Crítica | Dan Dan Dan: Evil Eye é divertido, não é um filme e está num limbo entre temporadas
Science Saru/Reprodução

Crítica | Dan Dan Dan: Evil Eye é divertido, não é um filme e está num limbo entre temporadas

Quando Dan Da Dan chegou aos cinemas, a expectativa era de que o filme trouxesse algo novo para os fãs – uma narrativa autônoma, uma expansão do universo ou, no mínimo, uma experiência cinematográfica digna da tela grande. No entanto, o que se vê é um compilado de episódios que, embora mantenha a qualidade técnica e o charme da série, não parece justificar sua existência como longa-metragem. A sensação de assistir Dan Dan Dan: Evil Eye é de uma prévia da 2ª temporada, com cortes abruptos e uma estrutura que mais lembra uma maratona de TV do que uma obra pensada para o cinema.

Evil Eye é uma continuação direta dos acontecimentos da 1ª temporada do anime, onde Momo e Okarun em uma nova missão, desta vez em uma cidade de fontes termais. A viagem é iniciativa de Jiji, amigo de infância e antigo interesse romântico de Momo, que os convoca para desvendar um mistério envolvendo sua família e a casa alugada onde moram. Logo de cara, porém, os protagonistas se deparam com moradores locais desconfiados e situações inexplicáveis, indicando que há muito mais naquela cidade do que águas relaxantes. O arco tem todos os elementos característicos da série: humor absurdo – com destaque para a cena que a imagem abaixo ilustra –, criaturas sobrenaturais e uma pitada de drama emocional –, mas não avança significativamente o enredo principal, funcionando mais como um episódio estendido do que como uma narrativa cinematográfica isolada.

Crítica | Dan Dan Dan: Evil Eye é divertido, não é um filme e está num limbo entre temporadas
Science Saru/Reprodução

Logo de início, o filme faz uma grande recapitulação da 1ª temporada, o que pode ser frustrante para quem já acompanha a série – especialmente no meu caso, que terminei a temporada horas antes de assistir ao filme. Esse recurso, comum em animes, serve como recapitulação, mas no contexto de uma exibição para o cinema, soa como um desperdício de tempo. Afinal, quem pagou pelo ingresso provavelmente já conhece a história – e se não conhece, dificilmente será cativado por uma introdução que pressupõe familiaridade com os personagens. A montagem, repleta de pausas bruscas, reforça a impressão de que se trata de um produto feito para streaming, onde cortes comerciais são naturais, mas que no cinema quebram o ritmo e a imersão.

Ainda assim, há méritos técnicos que merecem destaque. A fotografia de Dan Da Dan continua sendo um de seus maiores trunfos, com paletas de cores que oscilam entre o surreal e o melancólico, lembrando, em certos momentos, a estética vibrante e contrastante do Giallo italiano. As sequências de luta, embora não sejam as mais elaboradas da animação contemporânea, ganham vida graças a essa escolha cromática. Um embate em particular, embora coreograficamente simples, se destaca pelo uso de tons neon e sombras profundas, criando uma atmosfera quase onírica. Essa dualidade entre o grotesco e o belo é uma das marcas do anime, e no “filme”, isso permanece intacto – ainda que não seja suficiente para salvar a experiência como um todo.

Crítica | Dan Dan Dan: Evil Eye é divertido, não é um filme e está num limbo entre temporadas
Science Saru/Reprodução

A direção, agora dividida entre dois nomes, Fuga Yamashiro e Abel Góngora, parece buscar um equilíbrio entre o tom descontraído do material original e uma abordagem mais cinematográfica. Em certos momentos, isso funciona: há enquadramentos mais ousados e um cuidado maior com a iluminação, sugerindo uma evolução em relação à primeira temporada. No entanto, a narrativa em si não acompanha essa ambição. O arco apresentado é divertido, mas pouco relevante para o enredo principal, funcionando mais como um interlúdio do que como um avanço significativo. Se na TV isso seria aceitável, no cinema – onde se espera um começo, meio e fim – a sensação é de que o filme termina antes de realmente começar.

O maior problema, porém, está na estrutura. Dan Da Dan não foi concebido como um filme, e isso fica claro em cada decisão de edição. As transições entre cenas são abruptas, os cortes para pretos frequentes e, no final, a história simplesmente para – sem clímax, sem resolução. Em vez de créditos, somos presenteados com uma entrevista com a equipe de produção, um material interessante, mas completamente fora de lugar. Enquanto os diretores falam sobre suas inspirações, o público é deixado com um gosto amargo de incompletude. É como se o estúdio tivesse pegado os primeiros episódios da nova temporada, colado um no outro e dublado: “Aqui está seu filme”.

Crítica | Dan Dan Dan: Evil Eye é divertido, não é um filme e está num limbo entre temporadas
Science Saru/Reprodução

Para os fãs, há diversão a ser encontrada aqui. Os personagens continuam carismáticos, o humor ainda funciona e a animação é, em muitos momentos, deslumbrante. Mas é impossível ignorar que essa não é uma experiência pensada para o cinema – é uma estratégia de marketing, uma forma de antecipar o segundo ano e capitalizar em cima do sucesso da série. E enquanto isso pode ser comum no mundo dos animes, não deixa de ser decepcionante.

Dan Da Dan é um anime excelente, mas Evil Eye é filme medíocre. Suas qualidades técnicas não apagam o fato de que ele não sabe o que quer ser quando crescer – e, pior, nem parece se importar com isso.

Leia outras críticas:

Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.