Se você sempre achou que Hollywood era o centro do universo do entretenimento, talvez seja hora de atualizar essa visão. O cinema chinês não só se tornou um dos maiores mercados do mundo, como também está influenciando diretamente a forma como filmes são feitos – e consumidos – globalmente. Dos números impressionantes de bilheteria ao boom dos C-dramas no streaming, a China está dominando o jogo e mudando as regras à sua maneira.
Mas como um país que por tanto tempo teve um mercado audiovisual fechado e controlado pelo governo conseguiu chegar nesse nível? E mais: como as produções chinesas estão conquistando cada vez mais espaço no Ocidente? Spoiler: não foi sorte. Tem estratégia, investimento pesado e um público gigantesco que valoriza o cinema nacional.
Se você nunca parou para explorar o audiovisual chinês, essa é sua deixa. Bora entender como a China chegou até aqui, quais são os desafios desse império cinematográfico e, claro, conhecer algumas produções imperdíveis para entrar de vez nesse universo:
Do controle total ao domínio das bilheteiras
O cinema chinês tem uma história bem peculiar. Durante boa parte do século XX, ele era praticamente um braço da propaganda estatal. Filmes e séries eram produzidos com o objetivo de reforçar valores políticos e culturais, e o conceito de entretenimento como o Ocidente conhece hoje simplesmente não existia. Tudo precisava seguir uma cartilha rígida, sem muito espaço para inovação.
Isso começou a mudar nos anos 90, quando o governo percebeu que o audiovisual poderia ser um setor estratégico para impulsionar a economia – e a influência global do país. Foi aí que a China passou a investir pesado em estúdios modernos, incentivar produções locais e, aos poucos, permitir a entrada de filmes estrangeiros no mercado.
Só que tem um detalhe: diferente de outros países onde Hollywood domina as salas de cinema, na China as produções nacionais sempre foram prioridade. O resultado dessa estratégia ficou evidente em 2020, quando, pela primeira vez na história, o país ultrapassou os EUA e se tornou o maior mercado cinematográfico do mundo. E o mais impressionante? Isso aconteceu sem depender dos blockbusters americanos. Enquanto Hollywood ainda se recuperava dos impactos da pandemia, os cinemas chineses lotavam para ver produções como “The Eight Hundred” e “Jiang Ziya”, que arrecadaram fortunas.
O recado foi dado: a China consolidou um dos mercados mais fechados e, ao mesmo tempo, mais poderosos do planeta. E Hollywood, que sempre quis uma fatia desse bolo bilionário, precisa se adaptar às regras do jogo – que são definidas pelo governo chinês e mudam o tempo todo.

Números que não deixam dúvidas
Se ainda resta alguma dúvida sobre o tamanho desse império audiovisual, os números falam por si:
• Em 2023, a bilheteria total da China foi de US$ 7,4 bilhões, superando boa parte dos mercados ocidentais.
• O país tem mais de 80 mil salas de cinema, o dobro das dos EUA, garantindo que seus filmes tenham distribuição massiva.
• O maior sucesso de bilheteria chinês até hoje, “The Battle at Lake Changjin” (2021), arrecadou US$ 913 milhões, superando hits como “O Rei Leão” (2019) e “Vingadores: A Era de Ultron” (2015).
• O sci-fi “The Wandering Earth” (2019) faturou mais de US$ 700 milhões, provando que a China pode competir com Hollywood nos gêneros mais populares.
E tem mais: como a bilheteria chinesa pode determinar o sucesso ou fracasso de um filme, Hollywood começou a se adaptar ao público local. Cada vez mais vemos personagens chineses em blockbusters, cenas gravadas em Xangai e até mudanças de roteiro para evitar temas considerados sensíveis pelo governo.
O fenômeno dos C-dramas no streaming
Se o cinema chinês já impressiona, o boom dos C-dramas (dramas chineses) nas plataformas de streaming não fica atrás. Se antes os doramas coreanos dominavam o cenário asiático, agora as séries chinesas estão conquistando fãs no mundo todo, com produções que misturam romance, fantasia e wuxia (as icônicas histórias de artes marciais).
Séries como “Eternal Love” (2017) e “The Untamed” (2019)mostraram que a China sabe criar narrativas épicas, com orçamentos altíssimos e visuais incríveis. Já dramas contemporâneos como “Hidden Love” (2023) e “Love Between Fairy and Devil” (2022) bombaram na Netflix, provando que a fórmula funciona.

Um diferencial dos C-dramas? Eles costumam ser bem mais longos que os K-dramas, com 30 a 50 episódios, o que significa que os fãs passam mais tempo envolvidos com as histórias. Para quem ama maratonar, isso é um prato cheio.
Filmes e dramas chineses para entrar de vez nesse universo
Se bateu a curiosidade e você quer explorar o audiovisual chinês, aqui estão algumas recomendações imperdíveis:
Filmes
• “The Wandering Earth” (2019) – Um sci-fi épico que colocou a China no mapa dos grandes blockbusters espaciais.
• “Ne Zha” (2019) – Uma animação incrível baseada na mitologia chinesa, com visuais espetaculares.
• “The Battle at Lake Changjin” (2021) – Um filme de guerra gigantesco que quebrou recordes de bilheteria.
• “Shadow” (2018) – Uma obra-prima visual do diretor Zhang Yimou, com uma estética única e cenas de ação impecáveis.
• “Better Days” (2019) – Um drama emocionante sobre bullying e desigualdade social.

Dramas
• “The Untamed” (2019) – O fenômeno do BL asiático, misturando fantasia, wuxia e uma história inesquecível.
• “Eternal Love” (2017) – Um romance épico de fantasia que se tornou um dos C-dramas mais assistidos de todos os tempos.
• “Love Between Fairy and Devil” (2022) – Um conto de fadas com um toque dark e visuais deslumbrantes.
• “Hidden Love” (2023) – O drama queridinho da Netflix, perfeito para quem ama histórias leves e envolventes.
• “Word of Honor” (2021) – Outro sucesso do wuxia, cheio de ação e química entre os protagonistas.

A censura como obstáculo (ou estratégia?)
Claro, nem tudo são flores. A censura ainda é um dos maiores desafios para o audiovisual chinês. O governo tem um controle rigoroso sobre o que pode ou não ser exibido, proibindo temas como fantasmas, LGBTQIA+ e críticas ao Partido Comunista.
Mas, ironicamente, essa mesma censura fortaleceu o cinema chinês. Como Hollywood encontra barreiras para entrar no mercado, as produções locais acabam dominando as bilheteiras. Hoje, as maiores bilheteiras do país são de filmes chineses, enquanto os americanos precisam se contentar com uma fatia menor desse bolo.
O que vem por aí?
O que esperar do futuro do cinema chinês? Pelo visto, crescimento contínuo e mais influência global. O país está investindo cada vez mais em ficção científica, animações e estratégias para exportar suas produções – algo que os dramas coreanos e os animes japoneses já fazem muito bem.
Resumindo: a China já não é só um grande consumidor de filmes, mas também uma potência criadora de conteúdo. E se Hollywood não se adaptar, pode acabar ficando para trás.
Então, da próxima vez que pensar em entretenimento, lembre-se: o futuro pode ser muito mais asiático do que você imagina.
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