Raramente um retorno foi recebido com tanto entusiasmo e ao mesmo tempo com tanta crítica como o recente ressurgimento do Linkin Park, que veio com o anúncio de From Zero. Veja, já se passaram sete anos desde o último álbum de estúdio da banda (“One More Light”), que foi lançado dois meses antes do querido vocalista Chester Bennington tragicamente tirar sua própria vida.
Desde então, os fãs aguardavam ansiosamente para saber se, quando e como o Linkin Park continuaria. Quando anunciaram que Emily Armstrong, cofundadora da banda Dead Sara, seria a nova vocalista, muitos devotos ficaram indignados.
Afinal, a ideia de alguém assumir o lugar de Bennington foi vista como uma verdadeira heresia. Além disso, os laços de Armstrong com a cientologia e com o condenado por estupro Danny Masterson naturalmente geraram controvérsias.
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Mas, o que dizer de material novo? Uma turnê comemorativa pelo mundo tocando os grandes sucessos é uma coisa, mas será que essa versão de 2024 do Linkin Park conseguirá alcançar os mesmos patamares e capturar algo da mágica que a banda aperfeiçoou nas duas últimas décadas?
Como alguém que se propõe a analisar um disco de retorno de uma das últimas grandes – no sentido quantitativo e popular mesmo – bandas de rock, quero reforçar que, embora o Linkin Park tenha, inerentemente, feito parte da minha adolescência, não sou um fã, tampouco acompanhei seus trabalhos depois de “Meteora”, um disco de mais de 20 anos. Dito isso, vamos para From Zero.
Um acréscimo
É importante destacar que Armstrong não é uma substituta para Chester – ninguém pode substituir a voz e a alma de uma banda – mas sim um acréscimo, como uma forma de prolongar a vida útil do Linkin Park e levar sua magia às massas, o poder e a destreza vocal dela são sensacionais. Isso fica evidente no impacto das músicas “Over Each Other”, uma balada arrebatadora onde Emily lamenta um relacionamento condenado, e “Casualty”, uma faixa explosiva e cheia de energia em que ela grita “Eu não serei sua vítima!” em uma das músicas mais intensas que o Linkin Park já lançou.
A banda também ousa sair ainda mais da sua zona de conforto com a dançante e cheia de groove “Overflow”, desafiando as expectativas do que os fãs esperam dos titãs do nu-metal que evoluíram para o rock de estádio.
Entrosamento
Vale ressaltar que, além de Armstrong, o produtor e músico Colin Brittain se tornou o novo barista do Linkin Park, assumindo o lugar que pertencia a Rob Bourdon desde o início da banda. A terceira mudança na formação acontece nos shows. O guitarrista Brad Delson, um dos fundadores do grupo, participa apenas das atividades em estúdio na nova etapa, sendo substituído ao vivo por Alex Feder.
Para ser sincero, com excessão da nova vocalista, não senti uma mudança significativa no som da banda, principalmente se comparado aos dois primeiros discos, e talvez esse seja um dos maiores méritos de seus novos sons, visto que, apesar de explorar novos horizontes sonoros, From Zero nunca esquece quem é o Linkin Park e o que os tornou tão especiais.
A interação vocal entre Mike e um contraponto mais visceral, os detalhes mecânicos e imprevisíveis do Dj Mr. Hahn, servindo como um canal para extravasar e canalizar toda a dor e negatividade – tudo isso envolto em uma produção redonda.
Esses aspectos são evidenciados em “Cut the Bridge” e “Two Faced”, que, aliás, reforçam a importância de Shinada e Hahn, os nomes que, particularmente, considero o que diferenciou o Linkin Park do restante do Nu Metal do início dos anos 2000. Me desculpem os fãs do Chester, mas muitas bandas da época tinham bons vocalistas que faziam gutural, mas quase nenhuma conseguiu misturar de forma orgânica – e comercial – o rock, a música eletrônica e o rap.
From Zero pra quem?
Apesar dos adjetivos, é evidente que um álbum com esse nível de mudança dentro das estruturas de uma banda chega com sentimentos mistos de inúmeros fãs, mas quando avaliado por seus próprios méritos, separado das controvérsias, From Zero é uma experiência muito agradável – e até nostálgica – que demonstra como Armstrong se encaixa bem na banda e como o Linkin Park manteve suas marcas registradas tão adoradas.
Digo mais, enquanto não fã, só interessei pelo retorno da banda quando soube que Armstrong seria a nova vocalista. E fui recompensado depois de ouvir a agressividade confrontadora de “The Emptiness Machine” e posteriormente “Heavy Is the Crown”.
Para o meu gosto pessoal, a flutuação entre o doce e o gutural de um vocal feminino é muito mais interessante. E talvez é nesse ponto que o disco funcione tão bem como um recomeço. Ele olha para o passado, resgatando fãs do seus tempos áureos, mas traz mudanças que podem atingir um novo público, evitando que o Linkin Park se transformasse num cover de si.
Não seria justo dizer que os fãs do Linkin Park não têm motivos válidos para se opor automaticamente a From Zero, no entanto, sob uma lente artística, o álbum é extremamente bem-sucedido em recapturar um Linkin Park que não existia há muito tempo.
Dito de outra forma, ouvintes que abordarem From Zero com uma mente aberta e receptiva descobrirão que este é um retorno triunfante de uma das maiores bandas de rock dos últimos 25 anos.
Claro, nem toda música é marcante, e nem todos os fãs vão aceitar de imediato uma nova vocalista, mas, como obra, é um lembrete claro do porquê o Linkin Park alcançou o sucesso que teve e continua influenciando várias gerações de artistas. Bem-vindos de volta!
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