Crítica | Alien: Earth 1×5 – Um retorno que redefine a série
FX/Divulgação

Crítica | Alien: Earth 1×5 – Um retorno que redefine a série

Revisitando o passado para revelar conspirações e aprofundar personagens

Após quatro capítulos construindo uma trajetória própria, com ousadia para testar novas atmosferas e explorar a mitologia por diferentes ângulos, Alien: Earth chega ao seu quinto episódio intitulado como “No Espaço, Ninguém…”, e muda o rumo da temporada. Mais uma vez dirigido por Noah Hawley, criador da série e responsável pelo primeiro capítulo, este retorno ao passado funciona tanto como uma peça de esclarecimento quanto como um manifesto sobre o que a produção pretende ser. Ao contrário do que parecia inicialmente, não se trata de um movimento de estagnação ou repetição, mas de uma tentativa de reposicionar a narrativa, revisitar o que já conhecemos e, sobretudo, redefinir o papel de seus personagens centrais.

O episódio abandona momentaneamente o presente para mostrar em detalhes o que ocorreu na nave antes de sua queda na Terra. Esse recurso de flashback, longe de ser apenas ilustrativo, ganha peso ao revelar que a tragédia não foi um acidente, mas resultado de uma conspiração cuidadosamente articulada. A revelação do traidor a bordo altera a perspectiva de toda a temporada, preenchendo lacunas abertas desde a estreia. A decisão narrativa, no entanto, não é isenta de riscos: para quem já estava satisfeito com a abordagem direta dos ataques dos xenomorfos, esse retorno pode soar como um desvio desnecessário. Para outros, porém, é a chance de mergulhar em uma camada de suspense que se conecta ao coração político e corporativo da franquia.

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Entre os maiores méritos do episódio está o aprofundamento de Morrow. Interpretado por Babou Ceesay, o personagem ganha uma densidade que até então não havia sido explorada pelo pouco tempo de tela. Se antes parecia apenas frio e calculista, agora surge como alguém complexo, motivado por dilemas íntimos e pela relação com sua filha, algo que ressignifica ações vistas em capítulos anteriores. A narrativa abre espaço para que ele se firme como figura central, talvez o mais importante da temporada até aqui. Sua jornada é marcada por contradições, revelando que não é o vilão ardiloso que muitos suspeitavam, mas também não é um herói clássico. Ele é, acima de tudo, o personagem que mais entende a real dimensão do que está em jogo, e isso o coloca em posição singular.

Essa escolha de dar protagonismo a Morrow se conecta ao estilo de Hawley, que sempre demonstrou interesse por personagens moralmente ambíguos e por narrativas que se revelam em camadas. Ao colocar o ciborgue como foco, a série não apenas redefine sua estrutura, mas também reforça o tema maior: a luta pela sobrevivência em um mundo em que as grandes corporações enxergam vidas humanas como descartáveis diante do potencial das criaturas. Essa lógica de exploração, já presente em outras obras da franquia, aparece aqui de forma explícita, seja na manipulação da Prodigy, seja na sombra constante da Yutani.

Visualmente, o episódio continua impecável. A cenografia e o design de produção recriam com riqueza o ambiente claustrofóbico da nave, resgatando o terror de confinamento que marcou o início da franquia no cinema – Algo já evidenciado em textos anteriores. A fotografia aposta em sombras e silhuetas para transformar o xenomorfo em presença inevitável, exibida de diferentes maneiras e em diferentes contextos. O que poderia cair na repetição se torna renovado pela forma como as criaturas são mostradas, evidenciando que não há homogeneidade entre elas. Pelo contrário, a narrativa sugere que cada uma pode agir de maneira distinta, revelando níveis variados de inteligência, astúcia e até estratégia de dominação. Essa pluralidade dentro do que antes era tratado como ameaça uniforme abre caminhos promissores para os próximos capítulos.

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Também chama a atenção a escolha de destacar o comportamento meticuloso das criaturas. Elas não são apenas forças de destruição, mas organismos pacientes, capazes de esperar o momento certo para atacar, explorar brechas ou até manipular o ambiente a seu favor. Um detalhe simples, como quebrar um vidro ou abrir uma tampa, ganha força simbólica: mostra que não estamos diante de monstros irracionais, mas de predadores conscientes de suas capacidades. Isso aproxima a série da tradição de “Alien: Romulus”, de Fede Álvarez, que também buscava apresentar o xenomorfo como algo mais do que apenas uma máquina de matar.

No entanto, a produção ainda enfrenta um dilema: até que ponto consegue se desvencilhar do peso do cânone? Ao mesmo tempo em que tenta ousar, Alien: Earth acaba revisitando elementos já familiares – o traidor a bordo, a obsessão das empresas em capturar espécimes, a estrutura hierárquica militarizada. Esses ecos do passado podem ser confortáveis para fãs de longa data, mas também levantam a dúvida se a série conseguirá construir uma identidade própria ou se permanecerá dependente do que já foi visto inúmeras vezes no cinema.

É nesse equilíbrio entre inovação e repetição que o episódio se sustenta. Se por um lado há a sensação de déjà-vu, por outro, existe também a percepção de que Alien: Earth tenta redefinir a si mesma a partir dessa volta ao início. O quinto capítulo não se limita a responder perguntas, mas propõe novas, reinstala o suspense e prepara terreno para a reta final da temporada. Com oito episódios no total, entrar nesse ponto de virada significa não apenas olhar para trás, mas também recalibrar o que virá adiante.

A revelação de que a Prodigy, e especialmente seu jovem herdeiro, está por trás da sabotagem traz clareza ao enredo. Se antes especulava-se que a Yutani poderia ter usado a nave como experimento, agora fica claro que o jogo de interesses é ainda mais complexo. Essa mudança desloca o foco do mistério para o embate de forças, ampliando a crítica ao capitalismo selvagem que permeia a franquia. A tripulação é reduzida a peças descartáveis de um tabuleiro em que o verdadeiro valor está no potencial científico e econômico dos xenomorfos. O episódio não deixa dúvida de que, para os poderosos, vidas humanas são apenas um custo inevitável em busca de poder e lucro.

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Nesse momento da temporada – sem saber se haverá outras – No Espaço, Ninguém… se mostra um episódio essencial, não por oferecer respostas, mas por redefinir a própria série diante de seu público. Ele reafirma os elementos clássicos que atraem fãs de longa data, mas também abre espaço para novas leituras e reflexões. É uma crítica ao presente travestida de ficção científica, um estudo sobre personagens que se movem em zonas cinzentas e um exercício de tensão cuidadosamente construído. Mais do que decidir se é um episódio “bom” ou “ruim”, cabe reconhecê-lo como um ponto de inflexão, onde a narrativa ganha novas direções e o espectador é convidado a reconsiderar tudo o que viu até agora.

Esse quinto capítulo, portanto, não é apenas um retorno ao que já conhecíamos, mas uma redefinição. Ele olha para trás, sim, mas para pavimentar um futuro que pode ser tanto de inovação quanto de repetição. A resposta definitiva, como sempre na franquia Alien, dependerá não apenas das criaturas à espreita no escuro, mas das escolhas humanas diante delas.

Alien: Earth ganha novos episódios da série, às terças, exclusivamente, na Disney+.

Leia sobre os episódios anteriores:

Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.