: até onde o público acompanha? A elasticidade da demanda existe, mesmo em mercados movidos por paixão. Quando o preço cresce mais rápido que a entrega, o consumidor começa a selecionar menos eventos, reduzir dias de participação ou migrar para experiências digitais.
O futuro dos grandes eventos culturais passa por um equilíbrio delicado: crescer sem perder identidade, monetizar sem elitizar excessivamente e lembrar que, no fim, o ativo mais valioso não é o patrocinador, é o público disposto a voltar.
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