Depois de despontar no cenário musical brasileiro em 2023 com o aclamado “Jesus Ñ Voltará”, seu segundo disco, Mateus Fazeno Rock dá continuidade a sua trajetória expandindo seus horizontes sonoros e as perspectivas apresentadas no projeto anterior com “Lá Na Zárea Todos Querem Viver Bem”, seu mais novo álbum e o primeiro na gravadora carioca Deck.
Se em “Jesus Ñ Voltará” o cantor e compositor cearense partia do rock, do blues e do hip hop para contar histórias vividas ou testemunhadas durante suas origens na periferia de Fortaleza, marcadas pela profundidade lírica e a atmosfera melancólica, porém permeada de beleza e delicadeza, o novo disco chega como um contraponto ao anterior, ao mesmo tempo em que o complementa.

Ao longo das 10 faixas autorais com produção do próprio Mateus em parceria com Fernando Catatau (Cidadão Instigado) e Rafael Ramos (Los Hermanos, Pitty), o foco é a mensagem evidente logo no título da obra, com o artista se voltando para o amor e cenários cotidianos em meio aos desafios da vida na favela. Aqui, a tônica política e social continua latente, porém ela divide espaço com momentos de leveza, com o artista se permitindo colocar pra fora seu lado romântico.
Essa proposta já fica clara no texto de apresentação do disco em que o próprio músico deixa claro o seu objetivo em “Lá Na Zárea Todos Querem Viver Bem”: “O nome do álbum é um chamado para perceberem nós, pessoas faveladas, longe do estigma da dor, do sofrimento e da violência“, disse.
O Resultado, é um álbum ainda mais rico em que o artista mantém a veia lírica e poética afiada, mas mostra experimenta novas possibilidades não só nas letras como também na sonoridade. Aqui o rock continua sendo a base, porém abrindo espaço para uma variedade maior e uma linguagem mais pop, dialogando com gêneros como o soul, o reggae, o samba e o baião; fazendo com que o disco seja surpreendente o tempo todo e nunca caia em um momento de repetição ou prolongamento.

A abertura com a faixa-título já deixa claro a que veio com o verso “Lá Na Zárea Todos Querem Viver Bem” sendo repetido como um mantra e reforçando a força desse desejo. Esse momento de um rock mais pesado, com a guitarra bastante presente, desagua em “Melô do Sossego”, um dos singles divulgados previamente: um mergulho na soulmusic brasileira com um aceno para Tim Maia e Cassiano e um refrão forte que fica ecoando na mente.
“Saturno e a Intuição” traz um reggae dançante que se desenrola em meio a letra regada à poesia. “Daquilo que Nois Merece”, parceria com Fernando Catatau, líder da banda Cidadão Instigado, e o beatmaker Nego Célio, traz sensualidade e romantismo para um cenário otimista que enxerga boas perspectivas para o futuro. “Arte Mata”, o primeiro single divulgado, ressalta a profundidade dos versos com momentos em que eles são apenas recitados.
“Mercado das Miudezas” é um reggae mais reflexivo. “Quando Você Volta” é outro momento de leveza e romantismo que encanta pelas imagens que vão sendo construídas a partir dos versos. “O Braseiro e as Estrelas” é um flerte entre samba e rock que reforça o clima introspectivo que via se desenrolando no final do disco com “Recordações” e o encerramento com a impactante “Liscença Pra Desabafar” música que é um dos pontos altos da obra e relembra a atmosfera de “Jesus Ñ Voltará”.
Mateus Fazeno Rock faz de “Lá Na Zárea Todos Querem Viver Bem” um manifesto pelo direito à beleza e a momentos de alegria e luz em meio a luta pela sobrevivência nas favelas. Um disco que se destaca pela versatilidade, o flerte com o pop e a combinação de ritmos com a força poética das composições, fazendo com que ele seja seja uma evolução do que o artista vinha apresentando anteriormente, seguindo com uma trajetória extremamente potente, interessante, e uma das canetas mais afiadas da atualidade.
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