Stephen King já teve inúmeras adaptações para o cinema, algumas brilhantes (O Iluminado, Misery), outras esquecíveis (Colheita Maldita, A Torre Negra). O Macaco (2025), dirigido por Oz Perkins, se posiciona no meio-termo: tem momentos promissores, mas tropeça na execução. Apesar da premissa intrigante e de uma atmosfera bem construída, o filme sofre com um ritmo arrastado e uma narrativa que se perde entre o terror psicológico e o sobrenatural sem se comprometer totalmente com nenhum dos dois.
Um brinquedo demoníaco que merecia mais impacto
A trama acompanha Hal (Theo James), um homem que, ao lado do irmão gêmeo Bill (Também interpretado por James), encontra um antigo brinquedo de infância — um macaco de brinquedo que bate pratos metálicos. O problema? Cada vez que os pratos batem, uma morte acontece. A história segue Hal tentando entender a maldição e lidar com os fantasmas de seu passado, mas o roteiro nunca consegue aprofundar de fato a relação entre trauma e o terror sobrenatural.
O grande problema de O Macaco é que a tensão nunca explode de verdade. O longa investe em um terror atmosférico, com longas cenas silenciosas e uma trilha sonora discreta, mas sem momentos realmente impactantes. O diretor Oz Perkins já mostrou que sabe trabalhar o horror psicológico (A Enviada do Mal), mas aqui sua abordagem resulta em uma narrativa fria e distante.
Entre o terror e a comédia: uma mistura que não funciona
Curiosamente, o filme não se limita ao terror. O Macaco tem uma veia cômica que, ao invés de potencializar a experiência, acaba diluindo a tensão. Oz Perkins tenta um equilíbrio semelhante ao que Sam Raimi fez em Evil Dead, combinando momentos de violência gráfica com um humor irônico. No entanto, ao contrário do sucesso dessa fórmula em outros filmes, aqui o resultado parece desajustado.
O filme flerta com uma violência cartunesca, quase ao estilo Premonição, mas nunca assume de fato esse tom. É como se ele tentasse ser um terror gore, mas, ao mesmo tempo, evitasse ir até o extremo. Essa indecisão acaba deixando a experiência morna. Se fosse uma produção da Blumhouse, por exemplo, a abordagem provavelmente seria mais contida para garantir um apelo maior ao público adolescente e maximizar a bilheteria. Mas Perkins não se preocupa com essa limitação e mantém a violência em algumas cenas — só que, logo depois, o choque se dissolve no humor.
Essa constante quebra de tensão prejudica a imersão. Um exemplo claro disso está no uso do design sonoro: o barulho dos pratos do macaco é construído para criar expectativa, mas a cena seguinte frequentemente minimiza o impacto com uma piada ou uma abordagem exagerada. No final, o terror nunca atinge seu potencial máximo, e a comédia nunca se torna realmente engraçada.
Ritmo e desenvolvimento
Outro problema grave do filme é o ritmo. Perkins tem talento para estabelecer boas ideias, mas sua dificuldade aparece quando precisa desenvolver a trama ao longo do tempo. Como já foi perceptível em Longlegs, ele constrói bem a atmosfera, mas falha na progressão da narrativa. Aqui, isso se torna ainda mais frustrante, pois há uma ideia central intrigante que nunca se desenrola completamente.
O filme parece girar em torno de um conceito: quão bizarras serão as mortes? Ele mistura o terror sobrenatural com o suspense de um thriller psicológico e uma pitada de violência estilizada, tentando criar algo memorável. No entanto, a execução deixa a desejar. O roteiro se preocupa mais em apresentar uma sequência de assassinatos do que em construir personagens ou desenvolver um mistério envolvente. O resultado é uma experiência desconectada, onde a tensão se esvai e a narrativa se arrasta sem grandes surpresas.
O design sonoro, que deveria ser um dos pontos altos do filme, acaba sendo subutilizado. O som dos pratos do macaco é eficaz nas primeiras cenas, mas logo perde impacto. O mesmo acontece com os efeitos visuais e práticos: há bons momentos de gore, mas eles nunca são explorados de maneira realmente criativa.
Elenco e personagens
O elenco faz o possível com o material que tem, mas não há muito para brilhar. Theo James, no papel dos irmãos gêmeos, tem uma caracterização distinta para cada um, mas seu desempenho é morno e sem nuances. O filme até tenta explorar o impacto do trauma na vida adulta, mas não desenvolve isso de forma convincente. As frases de diálogo são fracas e pouco inspiradas, fazendo com que a dualidade entre os irmãos não tenha profundidade suficiente para ser memorável.
Os demais personagens servem apenas como peças no tabuleiro do roteiro, sendo eliminados um a um sem que o espectador se importe realmente com suas mortes. Não há um grande antagonista além do próprio macaco, mas o filme falha em fazer dele uma entidade assustadora o suficiente.
Veredito: um conceito interessante, mas uma execução fraca
No fim das contas, O Macaco desperdiça uma boa premissa com uma execução inconsistente. Osgood Perkins claramente sabe criar uma atmosfera intrigante, mas seu roteiro carece de foco e desenvolvimento. O terror é diluído pela comédia, o mistério nunca se torna envolvente e a progressão da trama é prejudicada por um ritmo irregular.
Se a ideia era criar um terror memorável, O Macaco fica longe disso. O filme acaba sendo apenas mais um na longa lista de adaptações medianas de Stephen King. Para os fãs do autor ou do gênero, pode até valer a pena conferir por curiosidade, mas não espere uma experiência marcante.
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