Crítica | Premonição 6: Laços de Sangue revitaliza a franquia com mortes divertidas e tentativa de amarrar sua própria mitologia
Warner Bros./Divulgação

Crítica | Premonição 6: Laços de Sangue revitaliza a franquia com mortes divertidas e tentativa de amarrar sua própria mitologia

Revisitar a franquia Premonição em 2025 é como abrir um álbum de fotos antigo e descobrir que aquelas imagens desbotadas ainda guardam um certo charme, mesmo que os defeitos saltem aos olhos. Os filmes nunca foram exatamente obras-primas do horror — atuações sofríveis, o roteiros cheio de furos, e o CGI, muitas vezes risível. Mas havia ali uma fórmula única: a morte como vilã invisível, armando armadilhas com objetos cotidianos, transformando uma escova de dente ou um balde de pipoca em instrumentos de terror. Premonição 6: Laços de Sangue chega para provar que, mesmo depois de 25 anos, a receita ainda funciona — com alguns ajustes necessários e outros nem tanto.

Dirigido por Adam B. Stein e Zach Lipovsky, o longa tenta respirar novos ares sem abandonar o que fez a série famosa. A dupla, conhecida por trabalhos como “Freaks” (2018), demonstra respeito pela mitologia estabelecida, mas também ousa inovar. O roteiro, assinado por Guy Busick (um dos responsáveis pelo revival de “Pânico”) e Lori Evans Taylor, tenta amarrar os eventos dos filmes anteriores em uma narrativa mais coesa, sugerindo que há um plano maior por trás das mortes em cadeia. A ideia é interessante, mas soa um pouco forçada — afinal, “Premonição 5” já havia feito algo parecido, e de forma mais orgânica, ao conectar seu final ao início do primeiro filme. Aqui, a tentativa de criar uma mitologia expandida parece mais um desejo de justificar uma sequência do que uma necessidade narrativa.

Mas vamos ser honestos: ninguém vai ao cinema por causa da profundidade da trama em Premonição. O que queremos são cenas criativas de mortes, construções de tensão bem executadas e aquele humor sombrio que faz a plateia rir de nervoso. E nisso, Laços de Sangue entrega.

O grande trunfo da franquia sempre foi transformar o banal em mortal. Um parque de diversões, uma sala de cirurgia, uma autoestrada — lugares comuns que se tornam palcos de carnificina. Desta vez, a cena premonitória que desencadeia o pesadelo ocorre em uma torre panorâmica. Tudo é mostrado com uma atenção quase fetichista aos detalhes, criando um quebra-cabeça visual que o público tente resolver antes que os personagens percebam o perigo, e o momento da catástrofe realmente impressiona — principalmente para quem tem medo de altura.

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A sequência do churrasco de família é outro destaque. O que começa como uma cena descontraída vira um exercício de suspense hitchcockiano. Um pedaço de vidro espalhado no meio de um balde de gelo, uma cama elástica prestes a arrebentar, uma tábua de carne mal posicionada, um isqueiro esquecido na mesa – a câmera passeia por esses elementos como um slasher espreitando suas vítimas. A montagem alternada entre os diálogos e os objetos “inocentes” aumenta a ansiedade, e quando o estrago finalmente acontece, é tão absurdo quanto satisfatório.

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Um dos problemas crônicos da franquia é a dependência excessiva de efeitos digitais, e Laços de Sangue não foge à regra. Algumas mortes são prejudicadas por CGI de qualidade duvidosa, especialmente quando comparadas aos efeitos práticos usados nos primeiros filmes.

Por outro lado, há momentos em que a fotografia compensa essas falhas. O uso de cores saturadas em cenas cotidianas cria um contraste irônico com o horror que se aproxima. a torre é filmada com tons vibrantes, quase como um comercial de férias, o que só torna a carnificina mais chocante. A direção de fotografia de Pedro Luque consegue equilibrar o tom entre o camp e o perturbador, algo essencial para um filme como este.

Premonição nunca levou a si mesmo a sério, e Laços de Sangue mantém essa tradição. Há piadas intencionais – como o personagem gótico interpretado por Erik Campbell que parece ter saído diretamente de “Premonição 3” – e outras não tão intencionais, como certas falas que beiram o ridículo. O roteiro parece consciente de sua própria loucura, abraçando o nonsense com orgulho.

Por falar em personagens, não posso deixar de citar Tony Todd, o icônico William Bludworth, transcende seu papel como o misterioso agente funerário para se tornar uma espécie de mensageiro filosófico da série. Suas aparições, embora breves, sempre trazem um peso existencial — ele não apenas explica as regras da morte, mas lembra aos personagens (e ao público) que fugir do destino é inútil, e que o verdadeiro recado não é o medo, mas sim a aceitação. “Ninguém escapa”, ele diz, com um sorriso sombrio, mas há uma lição por trás: se a morte é inevitável, então a vida deve ser vivida sem desperdício. Em Premonição 6: Laços de Sangue, sua presença — ainda que reduzida — mantém essa essência, reforçando que, no fim, a franquia nunca foi só sobre morrer de formas absurdas, mas sobre lembrar que, enquanto estamos aqui, cada respiro importa.

Crítica | Premonição 6: Laços de Sangue revitaliza a franquia com mortes divertidas e tentativa de amarrar sua própria mitologia
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Se você nunca viu um Premonição, este não é o pior ponto de entrada. A trama é autoconclusiva o suficiente para não exigir conhecimento prévio, embora algumas referências aos filmes antigos sejam perdidas. Mas se você, como eu, cresceu alugando DVDs das locadoras e se divertindo com as mortes mais absurdas possíveis, Laços de Sangue é uma volta bem-vinda.

Não é um filme perfeito – longe disso. O final é apressado, algumas mortes são anticlimáticas, e a tentativa de amarrar a franquia toda soa mais como fan service do que como uma evolução natural. Mas no fim das contas, o que importa é que a fórmula ainda funciona.

A franquia pode não ter envelhecido como um vinho fino, mas como um bom fast food de horror, ainda sabe nos saciar. E, pelo visto, a morte ainda não está pronta para nos deixar escapar.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.