Lily Allen esteve longe da música por sete anos desde o lançamento de “No Shame” (2018), seu quarto álbum. Neste tempo a artista britânica se dedicou a maternidade e ao casamento com o ator David Harbour; casamento esse que acaba de forma turbulenta e é o gatilho para um novo álbum que retrata toda a ruína e caos que a cantora tenta processar em sua mente: West End Girl.
Ao longo de 14 faixas Allen vai abrindo sem nenhum pudor e com muita honestidade, detalhes de como sua relação com o ex-marido foi se deteriorando e a levando a rumos trágicos. Aqui a artista se mostra muito confessional, contando cada detalhe como quem se abre com uma amiga e vai narrando os acontecimentos com sua já conhecida fina camada de ironia e humor ácido, usados como uma ferramenta para tentar entender todo o absurdo que viveu.

“West End Girl”, que dá nome ao disco, tem algumas das letras mais fortes e ao mesmo tempo mais vulneráveis já compostas por Lily Allen, é impossível não se colocar em seu lugar e contemplar um pouco do choque e da confusão de sentimentos que ela expõe. A produção minimalista contribui para que os versos se sobressaiam, formando um pop que não está preocupado em ser comercial, mas não deixa de ser acessível e se fixar na mente.
A sensação é a de que a artista está despejando uma gama de informações acumuladas sem muita preocupação em soar correta, o que acaba sendo um grande trunfo do álbum que transborda em humanidade e a coloca de igual para igual com o ouvinte, com momentos que lembra o clássico “It’s Not Me, It’s You” (2009), ao mesmo tempo em que apresenta seu trabalho mais maduro

A faixa-título abre a obra com Allen narrando o distanciamento emocional do ex-marido e um certo desconforto ao anunciar que vai viajar para fazer uma peça em Londres. A partir daí as coisas vão apenas se agravando. Em “Ruminating” ela recebe um pedido para abri o relacionamento e a batida eletrônica dá conta de ilustrar a ansiedade cresecente.
A partir daí a cronologia dos fatos vai ficando confusa, como se a própria cantora ainda não entendesse bem a ordem dos acontecimentos e estivesse tentando organizar suas memórias. Em “Sleepwalking” ela se dá conta de que o ex-marido não a ama, mas não tem coragem de deixa-la. Em “Tennis” vem as primeiras revelações de traições e em “Madeline” Allen descreve uma conversa com a amante.

“Pussy Palace” é uma das faixas mais fortes do álbum. Aqui Lily descreve um apartamento em que o marido guardava brinquedos eróticos por várias partes e uma série de encontros sexuais as escondidas que colocaram o que restava de ilusões sobre o casamento a baixo. O contraste entre a letra e o canto leve, quase sussurrado, deixa tudo ainda mais impactante.
Em “Nonmonogamummy” ela desabafa sobre ter aceitado entrar em um relacionamento aberto para tentar salvar o casamento mas acabar se sentindo cada vez mais insegura e distante. “Dallas Major” traz o desconforto de entrar em apps de relacionamento. “Fruityloop” encerra o álbum com uma certa beleza agridoce. A artista tenta se resignar e olhar para a frente, pro recomeço da vida e o reencontro consigo mesma.
Em West End Girl, Lily Allen volta com força total para a música, apresentando um dos seu melhores trabalhos. Enquanto ela tenta juntar os cacos após um divórcio doloroso, apresenta um álbum que traz delicadeza e vulnerabilidade, na mesma medida em que é marcado por uma sinceridade cortante e um desabafo sem restrições. Tudo isso sem deixar de ser pop e resgatar o brilho que possivelmente até a própria a cantora havia esquecido que tinha.
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