Crítica | Meu Casulo de Drywall

Crítica | Meu Casulo de Drywall e a sutileza do adoecimento mental

Meu Casulo de Drywall, da diretora e roteirista Caroline Fioratti, é uma nova produção brasileira que mistura suspense, drama e tensão. É um filme que mostra como tudo é extremamente intenso na fase da adolescência e o quão atentos precisamos estar aos jovens à nossa volta.

A trama acompanha a festa de aniversário de 17 anos de Virgínia, interpretada por Bella Piero, na cobertura onde mora. Uma festa sem pais e aparentemente perfeita, mas que traz uma imensa dor para seus familiares no dia seguinte, pois Virgínia está morta. A história se passa em dois momentos: o antes e o depois do aniversário de Virgínia.

A Festa

Logo de início vemos Virgínia se preparando para a festa, e é possível ver um machucado em seu ombro, que aparentemente a deixa desconfortável. É notável um olhar triste na garota apesar da festa representar um momento de felicidade. Isso pode gerar um certo incômodo no telespectador pela mistura de sentimentos que a cena representa. Sua mãe, Patrícia (Maria Luisa Mendonça), recomenda que ela use um vestido dela, mas a garota nega e permanece com o que já estava usando. 

Assim que Patrícia vai embora, temos a chegada da melhor amiga da protagonista, Luana (Mari Oliveira), que entrega seu presente, que, na verdade, tem uma proposta além de felicitações: para que ambas estudem juntas em outra cidade.

Porém, a mãe de Virgínia não concordou com essa ideia, e o presente acaba gerando desconforto na garota. Na casa, já estava presente Gabriel (Daniel Botelho), um garoto conhecido por explodir câmeras no condomínio e que supostamente só foi convidado por ele ser filho da amiga de Patrícia. Logo vamos tendo a chegada de outros convidados, inclusive de seu namorado Nicolas (Michel Joelsas), que lhe entrega um presente caríssimo. Luana aparenta uma reação estranha com a relação de ambos, deixando a entender que existe um ciúme ou até mesmo inveja. 

Durante a noite, a tristeza de Virgínia vai ficando cada vez mais evidente e a ferida em seu ombro vai aumentando cada vez mais. O que antes parecia um pequeno machucado em seu ombro, começa a aumentar de tamanho e aparecer em outras partes do seu corpo. A parte mais intrigante é que ninguém comenta a respeito, dando a entender que somente os telespectadores conseguem ver os machucados. Seriam eles uma representação do estado psicológico da jovem?

O dia seguinte

Dor é o que define o dia seguinte da comemoração do aniversário de Virgínia. Patrícia aparece completamente desolada em meio ao luto e sendo amparada por amigos. Judge (Caco Ciocler), pai da garota, finalmente aparece no longa. Ao estar a sós com Patrícia, ele agride sua esposa, culpando-a pela morte da filha, dizendo que ela foi irresponsável, que Virgínia era uma criança que não sabia o que estava fazendo.

Pontua que Patrícia, como mãe, não deveria ter autorizado aquela festa e ter prezado pela segurança da menina, pois adolescentes são inconsequentes. De forma pouco sutil, Judge é uma representação da ausência paterna.

A melhor amiga, Luana, não aparenta tristeza com a morte de Virginia, e sim, culpa e preocupação com o próprio futuro. Enquanto isso, o namorado Nicolas também não demonstra se importar com o ocorrido ao não ir visitar os pais da jovem e seguir sua vida como se nada tivesse acontecido. Gabriel, que claramente é um garoto problemático, demonstra uma certa culpa e carrega consigo um segredo sobre a noite em que a garota se foi. Patrícia a cada cena parece estar beirando cada vez mais a loucura em meio ao luto de perder a própria filha, chegando a vestir o vestido que ela estava usando e a andar pelo condomínio carregando o bolo da festa. 

Entretanto, o filme mostra que cada um dos jovens presentes também estavam enfrentando seus próprios problemas em meio a todo aquele caos. Cada um deles carrega sua própria dor e sua própria monstruosidade, e entender esse mix de sentimentos pode ser difícil. Em diversos momentos é possível sentir raiva de Luana e Nicolas, que são quem mais deveriam estar sentindo a perda de Virgínia, mas é preciso se aprofundar com empatia em cada personagem para tentar entender minimamente cada reação. 

Meu Casulo de Drywall é um chamado para a juventude

O longa é uma ótima produção para pararmos para pensar sobre como tudo afeta em uma intensidade gigantesca a cabeça dos jovens do mundo todo. O fácil acesso a tecnologia e plataformas que podem moldar sua visão de mundo de forma completamente prejudicial, a romantização do uso de drogas lícitas e ilícitas, e a falta de profundidade nas relações humanas.

É necessário entender que, nesta fase da vida, qualquer coisa pode machucar muito. Precisamos ficar atentos aos jovens em nossa volta estão consumindo e criar um espaço de confiança e acolhimento para que eles se sintam confortáveis em conversar sobre as coisas que lhes acontecem e afetam. É nítido que Virgínia estava doente mentalmente, e a festa foi um gatilho para que as feridas aumentassem cada vez mais.

Caroline Fioratti conseguiu demonstrar todo esse drama adolescente com uma clareza absurda. Gerou desconforto, ansiedade e dor durante todas as cenas. É impossível assistir este filme sem se sentir desconfortável e ansioso para entender o que exatamente levou a protagonista a morrer no dia da sua festa. E é claro, é impossível não se emocionar com a dor da mãe em perder sua filha.

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