Monstro: A História de Ed Gein marca o retorno de Ryan Murphy e Ian Brennan à fórmula que consagrou a antologia, mas com um foco mais sombrio e contido. Depois do tom novelesco e um tanto exagerado da temporada dos Irmãos Menendez, a terceira leva de episódios, já disponíveis na Netflix, busca um equilíbrio entre o horror real e a herança cultural que o caso do serial killer deixou. E, nesse ponto, o resultado é inquietante.
Quem foi Ed Gein, o ‘açougueiro de Plainfield’
Antes de mergulhar na série, é essencial entender quem foi Ed Gein. Nascido em 1906, ele viveu isolado com a mãe controladora em uma fazenda em Plainfield, Wisconsin. Após a morte dela, Gein entrou em um colapso psicológico que o levou a cometer crimes brutais.
Ele assassinou duas mulheres, Mary Hogan e Bernice Worden, no entanto, quando a polícia invadiu sua casa em 1957, encontrou um verdadeiro cenário de horror: máscaras, roupas e móveis feitos com pele e ossos humanos, além de crânios usados como utensílios domésticos. Gein também confessou ter exumado corpos de cemitérios locais para usar partes das vítimas em seus macabros experimentos.
A série
Desde o primeiro capítulo, a série mostra que não está interessada apenas em reconstituir crimes. Os roteiristas querem examinar a excentricidade do fazendeiro de Plainfield que desenterrava corpos, criava artefatos com restos humanos e inspirou ícones como o Norman Bates de “Psicose” e o Leatherface de “O Massacre da Serra Elétrica”.
A narrativa se divide entre o retrato do homem e a análise de como ele acabou transformando o terror moderno. Ao evitar se repetir e buscando sempre escapar da simples exploração do grotesco a produção acertou em cheio.
Charlie Hunnam

Quem realmente segura a temporada é Charlie Hunnam, o ator principal desta temporada. Longe da imagem do motoqueiro carismático de Sons of Anarchy, o ator surge irreconhecível, com uma voz arrastada e assustadoramente infantil. Essa escolha dá um tom perturbador a performance. Não é apenas o olhar vazio de Gein que incomoda, mas o jeito como ele fala, quase como se estivesse pedindo desculpas por existir. É uma atuação minuciosa, contida e, ao mesmo tempo, aterrorizante. Hunnam transforma o silêncio em ameaça.
O astro explicou em entrevistas, que a voz de Gein foi criada como uma tentativa de agradar a mãe do personagem, em um dos aspectos mais difíceis de sua composição. A entonação é afetada, uma espécie de manifestação do desejo de aprovação de Gein por sua mãe, que, ele acreditava, deveria ser o mais feminina possível.

Estilo visual e referências
Visualmente, a série segue a assinatura de Murphy: fotografia fria, cenários claustrofóbicos e direção com toque delirante. Algumas passagens remetem aos já citados Psicose e O Massacre da Serra Elétrica, e não apenas como referência. Os diálogos e recriações de cenas icônicas, além dos elementos metalinguísticos, reforçam o legado de Gein no cinema de horror. Essa camada é certamente o grande diferencial a série para os dramas criminais tradicionais.
Ainda assim, o roteiro, muitas vezes, se perde na ambição de equilibrar fatos, ficção e análise cultural. O espectador sente o impacto visual, mas nem sempre entende a linha do tempo. Em alguns trechos, Murphy recai no armadilha de transformar o horror em um espetáculo estético, paradoxalmente bonito. São escolhas que reduzem parte do peso real da história.

No fim, Monstro: A História de Ed Gein é fascinante e incômoda na mesma medida. O trabalho de Hunnam é seu maior trunfo, e o tom mais sóbrio resgata parte do que se perdeu na temporada anterior. Não é um estudo psicológico profundo, mas também não é mera exploração. É o retrato de um homem que se tornou molde do medo americano e de como o terror nunca mais foi o mesmo depois de sua passagem pela Terra até 1984.
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