a volta dos thrillers eróticos para o cinema comercial

O ano era 1974 e O Massacre da Serra Elétrica era lançado. A década de 80 chega e, com ela, muitos thrillers e slashers que uniam o melhor do erotismo e da violência – com seus defeitos, é claro. Contudo, não demorou muito para o gênero saturar e, em poucos anos, o cinema abandonou o thriller erótico e, além disso, o erotismo como um todo.

Como isso foi acontecer?

Thrillers: da violência e erotismo aos problemas e abandono

Não tem como negar: o cinema dos anos 70 e 80 foi inesquecível. Do romance policial e ficção científica ao terror, foi um período de inovação e criação de clássicos. 

Nessa época, thrillers como Halloween e Sexta-Feira 13 estavam sendo lançados. A maioria, senão todos os filmes da época, contavam com uma trama parecida: um assassino em série estava à solta. Um grupo de jovens, geralmente adolescentes, encontravam o assassino. Com muita adrenalina, o vilão capturava um a um.

Com exceção da Final Girl, a mulher sobrevivente, personagem que, na época, indicava certo progressismo. Afinal, ela era mais resistente, esperta e capaz de colocar o assassino em uma emboscada. 

Além disso, a narrativa geral dos thrillers da época continha muito erotismo. Afinal, estamos falando de um cinema pós revolução sexual. A época do terror erótico também nos trouxe clássicos, como:

  • Dublê de Corpo, de 1982;
  • Atração Fatal, de 1987;
  • Instinto Selvagem, de 1992;
  • Scream, em 1996;
  • Segundas Intenções, de 1999.

Contudo, nem tudo são flores, como indica Vincent Jachimovski, em seu artigo no Medium:

(…) os filmes slasher se encaixam como um modelo de veiculação midiática da repressão da sexualidade, assim como reforçador de padrões e estereótipos problemáticos. Um exemplo desse fenômeno se dá em um estudo sobre os efeitos da exposição prolongada a representações de violência (Linz, Donnerstein e Penrod, 1988), no qual um grupo de indivíduos, após assistir um conjunto de filmes slasher, demonstrou baixa resposta emocional ao ser exposto à casos de violência sexual contra mulheres, além de apresentar concordância com ideias como culpabilização das vítimas e o roteiro sexual tradicional.

Durante os anos seguintes, tentativas não faltaram de ressuscitar o gênero. Scream lutou muito para alcançar a relevância mas, além do slasher ter saído de cena para que o terror psicológico pudesse brilhar, o erotismo já não era tão atrativo assim.

Uma onda de conservadorismo no cinema comercial

A  década  de  1980  é  marcada  pela  ascensão  de  governos  assumidamente  conservadores  em alguns países do Ocidente. Nos EUA, o período é marcado pela Era Reagan, que assinala um  predomínio do conservadorismo Republicano, marcado por aspectos como o discurso em torno da  reconstrução  dos  chamados  valores  tradicionais  americanos,  do  anticomunismo  exacerbado,  do  retorno de um discurso militarista (em relativo silêncio desde o fim da Guerra do Vietnã) e talvez,  da maior marca dessa ascensão conservadora, o discurso econômico neoliberal em defesa de um  estado mínimo e em  fomento de certa desregulamentação da economia.

Rodrigo Cândido da Silva em seu artigo: “As mudanças do cinema hollywoodiano nos anos 1980: produção, narrativa e o cinema Blockbuster na Era Reagan”

Os Estados Unidos é um dos países mais conservadores – em um sentido liberal – que existem. Sendo assim, é fácil entender a queda do erotismo e violência gráfica nos cinemas comerciais. Assim, o progressismo das décadas de 70 e 80 demonstrou-se nem tão progressista assim.

Afinal, as novas gerações estão se tornando cada vez mais conservadoras e, como o cinema comercial precisa vender, o investimento em filmes “family friendly” parece ter sido a melhor aposta. 

Em 2019, o jornal El País posta um artigo, escrito pela Elsa Fernández-Santos, intitulado: “O Sexo desapareceu em Hollywood”. Nele, a autora traz uma reflexão: em um mundo com fácil acesso a conteúdo adulto, por que filmes estão se tornando cada vez mais puritanos?

“O processo de progressiva infantilização que Hollywood vive, com seus estúdios concentrados quase exclusivamente no nicho familiar e as classificações cada vez mais duras para a exibição de filmes com conteúdo adulto, parecem ter condenado as telas de cinema à castidade.”

Porém, essa é uma realidade que parece ter chegado ao fim. Em poucos meses, recebemos filmes como:

  • 50 Tons de Cinza;
  • Oppenheimer;
  • Pobres Criaturas;
  • Saltburn;
  • Rivais. 

Que trazem muita sensualidade e erotismo para as telas. Será esse um sinal de que o cinema comercial está trazendo o conteúdo sexual de volta? 

A volta dos thrillers eróticos já é uma realidade no cinema comercial

A resposta curta é que, sim. E a longa, também! 

A promessa dos thrillers eróticos: Mia Goth

Nos últimos anos, novos thrillers de terror – com muito erotismo – foram lançados. E não é possível falar sobre isso sem citar a atriz Mia Goth, que atuou em Suspiria, Pearl, X – A Marca da Morte, Infinity Pool e estará no tão aguardado MaXXXine

Os filmes protagonizados por Mia são exemplos de que, não apenas o thriller erótico está de volta, como o gênero slasher também voltou às telas comerciais. 

Outros thrillers eróticos

Um outro sinal de que o gênero voltou é com a diretora Halina Rejin, que dirigiu Bodies Bodies Bodies e está por trás de Babygirl, um thriller erótico que contará com a atuação de, nada mais, nada menos, que Nicole Kidman. 

Além disso, Noite Passada em Soho, thriller de 2021, também conta com muito suspense e erotismo.

Para além dos filmes, American Horror Story lançou, em 2019, a temporada “1984”, que retoma a narrativa dos slashers dos anos 80. Do grupo de jovens com os hormônios à flor da pele ao serial killer e trilha sonora da época, todos os detalhes transformam a nona temporada em uma das melhores que a série já produziu.

Será que, após uma onda de conservadorismo no cinema comercial, teremos a sensualidade de volta às telas por um bom tempo?

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