Invocação do Mal 4: O Último Ritual
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Crítica | Invocação do Mal 4: O Último Ritual é o adeus que os Warrens mereciam

Levando ao limite um caso onde o sobrenatural é mais íntimo e devastador do que nunca

Chegar ao quarto filme de uma franquia de terror é sempre um desafio. Muitas vezes as ideias se repetem, os sustos perdem força e a sensação é de que não havia necessidade de ir tão longe. Mas Invocação do Mal 4: O Último Ritual mostra que ainda havia algo a ser contado. Não é o filme mais inovador da série, mas entrega aquilo que mais importava: uma despedida intensa, sobrenaturalmente poderosa e carregada de emoção para os Warrens.

A trama resgata o Caso Smurl, um dos mais famosos da carreira do casal de investigadores. No longa, a família é atormentada por uma entidade ligada a um espelho antigo e amaldiçoado, que transforma sua casa em um campo de batalha espiritual. É através desse objeto que o mal se manifesta, e a cada nova aparição, a sensação é de que o poder demoníaco cresce e se aproxima de forma cada vez mais pessoal.

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O diferencial de O Último Ritual está justamente aí: pela primeira vez, o terror não fica restrito aos clientes dos Warrens. Ele invade a intimidade de Ed (Patrick Wilson), Lorraine (Vera Farmiga) e sua filha Judy (Mia Tomlinson), atingindo diretamente a família. Judy, prestes a se casar com Tony (Ben Hardy), começa a perceber que herdou da mãe uma sensibilidade espiritual que não pode ignorar. O fato de o mal mirar também nela transforma a narrativa em algo muito mais intenso. Não estamos mais apenas vendo os Warrens salvar desconhecidos, mas sim lutar pela própria sobrevivência.

Claro que há espaço para dilemas pessoais. A saúde de Ed segue debilitada, Lorraine lida com o medo de perder o marido e Judy tenta equilibrar seu futuro com um dom que pode ser maldição. Esses elementos poderiam ser apenas distrações, mas no contexto de um último capítulo funcionam como peças fundamentais de uma despedida. Eles reforçam a humanidade do casal e lembram que, por trás das investigações, sempre houve uma família tentando se manter unida em meio ao caos.

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O diretor Michael Chaves, bastante criticado em trabalhos anteriores dentro do “Invocaverso”, surpreende aqui. Sem tentar copiar James Wan, ele constrói um terror mais equilibrado, evitando o excesso de CGI e o acúmulo de “sustos baratos”. Os jumpscares são recorrentes, mas nunca gratuitos. Cada aparição sobrenatural tem função narrativa, e algumas sequências como a de Judy em um labirinto de espelhos já figuram entre os melhores momentos da franquia.

O design das entidades demoníacas e o mapeamento da casa dos Smurl reforçam a atmosfera claustrofóbica do longa. É nos últimos trinta minutos que tudo ganha corpo: o clima sufocante, os ataques constantes e a sensação de desespero finalmente se consolidam. Não há aqui cenas tão icônicas quanto as de “Invocação do Mal” (2013) ou “Invocação do Mal 2” (2016), mas o peso dramático desse clímax faz jus ao encerramento.

E nada disso funcionaria sem Patrick Wilson e Vera Farmiga. A química entre os dois continua sendo o coração da franquia. Eles transformaram Ed e Lorraine Warren em figuras inesquecíveis, que extrapolam o gênero e se tornam símbolos de amor e resistência diante do mal. Em O Último Ritual, ambos entregam atuações carregadas de emoção, conscientes de que estão vivendo a última batalha desses personagens.

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No fim, Invocação do Mal 4: O Último Ritual não tenta ser maior que seus antecessores, mas sabe muito bem qual é a sua função: fechar as cortinas com respeito, emoção e a medida certa de medo. O filme reconhece seus tropeços, mas compensa ao oferecer um encerramento digno para Ed, Lorraine e Judy.

Para quem acompanhou os Warrens desde o início, fica a certeza de que o adeus foi à altura. Não é apenas o fim de uma franquia de terror, mas a conclusão de uma história sobre fé, coragem e família. E, nesse sentido, O Último Ritual cumpre seu papel: é o último enfrentamento, o capítulo final de uma saga que transformou os Warrens em lendas modernas do cinema de horror.

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Jornalista e formada em Cinema, apaixonada por cultura asiática e por contar histórias. Provavelmente já assisti tanto aos filmes do Adam Sandler que poderia atuar em qaulquer um sem precisar de roteiro.