Crítica | Exclusive Os Cabides brincam com sons e palavras em 'Coisas Estranhas'
Exclusive Os Cabides/Divulgação

Crítica | Exclusive Os Cabides brincam com sons e palavras em ‘Coisas Estranhas’

Com pop quebrado e psicodélico, esse é um dos discos mais divertidos do ano!

Em 2008 o MGMT lançava seu debut com o estrondoso “Oracular Spectacular”, um divertido disco que misturava um synth-rock fácil de ouvir com algumas pinceladas de rock psicodélico. “Kids”, “Electric Feel” e “Time To Pretend” mostrava que a dupla tinha uma idade pop muito afiada que parou ali mesmo, uma vez que a cada novo lançamento da banda eles se afastavam cada vez mais do som do 1º disco. Bom, iniciar uma análise partindo de uma comparação nem sempre é uma coisa boa, mas nesse caso, eu juro que é. Coisas Estranhas está longe de ser uma cópia de MGMT, mas os florianopolitanos do Exclusive Os Cabines resgataram algo – e em português! – que achava estar perdido desde 2008.

Aliás, antes mesmo do texto sobre o disco em si, preciso dizer que já assisti a banda ao vivo, durante a última vez que eles estiveram em São Paulo, no Picles, uma das casas de shows mais interessantes da cidade.

Confesso que, antes mesmo do início do show, eu já esperava mais uma bandinha de rock psicodélico que não consegue sair das referências sessentistas e dos temas etéreos de sempre – espaço, novas dimensões -, mas a cada música eu fui entendendo que aquilo era uma brincadeira, bem boba, é verdade, mas divertida.

Crítica | Exclusive Os Cabides brincam com sons e palavras em 'Coisas Estranhas'
Exclusive Os Cabides/Divulgação

O undergroud tá se divertindo

E se for passar por outros lançamentos deste ano, é notório que artistas que estão às margens das grandes gravadoras, selos e thrends, andam fazendo sons divertidos, quase descompromissados. Alguns exemplos são: “Vaidosos Demais“, de Rafael Castro, “Micro-Usina“, do Irmão Victor e “Perigo Imediato” de Lauiz. Se isso é uma tendência ou coincidência eu não sei, mas espero que continue, porque além dos discos, os shows costumam ser tão divertidos quanto.

Coisas Estranhas

Com 10 faixas o disco segue a mesma linha lógica de seus outros lançamentos, mas é notório um capricho melhor em produção nesse novo disco, que aliás, é um baita mérito para um lançamento independente, com grana angariada de uma campanha de financiamento coletivo. Todas as músicas foram gravadas pela atual formação da banda, que é: João Paulo Pretto (voz e guitarra), Antônio dos Anjos (voz e percussão), Eduardo Possa (guitarra), Jean Lucas (baixo) e Carolina Werutsky (bateria) Sem mais delongas, vamos às faixas!

Iniciando com a faixa-título, e de cara existe uma aura underground forte no som da banda: não há complexidade. São duas guitarras fazendo um arranjo simples, diretos, curtos e repetitivos. Quase sem nenhum tipo de efeito, o que é algo quase paradoxal, visto que bandas que bebem do psicodélico adoram delays, reverbs e phasers. Uma boa entrada para o que está por vir a seguir. “AAAAAAAAA”, por sua vez, ainda é simples, mas é nela que vejo mais do MGMT.

O maior destaque é sem dúvidas, “Rua da Lua Cheia”, que é o som mais trabalhado. As guitarras danças em caminhos diferentes – agora com pedais ligados! – guiados por uma excelente linha de baixo. Para completar um discreto sintetizador e um chocalho por todo o som.

“Luminária de Lava” e “Lagartixa Tropical”, desde seus títulos mostram que a brincadeira está para além do desarranjo e acordes simples, há algo proposital na narrativa das suas músicas. Nem sempre elas fazem sentidos, mas juntando umas palavras como “lavar o cabelo com água de lagartixa” soa engraçado e tá tudo bem.

A groovada “Pilha Eletrônica” quebra o ritmo do disco de uma maneira muito interessante. O vocal nas estrofes quase declamado, à lá Fernanda Abreu, dá um toque especial que gringo nenhum consegue fazer. Além de contar com mais uma linha de baixo bem dançante, há um solo de guitarra quase progressivo, seguido pelo uso de slides, que provam que eles só fingem não tocar tão bem assim.

Divertido, quase descompromissado e muito ciente dos seus caminhos, evidentemente Coisas Estranhas não vai fazer os Exclusive Os Cabides se tornarem grandes, mas certamente, dentro do meio alternativo, pode fazer deles mais ouvidos e quem sabe, poder proporcionar a eles brincarem e fazer som para além do Sul e Sudeste.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.