Kendrik Lamar encostado na porta de um GNX, carro que dá título ao álbum.
Kendrick Lamar lançou de surpresa GNX, seu novo álbum. Foto: divulgação.

Crítica | Kendrick Lamar celebra vitórias em GNX, álbum menos denso e mais pop

2024 já seria um ano pra ficar marcado na carreira de Kendrick Lamar por conta da vitoriosa batalha contra Drake. A rivalidade entre dois dos grandes nomes do rap dos últimos anos culminou com a aclamação de crítica e público para “Not Like Us”, resposta final do estadunidense ao canadense. Mas eis que Lamar resolve fazer um último grande ato antes do fim do ano: o lançamento de um álbum surpresa, GNX.

Com 12 faixas inéditas, o disco lançado sem nenhum aviso prévio na última sexta-feira (22), é inegavelmente um fruto de “Not Like Us” e todos os desdobramentos que envolveram a disputa com Drake. Aqui, o artista abre mão do experimentalismo e a complexidade lírica dos trabalhos anteriores para soar mais pop e direto do que nunca.

Em seu sexto álbum, Kendrick expande o estilo de suas diss tracks e faz um rap mais simples e enxuto, como se este fosse o ato final de sua guerra, no qual ele assume de vez o trono de grande astro do hip hop e faz de “GNX” uma grande alto-celebração, com elementos das suas origens em Los Angeles, provocações ao rival, uma dose de ostentação e faixas com vocação para hit.

A abertura com “Wacced Our Murals”, já deixa estes elementos bastante evidentes. A faixa inicia com a voz da cantora mexicana Deyra Barrera, seguido dos versos de Lamar sobre tudo o que pensa do atual cenário do hip hop e alfineta colegas como Lil Wayne e Soop Dog. O tom de vitória e invencibilidade continua em músicas como “Man at The Garden” e “Hey Now”.

Artilharia pesada no pop

Kendrick Lamar encostado em frente ao GNX na capa do seu novo álbum.
Capa de “GNX”, novo álbum de Kendrick Lamar. Foto: divulgação.

Para reforçar o foco no pop, Kendrick Lamar contou com a contribuição de Jack Antonoff como principal nome na produção do álbum. O produtor conhecido por sua parceria de longa data com Taylor Swift e por sua quase onipresença no pop estadunidense dos últimos anos, se mostra irreconhecível aqui, apresentando estética e elementos sonoros bem afinados e diferentes da formula já bem saturada que ele costuma utilizar em colaborações com outros artistas.

A produção em “GNX” parece servir bem ao propósito dos versos de Kendrick e transita entre o blues, o r&b, as raízes do hip hop e samples da soul music. Nessa equação ainda se junta a excelente contribuição de parceiros como SZA, que aparece em duas das melhores faixas da obra: “Luther” e o encerramento com “Gloria”.

Em “Reincarnated”, Lamar volta a evocar Tupac (que aparece também no álbum To Pimp A Butterfly), sua maior referência, com um sample de “Made N****z”. A faixa parece conter uma nova cutucada em Drake que durante a batalha recriou a voz do rapper morto em 1996 através de inteligência artificial, em uma das suas diss tracks.

“Heart pt 6” ignora a provocação de Drake (que nomeou uma das suas diss como “The Heart Part 6”) e da continuidade a série de músicas com o título, desta vez fazendo uma revisão da sua própria carreira, com conselhos para as novas gerações.

Em “GNX” Kendrick Lamar joga para a galera e entrega de surpresa um álbum menos denso e essencialmente pop. O disco parece vir como uma celebração e uma autoconsagrarão após um ano de vitórias e uma prévia do que está por vir em 2025 com o seu show no intervalo do Super Bowl. Pode não ser uma obra tão grandiosa quanto as anteriores, mas ainda assim está acima da média e em um alto nível de excelência.

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