A Apple TV+ disponibilizou na última sexta-feira (4) o quinto episódio de Ladrões de Drogas, sua série estrelada por Brian Tyree Henry e Wagner Moura. Em “Temente a Deus”, vemos a série deixar um pouco de lado a tensão constante para dar lugar a novas emoções que podem enriquecer a trama e trazer um final com mais peso narrativo.
A arte de aprofundar personagens dá as caras
Após um episódio com mais ação e uma boa dose de insanidade, Ladrões de Drogas conseguiu trazer algo ainda melhor na última semana seguindo na contramão desta linha. Um dos pontos negativos a serem apontados até então era o quanto a obra flerta em mostrar o passado e aprofundar seus personagens mas não faz talvez como deveria – e esse erro ainda persiste com Manny, o que pode mudar em breve – mas tivemos uma bela demonstração de que a paciência nesse caso vale a pena.
Isso porque nos mostrar pouco do passado de Ray só nos leva a entender o quão memórias traumáticas estão adormecidas dentro dele, principalmente as que remetem ao pai criminoso. Em “Temente a Deus” somos apresentados de forma mais concisa aos motivos do protagonista principal não alimentar justamente sua fé – seguindo assim o caminho contrário ao do amigo brasileiro, que agora busca redenção espiritual por seus erros, principalmente os recentes.
Parte desse pensamento de Ray vem de viver em um cenário onde o ato de acreditar em algo melhor não parece opção e sobreviver a qualquer custo é o objetivo, o que claramente aprendeu com seu pai. Logo nos primeiros minutos nos é revelado que Bart (Ving Rhames) utilizava da inocência de seu filho para traficar drogas, comprovando o óbvio: sua influência negativa sobre Ray, que foi obrigado a ver seu pai passar por muitas coisas, como apanhar da polícia.

E assim, os personagens secundários evoluem
Ainda dentro desse ritmo emocional que guia o episódio, o que antes parecia ser um erro – a escolha de dar mais tempo de tela a personagens secundários – desta vez surtiu efeito, principalmente por focar em quem realmente nos importa ao menos um pouco e aumentando assim esse grau de empatia.
Son (Dustin Nguyen), por exemplo, demonstrou se importar mais do que parece com Ray, lhe passando um código por telefone deixando claro que, se ele “abrisse o bico” demais durante a ligação poderia se prejudicar, já que policiais estavam ao seu redor ouvindo tudo.
Falando em Son, ele protagoniza uma de duas cenas que me chamaram muita atenção, onde a câmera se aproxima lentamente de seu rosto e a trilha sonora quase que silenciosa demonstra que, por trás da serenidade que busca manter em sua fisionomia, está a preocupação constante. Logo em seguida, ainda na mesma cena, a série nos mostra que esse medo não é por ele, que não parece ter medo de morrer, mas sim por seus familiares, que estão constantemente sendo vigiados pela gangue que persegue Ray e Manny.
Já a segunda cena é protagonizada pela policial infiltrada Mina (Marin Ireland), que confesso não ter tido qualquer tipo de interesse em ver em cena até este episódio, que mudou drasticamente essa minha perspectiva. Em “Temente a Deus” podemos ver a real profundidade da personagem ao buscar informações úteis na casa de seu falecido parceiro e amante, confrontando inclusive a viúva.
Já próximo ao fim do episódio, somos levados ao ápice dessa aproximação ao ver a personagem que busca sempre aparentar ser forte emocionalmente – temos um padrão aqui – desmoronar em cena ao pensar em tirar sua vida, mas recorrer a uma importante conversa por telefone com um atendente do centro de prevenção a suicídio.
Vale aqui a informação: Caso precise de apoio emocional e tenha a mente minada por pensamentos perigosos, fazer como Mina pode ajudar. No Brasil, temos o telefone 188, ligado ao Centro de Valorização da Vida. Se precisar, procure ajuda.


Um romance repentino, mas promissor
Aqui preciso fazer uma crítica negativa ao romance de Ray e Michelle (Nesta Cooper). O interesse da advogada pelo filho de seu cliente era claro desde suas primeiras aparições, mas não foi o suficiente para convencer que, mesmo sem saber o que Ray realmente fez e percebendo o quão arriscada é a situação, mergulhar de cabeça em um romance com o mesmo.
A cena em que o casal se encontra na igreja e tocam as mãos pela primeira vez, porém, é poética. Ela demonstra o quanto Ray possui dificuldades em confiar e até mesmo ajuda a entendermos melhor a aproximação repentina dos dois, que rapidamente culmina na decisão de engatar um romance.
Apesar de arriscado demais para parecer real, a relação tem potencial para enfim engatar Michelle na trama e envolve-la de verdade em seu desenrolar, algo que a série ameaçava fazer a alguns episódios. Assim, não só poderemos nos importar mais pela personagem de Nesta Cooper, como também poderemos conhecer mais da mente do protagonista.

Wagner Moura volta a ser “deixado de lado” – e tá tudo bem
Como é de interesse do público brasileiro, é importante destacar a atuação de Wagner a cada episódio. Após ter bastante tempo de tela e aprofundar a amizade com Ray na última semana, Manny segue com boas aparições em “Temente a Deus” – dando inclusive sentido ao nome do episódio – mas ainda bem distante do que temos do personagem de Brian Tyree Henry.
Ainda assim, como da primeira vez em que isso ocorreu – preciso ser justo -, essa ausência foi positiva, visto que o que vimos de Wagner na pele de Manny foi suficiente para aprofundar o personagem e seguir mostrando que por trás do imigrante criminoso há mais inocência do que parece, além de sermos convencidos por sua fé e busca por redenção, mesmo que isso possa resultar em problemas a ele e seu melhor amigo.
No entanto, assim como vimos acontecer neste episódio com Ray e Mina, espero que tenhamos um foco maior no passado de Manny em breve, mostrando como a mentalidade e personalidade do personagem foi construída. Explorar como a amizade entre os protagonistas iniciou na prisão também seria uma boa escolha da trama ao meu ver, mas só restam três episódios para isso e a série precisa de um fim satisfatório.
A propósito, se eu não estiver enganado, este foi o primeiro episódio em que Manny fala com todas as letras bem rapidamente que nasceu no Brasil, mas isso já estava claro, ao menos para o público brasileiro – mas ainda assim é curioso.

Ladrões de Drogas retorna nesta sexta-feira (11) com seu sexto episódio no Apple TV+. Seguimos acompanhando semanalmente a atual aventura de Wagner Moura em Hollywood!
Leia as críticas anteriores:
- Primeiras Impressões | Ladrões de Drogas prova que se envolver com o crime nunca compensa
- Crítica | Ladrões de Drogas – 1×3: Cabeças vão mesmo rolar?
- Crítica | Ladrões de Drogas –1×4: Encarando a insanidade
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