Crítica | Hellboy e o Homem Torto é a prova que não tem que copiar a HQ
Ketchup Entertainment/Divulgação

Crítica | Hellboy e o Homem Torto é a prova que não é só copiar a HQ

Existe uma falsa verdade entre os fãs de quadrinhos que, para que uma adaptação no audiovisual dar certo, ela precisa ser fiel à obra original. Pois bem, Hellboy e o Homem Torto é a prova de que uma adaptação deve… adaptar esse material para uma nova mídia, não apenas copiar quadro por quadro, sem levar em consideração as diferenças de linguagens entre as obras.

Na nova produção, estrelada por Jack Kesy (“Deadpool 2”) como Hellboy, há uma forte tentativa de se destacar o lado mais sombrio do personagem criado nos quadrinhos por Mike Mignola que, por sua vez, co-escreve o roteiro ao lado Christopher Golden (seu parceiro criativo em várias das HQs do personagem nos últimos anos) da nova adaptação cinematográfica. Reforçando ainda mais que nem mesmo com o envolvimento direto do criador do personagem garante uma boa adaptação em outra mídia.

Hellboy e o Homem Torto

Na quarta adaptação de Hellboy nos cinemas, sendo essa a segunda tentativa de reboot, vemos o personagem-título se unir a parapsicóloga Bobbie Jo (Adeline Rudolph), uma agente novato da Agência de Investigações Paranormais B.P.R.D, na década de 1950.

Nos Apalaches, eles descobrem uma pequena comunidade assombrada por bruxas e liderada pelo sinistro demônio local, conhecido como o Homem Torto, que possui uma obscura conexão com Tom Ferrell (Jefferson White), o local que volta à vila para resolver suas pendências com o demônio.

Diferente dos outros longas do personagem, o novo filme busca uma conexão maior com os quadrinhos de Mignola, que são, em sua maioria, pequenos contos de terror, em que o protagonista e um grupo de personagens, que trabalham junto com ele na B.P.R.D, unem-se para resolver um problema de origem sobrenatural.

Crítica | Hellboy e o Homem Torto é a prova que não tem que copiar a HQ
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Hellboy e o Homem Torto tenta, a todo momento, se posicionar como um filme menor em escala – principalmente se comparado com as superproduções de ação, como ótimos filmes dirigidos por Guillermo Del Toro em 2004 e 2008, e também como o reboot fracassado estrelado por David Harbour em 2019. Apesar disso, o quarto filme do personagem criado por Mignola só tem isso como predicado, uma vez que a execução…

Torto é o filme

É difícil começar a falar o que há de torto no longa para além do seu antagonista. A montagem é confusa, os diálogos são péssimos, os atores são ruins, a proposta de folk horror falha na tentativa de te assustar… e a lista não para.

Dito isso, é impossível deixar de citar o trabalho de Brian Taylor, afinal, ele que comandou essa bagunça. Taylor ficou conhecido por dirigir os filmes da franquia “Adrenalina”, protagonizada por Jason Statham, no entanto, ele já se aventurou no mundo dos heróis com o quase inacreditável “Motoqueiro Fantasma – Espírito de Vingança”, que curiosamente se aproxima muito no estilo cartunesco e da total falta de intenção em contar uma boa história.

A receita indigesta

Talvez uma das coisas mais marcantes do segundo filme solo do Motoqueiro Fantasma foi a ideia de Taylor, que criou uma cena completamente isolada da realidade no longa, onde o protagonista vira de costas para a câmera e começa a mijar FOGO. Tudo isso, porque o diretor achou uma ideia genuinamente maneira.

Por mais inacreditável que isso possa parecer, ele conseguiu repetir o feito aqui. Não de maneira tão idiota quanto a cena acima, mas tão deslocada quanto. Em determinado momento somos apresentados a uma bola amaldiçoada com magia de bruxa, e o que o diretor faz a seguir? Cria uma cena em que uma bruxa – que nunca mais volta em cena durante todo o longa – explica a receita, como se fosse uma espécie de Ana Maria Braga dos Infernos. Isso também contribui muito para outro aspecto extremamente falho no longa: um terror nada assustador.

Um terror que não te assusta

Poucos dias depois de ter saído da cabine de imprensa do bom terror atmosférico (embora irregular como filme) de Longlegs, é triste ver que não existe nenhuma escolha, seja de planos, trilha sonora ou mesmo artística.

Hellboy e o Homem Torto parece uma sucessão de tentativas em te assustar, e ele consegue errar todos os alvos. As técnicas de Taylor, vão do jumpscare de som, sussurros e câmera subjetiva, mas boa parte do que não dá certo é porque não existe uma sensação de perigo, sobretudo quando o protagonista solta alguma frase de efeito, que era pra soar engraçadinha, mas é só constrangedora mesmo.

Crítica | Hellboy e o Homem Torto é a prova que não tem que copiar a HQ
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Um filme pobre (em todos os aspectos)

Custando cerca de 20 milhões de dólares, esse filme é, de fato, mais pobre que seus antecessores, mas não falo apenas num sentido de produção. A proposta não funciona, os personagens são desinteressantes e até mesmo a mitologia é falha, fraca e nada assustadora. Tudo fica pior quando um longa tão problemático não consegue nem te enganar com belas cenas de ação ou cenários incríveis. De forma melancólica, Hellboy e o Homem Torto parece ser o último capítulo do personagens nos cinemas por um bom tempo.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.