Mesmo com o avanço da computação gráfica, muitos cineastas ainda apostam nos efeitos práticos para criar mundos críveis e impactantes. Desde maquiagem elaborada até animação em stop-motion, esses métodos conferem realismo e textura únicos, garantindo uma imersão que o CGI nem sempre consegue alcançar. Mas o que faz com que essas técnicas resistam ao tempo e continuem sendo escolhidas em pleno século XXI?
O CGI domina o cinema, mas alguns filmes preferiram os métodos mais clássicos
Nos últimos trinta anos, o CGI se tornou uma ferramenta fundamental no cinema, permitindo a criação de criaturas impossíveis, cenários colossais e efeitos visuais espetaculares. Franquias como “O Senhor dos Anéis” (2001-2003), “Avatar” (2009) e o Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) revolucionaram a indústria ao empregar computação gráfica de forma massiva. O CGI tornou-se uma espécie de padrão, com filmes de grande orçamento muitas vezes focando exclusivamente em efeitos digitais.
No entanto, nem todos os cineastas seguiram essa tendência. Muitos ainda optam por técnicas tradicionais para criar efeitos especiais impactantes. Isso ocorre porque os efeitos práticos proporcionam uma interação mais realista entre os atores e os elementos de cena, resultando em um visual mais autêntico e imersivo. Um exemplo claro é Mad Max: Estrada da Fúria (2015), de George Miller, que fez questão de minimizar o uso de CGI para garantir a visceralidade das cenas.
Com a evolução da tecnologia, o CGI se tornou uma ferramenta poderosa, mas, para muitos diretores, o uso excessivo de efeitos digitais pode resultar em uma perda de conexão emocional com o público. Efeitos práticos, por sua vez, têm uma presença física que o CGI não consegue igualar, com atores interagindo com objetos reais e criando uma sensação palpável de realismo.
Mad Max: Estrada da Fúria
Mad Max: Estrada da Fúria (2015), dirigido por George Miller, se destacou pelo uso mínimo de CGI. A produção apostou em dublês, carros modificados e explosões reais para criar sequências de ação inacreditáveis. As cenas de perseguição, que marcaram o filme como um dos mais impressionantes visualmente da década, foram realizadas com carros reais e efeitos práticos que garantiram uma dinâmica e realismo muito superiores a qualquer cena de ação gerada digitalmente. Miller priorizou o físico sobre o digital, algo que fez o filme se destacar entre outros blockbusters modernos.

O Labirinto do Fauno
O Labirinto do Fauno (2006), de Guillermo del Toro, é um dos melhores exemplos de maquiagem e efeitos práticos. As criaturas do filme, incluindo o famoso Fauno e o Homem Pálido, foram interpretadas por atores usando maquiagem e próteses detalhadas, criando uma sensação de que elas realmente existiam no universo do filme. O trabalho de efeitos práticos foi fundamental para dar um tom sombrio e realista ao filme, e ajudou a criar uma das produções mais encantadoras e visualmente marcantes da década de 2000.

Star Wars (trilogia clássica)
Star Wars: Episódio IV Uma Nova Esperança (1977), dirigido por George Lucas, foi uma revolução no uso de miniaturas e efeitos práticos. Os dois filmes seguintes da trilogia clássica – Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca (1980) e Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi (1983) – usaram miniaturas meticulosamente detalhadas e stop-motion para criar as icônicas batalhas espaciais. Embora a tecnologia de CGI estivesse em seus estágios iniciais, Lucas optou por usar efeitos tradicionais, como a famosa animação stop-motion em Episódio V, para criar os impressionantes Tauntauns e o gigantesco AT-AT. Essas escolhas não só garantiram a qualidade visual do filme, como também ajudaram a criar um legado que ainda é celebrado no cinema.

Além desses exemplos, muitos outros filmes escolheram os efeitos práticos ao invés de CGI. Em “A Coisa” (1982), de John Carpenter, a criatura alienígena foi trazida à vida através de animatrônicos incríveis e efeitos práticos, garantindo uma das criaturas mais memoráveis e aterradoras da história do cinema de terror. Outro exemplo é “O Cavaleiro das Trevas” (2008), de Christopher Nolan, que usou dublês e explosões reais para garantir cenas de ação reais e tangíveis, como a famosa perseguição de caminhão do Coringa.
Como foram feitos? miniaturas, maquiagem, stop-motion e truques de câmera
Os efeitos práticos englobam uma vasta gama de técnicas e ferramentas que os cineastas usaram ao longo das décadas. O uso de miniaturas sempre foi uma das formas mais comuns de criar efeitos visuais realistas.
No caso de “Blade Runner” (1982), Ridley Scott optou por usar modelos em miniatura para criar a gigantesca cidade futurista. As miniaturas não só garantiram a verossimilhança dos cenários como também mantiveram a textura visual que seria difícil de conseguir com CGI, que muitas vezes resulta em um visual artificial.
A maquiagem e as próteses são essenciais, especialmente em filmes de terror e ficção científica. “O Exorcista” (1973), por exemplo, usou efeitos práticos para criar as transformações demoníacas da protagonista, sem recorrer ao CGI. O uso de maquiagem pesada e próteses elaboradas garantiu um resultado mais aterrorizante e duradouro do que os efeitos digitais que poderiam ter sido usados na época.
O stop-motion também continua a ser uma técnica muito popular, especialmente em filmes que buscam um toque artesanal. “O Estranho Mundo de Jack” (1993), de Henry Selick, é um exemplo clássico, onde cada movimento dos bonecos foi filmado quadro a quadro. Mais recentemente, “Pinóquio” (2022), de Guillermo del Toro, usou essa técnica para criar um visual único e encantador que resgata a magia dos filmes de stop-motion antigos.
Por fim, os truques de câmera são essenciais para criar efeitos especiais sem o uso de CGI. “A Origem” (2010), de Christopher Nolan, é um grande exemplo disso. O filme usou cenários giratórios e ilusões óticas para criar a distorção da realidade, algo que poderia ser feito digitalmente, mas que, ao ser feito fisicamente, trouxe uma sensação muito mais palpável de imersão.
Por que esses efeitos ainda funcionam melhor que o CGI?
Apesar de todo o avanço do CGI, os efeitos práticos continuam a ter vantagens inegáveis. Primeiramente, a presença física dos efeitos práticos garante uma interação mais natural entre os atores e os cenários, tornando a performance mais orgânica. Em filmes como “Jurassic Park” (1993), onde os dinossauros animatrônicos interagem com o elenco, a presença real dos elementos no set ajuda a criar uma química mais convincente.
Além disso, os efeitos práticos geralmente envelhecem melhor do que o CGI. Isso é especialmente visível em filmes como O Labirinto do Fauno e Jurassic Park, que, apesar de sua idade, continuam a impressionar o público com a qualidade de seus efeitos práticos. O CGI, por outro lado, tende a envelhecer mal, com cenas que se tornam datadas à medida que a tecnologia avança.
Outro ponto fundamental é a autenticidade emocional. Efeitos práticos forçam os cineastas a planejar com antecedência cada detalhe das cenas. Isso resulta em uma experiência mais cuidada, onde cada movimento, cada interação, é pensada para maximizar a imersão do público. Filmes como Estrada da Fúria e O Labirinto do Fauno são exemplos de como os efeitos práticos ajudam a criar uma sensação emocional mais forte e mais imersiva.
O futuro do cinema pode voltar a valorizar os efeitos práticos?
Apesar do CGI dominar a indústria, há uma tendência crescente de revalorização dos efeitos práticos, especialmente entre diretores de renome. Christopher Nolan, em “Oppenheimer” (2023), recusou o uso de CGI para simular a explosão nuclear, preferindo usar reações químicas e iluminação real. Essa escolha foi aclamada tanto pela crítica quanto pelo público, demonstrando que os efeitos práticos ainda têm muito a oferecer.
Filmes de menor orçamento também têm adotado os efeitos práticos. “O Farol” (2019), de Robert Eggers, é um exemplo de como a iluminação natural e os cenários reais podem criar uma atmosfera imersiva, sem o uso de CGI. Em um mundo onde o digital muitas vezes domina, essas escolhas mostram que os efeitos práticos ainda têm um papel fundamental na criação de um cinema autêntico.
A busca por realismo e autenticidade é um dos grandes motores do cinema atual. Diretores como Denis Villeneuve, em “Duna: Parte Dois” (2024), sabem que, para criar um filme grandioso, é essencial equilibrar o CGI com efeitos práticos, mantendo a presença física dos elementos no set para garantir que o filme pareça genuíno e não artificial. Isso pode ser um indicativo de que, no futuro, os efeitos práticos poderão ser mais uma vez priorizados ao lado do CGI, para criar uma experiência cinematográfica mais rica e real, e mais legal também, porque da pra saber que a produção se empenhou bastante pra entregar um resultado digno de cinema (literalmente).
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