Crítica | Quando a Morte Sussurra 2 é marcada por exageros, para o bem e para o mal
Suraya Filem/Divulgação

Crítica | Quando a Morte Sussurra 2 é marcada por exageros, para o bem e para o mal

Se há uma coisa que Quando a Morte Sussurra 2 não pode ser acusada, é de ser covarde. O filme chega com uma proposta de ação e terror que se inspira diretamente em clássicos como “A Morte do Demônio 2” e “O Iluminado”, mas não consegue escapar de seus próprios excessos. A sequência, embora divertida em certos momentos, nos lembra que, às vezes, o caminho para o terror e o entretenimento é pavimentado com mais clichês do que realmente inovações.

Desde o início, o filme tenta corrigir as falhas do primeiro. A tonalidade, que antes parecia confusa, agora se apresenta de forma mais coesa. A ideia é clara: criar uma atmosfera que combine elementos de terror clássico com ação frenética. E é aí que Quando a Morte Sussurra 2 começa a se destacar, particularmente ao pegar emprestado o tom grotesco e ao mesmo tempo bem-humorado da obra de Sam Raimi. De fato, ver o filme se arriscar em algo mais ousado, como essa menção direta, é algo que chama a atenção, ainda que traga suas próprias contradições.

No entanto, se tem algo que o filme faz bem, é a ação. Quando Yak (Nadech Kugimiya) aparece, o filme ganha um ritmo. Sem ele, a trama teria se resumido a uma caminhada pela floresta, tentando alcançar um objetivo simples. Ele traz caos, e o caos, muitas vezes, é o que mantém o público interessado.

Crítica | Quando a Morte Sussurra 2 é marcada por exageros, para o bem e para o mal
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O que acaba sendo um pouco difícil de engolir é o tom desnecessariamente cômico. As piadas que, em vez de aliviarem a tensão, parecem tirar o foco do que realmente importa: o terror. Há momentos de bom humor que, por mais que tragam leveza, acabam desvalorizando a atmosfera mais sinistra que o filme tenta construir. Em um longa que se propõe a ser assustador, a combinação de piadas e terror acaba perdendo o timing e tornando tudo um pouco mais forçado.

E então, há o som. O filme, com sua trilha sonora intensa, faz um ótimo trabalho em criar uma sensação de tensão. Porém, logo ao se jogar nos jumpscares, o som se torna um vilão. Os efeitos sonoros são tão altos e distorcidos que chegam a ser mais incômodos do que assustadores. Para quem está no cinema, é quase um teste de resistência auditiva. Parece que, mesmo com os problemas do primeiro filme, o som não foi muito trabalhado.

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Mas o maior erro do filme, sem dúvida, está na repetição de certos recursos. O ritmo parece se arrastar em diversos momentos, especialmente quando o filme aposta em cenas óbvias e previsíveis. O “susto” já não assusta, e as inserções de momentos no meio da floresta, quase sempre que há uma troca de cena, começam a soar como um truque barato. O filme se perde tentando ser mais do que realmente é: uma experiência simples de entretenimento, mas que insiste em se convencer de que é algo mais grandioso.

E isso nos leva ao protagonista e sua transformação para o herói caçador de fantasmas, que não deixa de ser uma tentativa clara de emular o icônico Ash de A Morte do Demônio. O diretor Taweewat Wantha, talvez para agradar aos fãs, tentou criar algo à imagem de Ash, mas acabou exagerando na dose, transformando o personagem em uma caricatura. E o resultado é que, em vez de um herói autêntico, Yak acaba sendo mais um elemento de diversão do que de tensão genuína.

Embora as referências a clássicos do terror possam parecer óbvias, Wantha sabe como usá-las para provocar uma nostalgia bem-vinda, sem deixar de lado sua assinatura visual. O que realmente diferencia esta sequência de seu antecessor é a atitude dos personagens: os irmãos, antes vítimas impotentes, agora assumem uma postura de resistência ativa. Esse desenvolvimento dá ao elenco espaço para brilhar, com destaque para Kugimiya, que entrega uma performance poderosa e emocional.

Crítica | Quando a Morte Sussurra 2 é marcada por exageros, para o bem e para o mal
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Enquanto o primeiro filme tinha cenas mais impactantes, como a explosão de estômago ou a morte de Yeam, Quando a Morte Sussurra 2 não consegue repetir a mesma intensidade visual. As cenas de terror se perdem em meio a piadas e momentos de ação frenética. Fica a impressão de que o filme não soube onde deveria parar. O final, por exemplo, poderia ter se estendido mais alguns minutos, mas opta por um corte abrupto que deixa o espectador com a sensação de que algo importante ficou de fora.

No final das contas, Quando a Morte Sussurra 2 é um filme divertido, mas nada além disso. Se você busca um bom filme de terror, talvez seja melhor revisitar os clássicos de Raimi e Kubrick. O filme tem bons momentos de ação e alguns sustos, mas acaba se perdendo nas suas referências e na tentativa de criar algo que, no fim das contas, parece mais uma sequência de altos e baixos. A boa notícia é que ainda é possível se divertir – mas a má notícia é que, com o potencial que tinha, o filme poderia ter sido muito mais do que foi.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.