Crítica | G20
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Crítica | G20 transforma Viola Davis em Liam Neeson

E isso é bom!

O filme G20, nova aposta do Prime Video, estrelado por Viola Davis e dirigido por Patricia Riggen, parte de uma ideia corajosa e bastante fora do comum: uma mulher negra na presidência dos Estados Unidos assume, sozinha, a responsabilidade de enfrentar um ataque terrorista durante a cúpula do G20. Mesmo que essa situação pareça improvável, o longa aposta no poder da ação e do simbolismo para envolver o público.

A presidente Danielle Sutton, interpretada com grande presença por Viola , não é uma líder comum. Diferente das figuras políticas tradicionais, ela tem um passado militar e sabe agir com firmeza.

Sua postura lembra mais os protagonistas clássicos de filmes de ação — como o famoso personagem John McClane, interpretado por Bruce Willis, na franquia “Duro de Matar” — do que uma presidente convencional. O roteiro usa essa inversão de papéis de forma interessante, colocando uma mulher no centro de um conflito violento, onde ela não apenas comanda, mas luta, resiste e salva vidas com as próprias mãos.

Sensação dos anos 90

A história começa quando terroristas invadem a reunião do G20 e fazem reféns vários líderes mundiais. A presidente Sutton, que por acaso está presente, decide agir por conta própria. No entanto, ela se recusa a ficar esperando uma operação de resgate e parte sozinha para enfrentar os criminosos, tentando impedir que eles coloquem em risco a economia global. A narrativa, recheada de cenas de ação intensas e momentos de tensão, segue o estilo dos filmes de suspense e aventura dos anos 1980 e 1990, com ritmo acelerado e um clima de urgência constante.

Um dos pontos mais marcantes do filme é o passado da protagonista. Antes de entrar para a política, Sutton serviu no exército e ficou conhecida por salvar uma criança em meio a um ataque no Iraque. A imagem desse resgate saiu na capa da revista Time e acabou lançando sua carreira pública. Essa lembrança aparece várias vezes ao longo do filme, como uma espécie de aviso do que ela é capaz de fazer quando tudo parece perdido.

Vilão exagerado, como era de esperar

O vilão da história, por outro lado, representa uma ameaça exagerada: um homem (Antony Starr) que planeja destruir a economia mundial praticamente sozinho. É claro que isso soa fantasioso, mas funciona dentro da lógica do filme. Ele representa os medos atuais em relação ao colapso dos sistemas globais, ainda que de forma simplificada.

Mesmo com seus exageros e momentos pouco realistas, G20 entrega um bom entretenimento e levanta questões importantes. O que esperamos de um líder em tempos de crise? Seria possível que alguém realmente enfrentasse, sozinho, uma situação tão extrema? O filme não tenta responder essas perguntas de forma profunda, mas provoca o público a refletir — enquanto entrega cenas de ação bem dirigidas e uma protagonista forte, decidida e carismática.

Treino, disciplina e aliados de confiança

Mesmo ocupando o cargo mais poderoso do mundo, a presidente Danielle Sutton ainda encontra tempo para treinar regularmente com Manny Ruiz — interpretado por Ramón Rodríguez (“Will Trent”). Ex-companheiro de exército, Ruiz agora lidera a equipe de segurança do Serviço Secreto que protege a presidente. Essa relação próxima mostra que, mesmo no poder, Sutton continua apostando em disciplina, preparo físico e confiança mútua.

Em seguida, além da rotina política e dos treinos táticos, Sutton também precisa lidar com os desafios da maternidade. Ela é mãe de dois adolescentes: Serena (Marsai Martin), a filha mais velha, tem um espírito rebelde e vive testando limites; já Demetrius (Christopher Farrar) prefere o universo dos videogames à realidade. Portanto, ao lado do marido, Derek (Anthony Anderson), a presidente tenta equilibrar a pressão do cargo com a vida em casa — uma missão que, como o filme sugere, pode ser tão complexa quanto enfrentar uma ameaça global.

No início do filme, Serena se envolve em uma situação constrangedora: é flagrada escapando da Casa Branca para ir a uma festa. O vídeo do momento cai nas redes sociais e viraliza em poucas horas, provocando uma crise de imagem para a presidente. A repercussão é imediata e coloca mais pressão sobre um governo ainda nos primeiros meses, que já enfrenta dificuldades para avançar com suas propostas econômicas.

Quando a vida pessoal vira arma política

Durante uma coletiva de imprensa, Sutton é confrontada por um jornalista com uma pergunta que expõe a fragilidade da linha entre o público e o privado: “Como podemos confiar em você para manter o país seguro se você não consegue manter sua própria casa em ordem?”.

A crítica, dura e direta, revela não apenas a tensão crescente sobre sua liderança, mas também a maneira como o filme explora a exposição constante dos líderes modernos — onde até conflitos familiares podem ser usados como munição política.

Esperança, família e diplomacia sob tensão

Apesar dos desafios políticos e familiares, a presidente Sutton deposita grandes expectativas na cúpula do G20 — o encontro anual das principais potências econômicas do mundo.

No entanto, o que deveria ser um momento de diplomacia e negociação rapidamente se transforma em um pesadelo. A reunião internacional é atacada por um grupo de terroristas liderados por Rutledge.

O discurso inicial do vilão é político: ele acusa os líderes do capitalismo de criarem um sistema global que favorece os ricos e abandona os pobres. No entanto, suas verdadeiras intenções logo se revelam bem menos idealistas — por trás do discurso de justiça social, esconde-se um plano complexo para enriquecimento pessoal.

Durante o coquetel oficial da cúpula, os terroristas fazem reféns todos os chefes de Estado presentes. No entanto, a presidente Sutton consegue escapar ao lado de Manny Ruiz e de um pequeno grupo improvisado que reúne o primeiro-ministro britânico (Douglas Hodge), uma integrante da delegação italiana (Sabrina Impacciatore) e a esposa do presidente sul-coreano (MeeWha Alana Lee). O grupo, embora desorganizado e sem preparo para combates, torna-se a única esperança de reação frente ao ataque.

Família em risco e tensão crescente

Enquanto a presidente Sutton enfrenta os terroristas com coragem e astúcia, em outra ala do centro de convenções, seu marido Derek faz o possível para proteger os filhos.

A tentativa de manter Serena e Demetrius a salvo cria um paralelo interessante com a ação principal, revelando que, em meio ao caos, o instinto de sobrevivência não se limita ao campo de batalha — ele também pulsa no cuidado com quem se ama.

Clichê, mas nem tanto

G20 é, em sua essência, um filme de ação clássico, com uma premissa improvável, mas conduzida com firmeza e personalidade. Produzido pelos irmãos gêmeos Noah e Logan Miller, o longa se apoia em uma fórmula conhecida, mas ganha força graças à atuação de Viola Davis — vencedora do EGOT (Emmy, Grammy, Oscar e Tony)

A direção é assinada por Patricia Riggen, cineasta nascida no México e uma das poucas mulheres latinas a dirigir filmes em Hollywood.

Por fim, a inevitável comparação com Liam Neeson é válida, mas reveladora: o ator irlandês tinha pouco mais de 50 anos quando “Busca Implacável” (2008) transformou sua carreira, colocando-o no centro da ação.

Assim, da mesma forma, em G20, Viola Davis, que estrelou A Mulher-Rei em 2022 e agora assume o protagonismo de G20, mostra que Hollywood pode — e deve — explorar melhor o talento de atrizes maduras em papéis de ação. Se depender dela, a “a justiceira da meia-idade” chegou para ficar. E com estilo.

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Apaixonado por games, filmes, séries, músicas, HQ's e por cachorros. Jogos desafiadores são meus preferidos. Jogo, assisto, ouço, leio e, às vezes, exerço minha profissão de professor.