A série Demolidor: Renascido chega ao seu terceiro episódio focando no drama jurídico, que acaba passando por dilemas morais que envolvem tanto o protagonista, quanto o cliente que defende. Chamado “A Palma da Sua Mão”, o episódio 3 da temporada mergulha de cabeça em uma trama que explora não apenas a dualidade de seu protagonista, mas também os limites da justiça em um sistema corrompido. E, ao final, deixa claro que, por mais que Matt Murdock (Charlie Cox) tente se afastar de sua identidade como Demolidor, a cidade de Nova York ainda precisa dele.
O episódio começa com Matt Murdock ainda lidando com as consequências da morte de Foggy Nelson (Elden Henson), seu melhor amigo e sócio no escritório de advocacia. A perda de Foggy o levou a abandonar o manto de Demolidor, focando-se exclusivamente em sua carreira como advogado. No entanto, como sempre acontece com Matt, a justiça não pode ser feita apenas dentro dos tribunais.
O caso central deste episódio gira em torno de Hector Ayala (Kamar de los Reyes), o Tigre Branco. Hector, ao tentar salvar um jovem de dois policiais corruptos, acaba envolvido na morte acidental de um deles. Preso e acusado de assassinato, ele se torna o foco de uma batalha legal que coloca Matt contra o sistema policial corrompido de Nova York, agora ainda mais influenciado pelo prefeito Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio), o Rei do Crime.
A trama do tribunal é o coração deste episódio, e é aqui que a série brilha. Matt, com a ajuda de Kirsten McDuffie (Nikki M James), tenta provar a inocência de Hector, mas o caso se complica quando a testemunha-chave, Nicky Torres (Nick Jordan), mente no tribunal para proteger os policiais corruptos. A decisão de Matt de revelar a identidade secreta de Hector como Tigre Branco é um momento crucial, não apenas para o caso, mas para a narrativa da série como um todo. Essa escolha vai contra o instinto natural de proteger a identidade de um vigilante, reflete a complexidade moral de Matt. Ele está disposto a quebrar as regras para fazer a justiça prevalecer, mesmo que isso signifique expor Hector ao perigo.

Aqui, a série faz uma escolha narrativa interessante ao explorar a dualidade entre Matt Murdock, o advogado, e Demolidor, o vigilante. Enquanto Matt insiste que o bem pode ser feito sem uma máscara, o desfecho trágico de Hector Ayala parece provar o contrário. A morte de Tigre Branco, assassinado por um atirador misterioso que usa o símbolo do Justiceiro, é um golpe emocional forte e uma clara mensagem de que, em um mundo onde a corrupção e a violência são endêmicas, a justiça tradicional nem sempre é suficiente.
A adaptação da história do Tigre Branco dos quadrinhos para a série é bastante fiel, visto que Hector é preso após ser suspeito de um assassinato que não cometeu. O que difere na versão audiovisual é o resultado tribunal, com Matt não consegue impedir que ele seja condenado injustamente. Depois de ser considerado culpado, Hector decide que sua melhor opção é fugir, mas em sua tentativa de recuperar a liberdade, ele é baleado e morto. Ou seja, o final acaba sendo o mesmo.

Ainda dentro da obra original, a fuga de Hector e sua subsequente morte são uma tragédia, com certeza, mas tudo é piorado pelo fato de que, não muito depois de, evidências são encontradas que provam sua inocência. Essa sensação de injustiça, de um homem que arriscava a sua vida pelos outros, ser assassinado, pode ascender uma fagulha em Murdock, assim como nos quadrinhos fez que Angela del Toro assumisse o amuleto do Tigre depois do assassinato de seu tio.
Kamar de los Reyes entrega uma performance emocionante, especialmente durante seu testemunho no tribunal, onde ele fala sobre seus planos de surpreender a esposa com um novo apartamento. Essa humanização de Hector torna sua morte ainda mais impactante, reforçando a ideia de que, no mundo de Demolidor, mesmo os heróis não estão a salvo.
O episódio também avança a trama de Wilson Fisk. A tensão entre Fisk e sua esposa, Vanessa, continua a crescer, com a questão de “Adam” pairando como um mistério central. Quem é Adam? Um amante? Um aliado? Ou algo mais sinistro? A série mantém o suspense, mas deixa claro que essa tensão marital pode ter consequências catastróficas para o casal e para a cidade. Enquanto isso, Fisk tenta se distanciar de seu passado como Rei do Crime, mas suas ações como prefeito mostram que ele ainda está profundamente envolvido no submundo de Nova York.

Um dos aspectos mais interessantes do episódio é a forma como ele lida com a questão da corrupção policial. A série não se contenta em retratar os policiais como meros antagonistas; em vez disso, ela explora como o sistema pode ser manipulado por aqueles no poder. A presença de policiais com tatuagens do símbolo do Justiceiro é uma escolha visual poderosa, sugerindo que a violência e a justiça pelas próprias mãos estão se infiltrando até mesmo nas instituições que deveriam proteger a lei. Esse é um aspecto muito interessante porque ele acontece na vida real, afinal, não é raro você ver policiais usando tatuagens, camisetas ou o avatar em redes sociais remetendo ao personagem Justiceiro.

Isso tudo levanta questões importantes sobre o papel dos vigilantes em um mundo onde as linhas entre o bem e o mal estão cada vez mais borradas.
A Palma da Sua Mão marca uma melhoria significativa em relação aos dois primeiros. E terceiro episódio não apenas avança a trama de forma significativa, mas também reforça os temas centrais da série: a luta pela justiça em um mundo corrompido, a dualidade entre o homem e o herói, e o preço que se paga por tentar fazer a coisa certa.
Esse equilíbrio do drama jurídico com os elementos de super-herói, mantém aquele tom sombrio e realista que fez a série original da Netflix ser tão amada. E, mais importante, ele deixa claro que, por mais que Matt Murdock tente se convencer de que o bem pode ser feito sem uma máscara, o mundo ao seu redor prova que, às vezes, a justiça precisa de um punho firme – ou de um bastão.
Os episódios novos da 1ª temporada de Demolidor: Renascido são lançados todas as terças-feiras, exclusivamente no Disney+.
Leia sobre os episódios anteriores:
Deixe uma resposta