Em um universo onde heróis e vilões se tornam cada vez mais complicados e menos definidos, Invencível encontra sua força em um lugar inusitado. A 3ª temporada da série continua a apostar no jogo da moralidade, e o episódio 5, intitulado “Era Para Isso Ser Fácil”, é mais um elo dessa corrente que se aprofunda nas camadas dos personagens coadjuvantes. Ao contrário dos episódios anteriores, que avançaram de maneira vertiginosa, esse episódio é mais um “pause”. Levando em consideração às críticas que venho fazendo semanalmente, fica evidente que essa pausa dentro de um jogo maior, mas que não perde a sua relevância. Aqui, Invencível é mais sobre as relações e dilemas que surgem nas sombras das grandes batalhas que parecem, à primeira vista, ser o foco da trama.
Dúvida moral
O foco de Era Para Isso Ser Fácil gira em torno de um dos coadjuvantes mais esquecíveis da 1ª temporada: Titã. Desde sua aparição inicial, Titã foi apresentado como uma figura dúbia, um vilão que, na realidade, não passava de mais uma peça no tabuleiro de poder do universo de Invencível. Se no primeiro ano ele foi um personagem cuja motivação parecia clara – substituir um chefe do crime para tomar controle de um território – aqui ele reaparece em um contexto muito mais humano.
É difícil não perceber que a série, mesmo com seu toque de ação e aventuras intergalácticas, se mantém centrada nas questões morais e nas disputas internas dos personagens. A tensão entre querer proteger sua família e se envolver no jogo de poder que envolve organizações criminosas como a Ordem, é o reflexo do dilema que muitos enfrentam em um mundo em que as escolhas nem sempre são fáceis.
É nesse contexto que a narrativa do episódio se desvia de suas grandes ameaças galácticas, como a iminente invasão Viltrumita ou os confrontos com Omni-Man, e se concentra na trama mais “local”, mais introspectiva e, ao mesmo tempo, não menos crucial.
Ao criar essa divisão, o roteiro da série faz uma afirmação ousada: a verdadeira luta pode ser uma questão de visão e escolha, não de força. Isso fica evidente quando Titã ao mostra para Mark a “grandeza” de sua cidade sob sua tutela, sugere que talvez o conceito de vilania seja relativo. Aqui, a série se utiliza de uma alegoria profunda: o poder, por mais corrompido que pareça, pode ser usado para o bem, dependendo da perspectiva de quem o detém.
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Essa exploração dos limites entre o bem e o mal é, sem dúvida, uma das características que mais se destaca na série. A decisão de Titã de não seguir os moldes tradicionais dos criminosos, mas ainda assim se manter no topo da pirâmide do crime, é um reflexo direto dos próprios dilemas de Mark. Em um mundo onde o preto e o branco se tornam cada vez mais difíceis de distinguir, Invencível faz com que o público se questione: até que ponto nossas ações são justificáveis, dependendo do que estamos tentando proteger?
O crescimento dos personagens
Outro ponto central desse episódio é o desenvolvimento de Mark e Eve. A relação entre os dois nunca foi simples. Eles são jovens, e como tal, suas decisões são permeadas por uma impulsividade que, por vezes, os leva a agir sem refletir sobre as consequências. A decisão de ambos de morar juntos é uma das tentativas de amadurecimento, mas o episódio nos mostra que ainda estão longe de ter um controle total sobre seus sentimentos e sobre os caminhos que desejam seguir.
O roteiro é certeiro na maneira como ele consegue fazer esse dilema íntimo se conectar com a narrativa maior. A série não se perde em diálogos desnecessários ou em situações que só existiriam para manter os protagonistas na história. O conflito deles é legítimo, e a decisão de adiar a mudança para um novo apartamento, por mais simples que pareça, é, na verdade, um marco de crescimento.
Ao longo da temporada, vemos como Invencível – o herói – têm amadurecido, não apenas em poder, mas também em responsabilidade. No caso de Mark, ele tem cada vez mais a consciência de que sua família precisa dele. E, ao mesmo tempo, seu papel como irmão mais velho de Oliver começa a se transformar em uma figura paterna. O dilema de ser um herói e, ao mesmo tempo, alguém que precisa cuidar de seus entes queridos é uma linha que a série trabalha com maestria.
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Eve, por sua vez, também se vê desafiada a lidar com a realidade de suas escolhas. Seu pragmatismo em querer gerar uma renda para viver, usando seus poderes, reflete uma das características mais humanas e realistas de sua persona. Afinal, quem nunca precisou encontrar meios criativos para sobreviver em um mundo que, por mais cheio de maravilhas, também é duro e imprevisível?
A tempestade de poder
Embora o episódio 5 de Invencível seja marcado por momentos de introspecção e dilemas morais, a série não abandona sua essência de ação. A batalha final contra Mister Liu, que se transforma em um dragão gigante, traz uma explosão de cores e animações impactantes. O trabalho da equipe de animação, mais uma vez, é de tirar o fôlego. A transição entre a calma das discussões e o caos da luta é feita de maneira quase cinematográfica, onde cada movimento dos heróis e vilões é amplificado pela fluidez da animação.
A química entre Mark e Eve, já sólida, se revela mais uma vez durante a luta. O que poderia ser apenas uma troca de golpes entre heróis e vilões se torna uma dança de estratégias, onde o trabalho em equipe e a confiança mútua. As cenas de ação são bem coreografadas, mas mais do que isso, elas servem como uma extensão das relações entre os personagens. A ação não é apenas para excitar o espectador, mas para reforçar a narrativa sobre a parceria e o sacrifício entre o casal.
Ciclo do crescimento de Invecível
Invencível, ao trazer esse episódio aparentemente “filler”, se apropria de uma técnica que poucas séries de super-heróis ousam explorar. O episódio não avança a grande trama, mas adiciona uma riqueza indispensável à jornada dos personagens. É um lembrete de que nem toda narrativa precisa ser marcada por grandes confrontos ou revelações; às vezes, o verdadeiro desenvolvimento está nas escolhas e nas consequências mais sutis.
Como a história de Titã nos mostra, a verdadeira luta de um herói pode não ser contra um vilão de outro planeta, mas contra os próprios dilemas de sua vida cotidiana. Invencível faz um brilhante trabalho ao equilibrar momentos de introspecção com cenas de ação, e ao usar os coadjuvantes de maneira inteligente, enriquecendo a história principal.
Em uma temporada cheia de promessas ameaças iminentes e batalhas intergalácticas épicas, é bom lembrar que, às vezes, as maiores batalhas estão acontecendo dentro de nós mesmos.
Os episódios novos da 3ª temporada de Invencível são lançados todas as quinta-feiras, exclusivamente no Prime Video.
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