Crítica | O Quarto Ao Lado: Tilda Swinton e Julianne Moore rindo na cara da morte
Warner Bros./Divulgação

Crítica | O Quarto Ao Lado: Tilda Swinton e Julianne Moore rindo na cara da morte

O Quarto Ao Lado não vai te fazer chorar. Entre suas muitas qualidades, o novo filme de Pedro Almodóvar não busca deixar o espectador em prantos. A falta de lágrimas pode até surpreender. Afinal, trata-se de uma obra sobre a morte, e de forma ainda mais triste, envolve duas velhas amigas, sendo uma delas acometida pelo câncer, com a morte se mostrando implacável na tela, como na vida real.

A mulher à beira do abismo é Martha, uma nova-iorquina interpretada por Tilda Swinton, uma renomada ex-repórter de guerra. Sua amiga é Ingrid (Julianne Moore), é uma escritora que teme a mortalidade e está prestes a enfrentar seus medos.

Na sua mente, Almodóvar pode estar eternamente congelado como o garoto prodígio do cinema espanhol dos anos 1980. Contudo, O Quarto Ao Lado parece ser um destino natural para um grande autor que se tornou mais sombrio nos últimos tempos. Seu último longa, “Mães Paralelas”, foi assombrado pelos fantasmas da Guerra Civil Espanhola. “Dor e Glória”, veio envolto em arrependimentos tardios. Mesmo assim, este filme também marca um novo começo — seu primeiro longa-metragem totalmente fala em inglês.

Um encontro ponderado

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“Então, como você está?” pergunta Ingrid. As notícias são ruins, e uma melancolia suave se segue. As duas foram inseparáveis no passado, mas acabaram perdendo contato. Agora, elas se reconectam sob a pressão do tempo. Martha faz uma pergunta que coloca o filme em movimento: ela recusou novos tratamentos e obteve uma pílula de eutanásia. Ingrid será sua companheira quando ela decidir tomá-la?

O rosto de Moore é uma pintura. E muito mais no filme também é. As primeiras cenas parecem um pouco rígidas, como se as atrizes tivessem acabado de aprender inglês. No entanto, Almodóvar rapidamente se acomoda.

O humor de Almodóvar num contexto melancólico

Apesar do contexto triste, o diretor desliza facilmente para um modo cômico e impassível que sempre apreciou. As locações em Manhattan são deliberadamente precisas — uma leitura na Rizzoli, uma visita ao Lincoln Center — mas o filme trata a cidade como mais um cenário brilhante típico de Almodóvar. Arranha-céus no outono se juntam ao catálogo irônico de acessórios da Dolce & Gabbana, treinadores pessoais musculosos, móveis ultraestilizados e batons.

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E para uma mulher à beira da morte, Swinton está incrível, sua personagem e o filme mantendo uma camada de glamour pronto para as câmeras.

Isso pode até parecer leviano para algumas pessoas. Eu achei tocante: um charme pessoal como um dedo médio desafiador para os deuses. O filme como um todo tem um pouco dessa essência, subvertendo habilmente o melodrama que outra produção faria com o material. Essa outra abordagem se certifica de nos confrontar com as cenas angustiosas da doença terminal. Almodóvar confia que muitos de nós já sabemos como elas são e como é a sensação de perda, permitindo que todos façamos as conexões sem que Swinton precise performar um sofrimento físico para nós.

Uma verdade mais profunda

Cômico como é, O Quarto Ao Lado também parece mais verdadeiro em um sentido mais profundo e interessante do que essa outra versão já desgastada da história. Sim, o filme afirma, o destino é cruel e estranho. A questão é: à medida que a escuridão se aproxima, o que vem a seguir?

Almodóvar acrescenta ao clima de quebra de tabus de maneira sutil, mostrando que também está se divertindo. Agora com 75 anos, ele finalmente trabalha nos Estados Unidos, com seus personagens falando inglês, na terra dos esplêndidos melodramas dos anos 1950 do diretor Douglas Sirk, que moldaram seu trabalho inicial. Aqui, ele faz uma referência a esses filmes com flashbacks repletos de dodges vermelhos e milkshakes, criando uma composição estética quase anacrônica.

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A eutanásia

Claro, o filme também não pode deixar de ser um thriller. Diante do debate urgente no mundo real sobre a morte assistida, Almodóvar novamente não segue o esperado. Em vez de editorializar, ele trata o ato como algo que as pessoas podem optar por fazer, reconhecendo o potencial para terríveis abusos e desastres cômicos.

Não parece acidental que Ingrid e Martha acabem assistindo ao clássico de Buster Keaton, “Sete Oportunidades”. Enquanto o grande comediante evita uma avalanche de pedras, o momento se revela docemente profundo. Todos nós acabamos sendo esmagados eventualmente. Até lá, porém, temos pelo menos o riso, que é melhor compartilhado em boa companhia.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.