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Crítica | Better Man é uma bela e excêntrica viagem pela mente de Robbie Williams

Longa é um dos indicados ao Oscar de Melhores Efeitos Visuais

Nos últimos anos, as cinebiografias musicais tem se tornado recorrentes nos cinemas e em 2025, Better Man chega como a primeira grande produção para nos contar a vida de Robbie Williams sobre sua própria visão, seja ela real ou distorcida pela dramaticidade habitual do gênero.

Robert Peter Williams, conhecido mundialmente como Robbie Williams, é um cantor e compositor britânico que se destacou tanto como integrante da boyband Take That nos anos 90 quanto em sua bem-sucedida carreira solo. Dono de um carisma único e presença de palco marcante, ele conquistou milhões de fãs com hits como “Angels”, “Feel” e “Rock DJ”. Sua trajetória é marcada por reinvenções musicais, transitando entre pop, rock e baladas emocionantes.

Além da música, Robbie também chama atenção por sua personalidade irreverente e autêntica, que o tornou um ícone da cultura pop e o ajudou, aliado ao seu talento musical, a chegar ao estrelato, mas também representou sua ruína, como é possível ver na cinebiografia dirigida por Michael Gracey, responsável também por “O Rei do Show” e “Rocketman” – a cinebiografia da lenda Elton John.

Não sabíamos, mas precisávamos de Better Man

Muito popular na Inglaterra, Robbie Williams conseguiu tornar-se uma referência musical em todo o mundo, mas será mesmo que precisávamos de uma cinebiografia musical do artista? Bem, a resposta inicial pode ser a dúvida, mas ao assistirmos Better Man é possível perceber que há muito a ser contado.

Trazendo o próprio Robbie como narrador, desde os primeiros segundos o longa deixa claro que aqui temos nada menos que a visão do indivíduo sobre sua trajetória em cima e fora dos palcos. Iniciamos sua jornada em sua infância em Stoke-on-Trent, bairro que, assim como grande parte da Inglaterra, respira futebol, mas o pequeno Robert estava longe de se tornar um bom goleiro e sua vocação, apesar do mesmo duvidar, estava na música.

Não se engane, apesar de indicar que possa tomar um rumo diferente em seu início, Better Man cai nos mesmos clichês do gênero, mostrando a loucura que pode se tornar a vida de artistas musicais, recheada de drogas, bebidas e uma grande dose de depressão, com cenas que se dedicam a demonstrar essa loucura e incomodam a ponto de se tornarem maçantes. No entanto, fica claro que não havia como retratar a vida de Robbie Williams sem mostrar pelo que passou fora dos palcos e sua luta individual contra sua mente, o que pode facilmente despertar gatilhos – e aqui deixo o alerta -, mas também ajudar quem também encontra-se nessa situação.

Um espetáculo visual…

Bem, vamos falar sobre o elefante na sala – ou o macaco no caso. A escolha de representar Robbie como um primata traz uma mensagem oculta muito interessante sobre como o britânico se via diferente dos outros e isso o incomodava, mas também o destacava dentre os demais. No entanto, acredite, a indicação ao Oscar de Melhores Efeitos Visuais vai muito além da poética e excêntrica representação do protagonista e isso se deve em grande parte ao trabalho da WETA, empresa de efeitos especiais conhecida por seu trabalho na trilogia “O Senhor dos Anéis” e pelos filmes recentes da franquia “Planeta dos Macacos”.

Não é difícil encontrar inspirações em trabalhos antigos do diretor, principalmente o famigerado O Rei do Show, mas aqui é possível observar uma clara evolução, que brilha em meio a decisão de viajar na mente do protagonista e não prender-se em passar uma narrativa linear, transitando na confusa e brilhante mente de Robbie Wiliiams.

Entre os diversos momentos que podem ser classificados como espetáculos visuais destacam-se duas apresentações: a dança nas ruas de Londres com Rock DJ, que serve com perfeição como um cartão de visitas para o longa retratando o sucesso inicial do artista como membro da Take That, e a dança ao som de She’s The One, que parece beber diretamente da fonte do número de A Million Dreams em O Rei do Show.

… e também musical

Falando das músicas, Better Man é uma excelente forma de apresentar o artista britânico para quem não o conhece, além de trazer sons marcantes da história da música na voz do mesmo, como a brilhante “My Way”, de Frank Sinatra, que dita a narrativa do longa-metragem sendo a primeira e a última música interpretada.

Além disso, é impossível não destacar a interpretação musical de Robbie Williams em sons como as já mencionadas Rock DJ e She’s The One, como também na belíssima “Forbidden Road”, canção composta pelo próprio artista para o filme e que chegou a ser cotada à indicação de de Melhor Canção Original no Oscar, mas não alcançou o feito pela academia.

Os demônios da mente do artista

Por fim, é impossível dissecar Better Man sem mencionar a luta de Robbie Williams contra sua própria mente, demonstrada de forma excêntrica na narrativa. Aqui destaco um tópico de identificação pessoal para mim: a representação de elementos que me fizeram rapidamente identificar a dramatização do TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) e como ele atinge a mente humana.

Segundo o próprio, Robbie Williams foi diagnosticado com TDAH e chegou a suspeitar de ter síndrome de Asperger ou autismo. No entanto, nunca houve qualquer confirmação do mesmo sobre um diagnóstico dessas últimas duas.

Ainda assim, analisar as cenas que representam a luta pessoal de Robert com sua mente durante todo o longa faz com que possamos ver de forma diferente diversos momentos do longa. É claro o quanto o próprio artista, desde sua infância no Reino Unido, não via seu potencial e acreditava ser inferior, o que era reiterado pelo seu pai, o qual ele sempre quis agradar mesmo que o mesmo claramente não fosse uma pessoa digna de ser agraciada por sua admiração. Os momentos com sua avó eram seu refúgio, onde Robert se via seguro não apenas dos julgamentos do mundo exterior, mas também dos demônios em sua mente.

Ao chegar ao estrelato, estes demônios começam a atormenta-lo de uma maneira nunca antes vista, o que é representado em Better Man com cenas de diversas versões do protagonistas o questionando sempre que sobe ao palco, tentando coloca-lo para baixo e menospreza-lo. Afinal, do que vale uma multidão gritando seu nome, se quem você mais ama e a si próprio não acreditam em você?

Bem, sem me alongar mais, posso destacar o quão incômodas – e até mesmo maçantes – são as cenas em que isso é retratado, chegando ao ápice com um show visual e talvez questionável, mas digno de uma cena dos filmes da Marvel em seu auge – ou melhor, da franquia Planeta dos Macacos – onde Robbie “mata” suas várias versões, incluindo a inocente e sonhadora criança interior, marcando assim o momento em que o mesmo percebeu ter chegado ao seu limite. Apesar do exagero na frequência destes momentos, é muito bem retratada a luta interior de quem vive com transtornos como o TDAH, onde é preciso lutar contra as vozes de sua mente ou aprender a abraça-las e compreende-las de forma saudável – mesmo que as vezes tenhamos que apenas ignora-las.

Nos cinemas brasileiros, Better Man está previsto para chegar em 13 de março. Até o momento, nos principais polos do cinema mundial, o longa-metragem foi um “fiasco” de bilheteria, o que não reflete sua qualidade. Para quem curte musicais e cinebiografias fica aqui a dica para dar uma chance e desembolsar o dinheiro do ingresso no próximo mês.

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Colaborador do Conecta Geek desde 2024, nasci no estado do Rio de Janeiro e alinho minhas maiores paixões à minha vocação através da produção de conteúdo. Entre as minhas áreas de maior domínio e experiência profissional estão o o universo geek, o automobilismo e os esportes em geral, principalmente o futebol. Certificado como Jornalista Digital e Social Media pela Academia do Jornalista, contribui no passado como Editor-chefe nos portais R7 Lorena e iG In Magazine e fui Colaborador do portal esportivo Torcedores.