Dora Morelenbaum para seu novo álbum, Pique.
Dora Morelenbaum lança seu primeiro álbum solo, 'Pique'. Foto: Maria Cau Levy / Divulgação.

Crítica | Dora Morelenbaum faz excelente estreia solo com ‘Pique’

Depois de ficar em evidência com o grupo Bala Desejo, ao lado dos amigos Julia Mestre, Lucas Nunes e Zé Ibarra, Dora Morelenbaum engrena de vez na carreira solo e lança o seu primeiro álbum. Pique é uma boa amostra de todas as vertentes que compõe a identidade da cantora, compositora, instrumentista e arranjadora.

Aqui, a carioca mostra destreza para transitar em um terreno delicado que é o de se afirmar como uma artista com seu próprio caminho a ser trilhado, ao mesmo tempo em que carrega toda a riquíssima bagagem que vem de berço, já que ela é filha do violoncelista e arranjador Jaques Morelenbaum e da cantora Paula Morelenbaum.

Para essa missão, Dora conta com a ajuda de Ana Frango Elétrico, que fez a produção do álbum, contribuição que fica bastante nítida ao longo das 11 faixas, com Ana trazendo muito do seu próprio universo para a obra. No entanto, o encontro entre as duas é bem harmônico e potencializa o que a estética e a sonoridade do disco apresentam.

O resultado é uma excelente estreia que se desdobra em diversas vertentes. Passa pelo jazz, pelo blues, pelo pop, pelo rock e se serve essencialmente de referências da MPB. Tudo isso se junta a composições essencialmente românticas, porém com letras que falam de amor e relacionamentos, com um diálogo equilibrado entre passado e presente.

Entre o íntimo e o expansivo

Dora Morelenbaum na capa de Pique
Capa de Pique, primeiro álbum solo de Dora Morelenbaum. Foto: Maria Cau Levy e Ana Frango Elétrico

O disco abre com Não Vou te Esquecer, balada fruto da parceria entre Dora Morelenbaum e Tom Veloso, faz uma bela introdução com uma intepretação cool com ares bossa novista que remete a Gal Costa. Em seguida vem Venha Comigo, composição de Sophia Chablau que já muda o clima totalmente para algo mais energético, com um belo arranjo de cordas.

Sim, Não talvez seja a faixa que mais tenha o DNA de Ana Frango elétrico presente, um indie-rock cativante com uma interpretação mais rasgada e descontraída. Essa Confusão, outra balada romântica, parceria de Dora com Zé Ibarra, conta com a contribuição de Jaques Morelenbaum em um fino arranjo de cordas.

A Melhor Saída, composição de Tom Veloso, parte para um rock mais tranquilo, com toques minimalistas. Caco é a canção que mais ecoa referências e uma estética da MPB dos anos 1970, mas sem perder a conexão com o presente. VW Blue, é um instrumental que se destaca como o momento mais jazzístico do disco.

Petricor, outra parceira com Tom Veloso, traz uma atmosfera mais intima com um leve toque de sensualidade. A faixa-título segue com o clima introspectivo sendo quase um interlúdio, mas com outra bela interpretação. Talvez tem uma discreta pegada dançante e um arranjo reforçado pelos violões de Josyara e Zé Ibarra. Nem te Procurar encerra a obra em alta com uma disco-music que cita os versos de Não Vou te Esquecer.

Apesar de ainda beber de muitas das mesmas referências e o olhar para o passado, Dora Morelenbaum consegue se afastar do que apresentou no Bala Desejo e seguir um caminho próprio e mais amplo em Pique. Um álbum que varia de humor de forma elegante e reforçado por colaborações afinadas e excelentes composições.

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