2025 foi um ano nada fácil para Emicida. Além do conturbado rompimento com o irmão, Evandro Fióti, o artista ainda teve que lidar com o luto pela partida da mãe, Dona Jacira. É nesse contexto que nasce Emicida Racional VoL.2: Mesmas Cores e Mesmos Valores, um disco que reflete sobre as dores e funciona como um processo de cura para o próprio Leandro Roque, através de um olhar para o passado e um tributo aos Racionais Mc’s.

A essa altura, após uma das trajetórias mais brilhantes do rap nacional, muito se espera de um novo disco do Emicida. Mas nada te prepara para a abertura com “Bom dia né gente? (ou saudade em modo maior)”; uma sequência de áudios de Dona Jacira acompanhados pelo inconfundível piano de Amaro Freitas, que terminam em um momento de silêncio até vir o choro do artista. Um registro extremamente sensível e honesto do luto que dá a dimensão do nível de intimidade e emoção que vão permear o álbum.
A partir daí, o disco se desenrola tendo como norte a frase que abre a mixtape de estreia do rapper: “Quando os caminhos se confundem, é necessário voltar ao começo”. Emicida faz um retorno não só a suas próprias origens, mas também passeia pela história do rap brasileiro, com os Racionais MC’s sendo os guias dessa viagem. Aqui, o artista paulistano revisita o álbum “Cores & Valores” (2014) e vai fazendo um diálogo entre o maior grupo de rap do Brasil, sua própria história e a história do gênero no país.
O resultado é um álbum muito pessoal que parece despreocupado de padrões estéticos e questões comerciais. Nesse sentido, ele parece ser o oposto de “AmarElo”. Enquanto o antecessor é expansivo, solar e voltado para olhar coletivo, Racional VL2 é íntimo, introspectivo, repleto de silêncios e respiros entre as 10 faixas, refletindo o clima noturno das madrugadas em que foi concebido.
É um disco que exige tempo e atenção para ser devidamente compreendido, que não se freia nos versos densos, com rimas complexas disparadas como um fluxo mental. Aqueles mais entendidos da história do rap brasileiro devem entender mais dos subtextos da obra, mas os mais leigos, ou fãs mais recentes do artista também podem se conectar com a essência do que é apresentado.
A voz de Mano Brown faz a introdução de “Mesmas Cores & Mesmos Valores”, segunda faixa do álbum que faz a introdução no universo do último disco lançado pelos Racionais. Em “Finado Neguim memo?”, Amaro Freitas volta para mais um arranjo de peso no piano que é a base para Emicida refletir sobre o rap como movimento social. Em “A Mesma Praça” , os amigos Rashid e Projota chegam junto para o trio lembrar o caso do show dos Racionais na Virada Cultural de 2007.
Em “Quanto Vale o Show Mesmo?” Emicida vai até 1988 e vai atravessando os anos fazendo um paralelo entre O Brasil, a sua história e da sua família, ao mesmo tempo, em que dialoga com a obra de Cassiano. “Us Memo Preto Zica” traz o samba como base em um refinado arranjo para reflexões sobre sobrevivência em meio a um cenário opressor do Brasil de 2025.
Emicida Racional VoL.2: Mesmas Cores e Mesmos Valores é um disco que olha para o passado para buscar as ferramentas e lições para lidar com um presente desafiador em meio ao Luto. Emicida volta para origens, mas já não é mais o mesmo de 2009. Ele carrega toda uma bagagem acumulada durante os anos de carreira e mais que isso, busca expandi-la experimentando com novas sonoridades e diferentes formas de fazer rap. Um álbum que tende a crescer com o tempo, mas que já se estabelece em alto nível no cenário nacional.
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