Divina Casca
Érico Toscano / Divulgação.

Crítica | Cada vez mais confortável na própria pele, Rachel Reis abraça a pluralidade em ‘Divina Casca’

Se com seu álbum de estreia, “Meu esquema” (2022), Rachel Reis já despontou como uma das grandes revelações da música brasileira naquele ano, agora, com “Divina Casa”, seu mais novo álbum, a Baiana de Feira de Santana consolida seu nome no cenário pop nacional com uma obra mais intimista, mas com excelentes misturas de referências e momentos dançantes.

Ao longo das 15 faixas, em sua maioria escritas por Rachel e produzidas em colaboração com nomes como Barro e Guilherme Assis, Iuri Rio Brando, RDD e Tomás Loureiro, vemos uma artista ainda mais confortável e segura, apresentando um som maduro que expande os seus horizontes para além das referências da música baiana e do pop.

Os cruzamentos entre pagode baiano, arrocha, pop e r&b que já eram a marca da cantora e compositora, seguem aqui, porém percorrendo novos caminhos e se estendendo para a música latina, o samba, o reggae e a mpb. Tudo isso ganha brilho com os arranjos refinados que vão surpreendendo e ganhando peso enquanto as canções vão avançando.

A abertura é com “Casca”, faixa que sintetiza a ideia de “Divina Casca” e também já traz uma boa amostra de todas essas inspirações. A letra deixa claro o quanto Rachel Reis está confortável em seu lugar como artista: “Não há ninguém que eu queira ser além de mim / Caminho exatamente onde eu devo caminhar, ah / No meu tempo único, soberano / Brilhante e nítido.”

“Alvoroço” foi composta em parceira com Russo Passapusso e traz a participação do Baiana System que marca o encontro do samba com a batida marcante do grupo baiano. “Noite Adentro” traz para a mistura um clima mais romântico e noturno, embebido por sons florestais que dão um tom meio místico, ao mesmo tempo em que é sensual.

“Jorge Ben” é uma excelente homenagem ao mestre Jorge Ben Jor, do qual Rachel bebe claramente na fonte para o suingue que embalar o álbum. A faixa traz referências muito reconhecíveis do gigante da música brasileira, porém não óbvias, fazendo a canção fugir completamente do clichê ou da mera referência por si só.

“Tabuleiro”, acrescenta o hip hop no caldeirão musical do disco e se destaca pelas excelentes participações de Don L e Rincon Sapiência, além da também cantora baiana Nêssa. “Furacão” traz mais nítida a vertente mpb da cantora em uma belíssima canção com uma letra marcada pela poética. “Ensolarada”, primeiro single divulgado, é outro bom momento e parte para a direção do reggae e da axé music.

“Aquele Beijo” é outro momento romântico delicioso que desemboca em um arrocha. “Apavoro” é um pagode baiano com tudo que ele tem direito, incluindo a participação do Psirico. Em seguida vem uma excelente versão, mais intimista, de “Sexy yemanjá”, de Pepeu Gomes, que transporta o hit do conterrâneo para o universo de Rachel , com destaque para o belíssimo arranjo de sopros. “Deixa Molhar” encerra o álbum em alta com um clima mais dançante.

“Divina Casca” mostra a versatilidade, a sensibilidade e a inteligência de Rachel Reis que chega em seu segundo disco ainda mais interessante. Com um olhar bastante pessoal para a música brasileira e baiana, a cantora conquista com sons envolventes, uma performance vocal elegante, e pequenas surpresas que vão dando um sabor a mais a cada nova audição.

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