Remake norte-americano do Terror dinamarquês Não Fale o Mal estreia nos cinemas brasileiros | Foto: Reprodução/Divulgação
Remake norte-americano do Terror dinamarquês Não Fale o Mal estreia nos cinemas brasileiros | Foto: Reprodução/Divulgação

Crítica | Remake de Não Fale o Mal sente falta de um psicopata norte-americano

Pronto para ser revelado ao público brasileiro, Não Fale o Mal chega aos cinemas amanhã! (12). O Terror Psicológico do diretor e roteirista James Watkins (“Dia Da Bastilha”), é um remake norte-americano do longa dinamarquês, de mesmo nome, lançado em 2022. A trama inicia após uma família convidar outra para passar alguns dias em sua casa no campo. E adivinhem só… Eles aceitam!

Com muito bom grado, a família de Paddy Field (James McAvoy) – composta pela companheira, Ciara Field (Aisling Franciosi), e Ant (Dan Hough), menino que vive com o casal – recebe os convidados. A sutil introdução é concomitante à apresentação da outra família, de Ben Dalton (Scoot McNairy). Ele e Louise Dalton (Mackenzie Davis), embarcam em uma viagem com a filha de 12 anos, Agnes Dalton (Alix West Lefler) às montanhas da residência numa bela e escura noite.

Remake norte-americano do Terror dinamarquês Não Fale o Mal estreia nos cinemas brasileiros | Foto: Reprodução/Divulgação
Remake norte-americano do Terror dinamarquês Não Fale o Mal estreia nos cinemas brasileiros | Foto: Reprodução/Divulgação

Embora a relação amistosa entre os grupos inicie timidamente, a família Field não mede esforços para conquistar a confiança dos Dalton. Ben, por horas, é cético com suas justificativas frustrantes à Louise. Na contramão, a mulher adota uma postura rígida e afrontosa, e não esconde sua insatisfação com o relacionamento. 

As crianças são fundamentadas por descontentamentos. Ant poderia facilmente ser a figura principal da narrativa se não fosse por sua incapacidade de fala e do arquétipo de Slasher (psicopata que mata aleatoriamente) não fosse centrada aos eventos conduzidos por Paddy. Ciara, por sua vez, é meramente ponto de apoio do parceiro. Sem muitos embaraços ou profundidades, a moça age nas entrelinhas para montar o cenário perfeito para o objetivo ardiloso do casal.

O “Pós-Horror”

Fora do escopo propriamente dito do terror comercial, a vulnerabilidade humana das relações familiares e as frustrações sustentam a psicologia da narrativa. Para este filme poderia parafrasear o jornalista norte-americano Steve Rose sobre a decepção dos espectadores do horror por filmes que fogem do terror convencional de Invocação do Mal, Annabelle, It – A Coisa ou Atividade Paranormal.

A exemplo, cito o sucesso de bilheteria na década de 1980 “O Iluminado”, de Stanley Kubrick. Encontrei semelhanças ao terror psicológico do veterano no que diz respeito às paletas de cores mais quentes à família de Paddy e nas ambientações. Cabe dizer que este recurso aumenta a tensão, algo que definitivamente me ocasionou. Uma majestosa maneira de aprimorar a narrativa cinematográfica. Ademais, no trailer, é possível notar as semelhanças das obras no enquadramento preciso para gerar desconforto e suspense.

Remake norte-americano do Terror dinamarquês Não Fale o Mal estreia nos cinemas brasileiros | Foto: Reprodução/Divulgação
Remake norte-americano do Terror dinamarquês Não Fale o Mal estreia nos cinemas brasileiros | Foto: Reprodução/Divulgação

Desprazer à sátira

Uma dimensão cinematográfica deste nível não suporta o enredamento do protagonista. Quem dirá de seu intérprete. Na trama, a glória de Paddy se corrói e tomba após as peças cognitivas e sensoriais do personagem se entrelaçarem em pontos sem nó e tornarem o esquema falível. 

Falhas facilmente enumeradas pela audiência expõem a mente do assassino. Porventura, sugerimos decisões mais ousadas e assertivas ao plano imperfeito. Mesmo que o público vibre pela fuga dos inocentes, somos mestres em arquitetar um desfecho mais sangrento – assustador, aliás. Isso porque a persona, ou seja, a representação fictícia de Paddy é sugestiva. Cabe a nós a desconfiança, a simpatia, o desprazer… a aversão ou apreço à sátira… diante da vasta performance de um slasher. 

Para esta complexidade, o protagonista do filme “Fragmentado”, (2016), McAvoy destrincha novamente sua aura moldável. O arquétipo do homem hetero “chefe de família”, de conduta autoritária e humor multifacetado expõe a maleabilidade do ator em construir o personagem suficientemente pela bagagem artística. Já que James afirmou não ter assistido ao longa de origem – escolha interessante!

Como alguém que também não assistiu ao filme dinamarquês, suponho que este é o ponto mais original do remake. Uma decisão inteligente, talvez. De qualquer forma, o terror é totalmente psicológico pela imprevisibilidade de Paddy em engatar a tensão que o diretor tanto almeja para a versão norte-americana.

Remake norte-americano do Terror dinamarquês Não Fale o Mal estreia nos cinemas brasileiros | Foto: Reprodução/Divulgação
Remake norte-americano do Terror dinamarquês Não Fale o Mal estreia nos cinemas brasileiros | Foto: Reprodução/Divulgação

Estilo ‘The Great Scape’ (A Grande Fuga)

No entanto, o traço não se compromete apenas ao Paddy, mas à família Dalton. A agonia permeia constantemente os cômodos dos ambientes; os diálogos desconfortáveis; as decisões cuidadosas, mas desequilibradas e as descobertas diminutas ao longo do enredo. Assim, desvendamos respostas, atentamos aos detalhes ou, até mesmo, nos entendiamos até chegar ao famoso clímax: a grande fuga. 

Honestamente, não há momento mais aguardado, imaginado e almejado, do que a sequência de cenas hollywoodianas da busca pela sobrevivência dos inocentes contra o mal. Por mais previsível que seja, os eventos te deixam atônitos com o desfecho logo à vista. Nesse sentido, percebemos com mais afinco a sinceridade.Premissa, curiosamente, moral do filme. 

Descobrimos as verdadeiras motivações dos anti-heróis por meio do assombro e da coragem. O blur dos ferimentos cobertos por maquiagens demonstram a habilidade de luta dos personagens. Assim, a capacidade e o planejamento astuto em termos desfavoráveis às vítimas credibiliza o sacrifício de cada um. 

Desta vez, salvar um relacionamento em crise e/ou um coelho de pelúcia é uma escolha mais penosa. Decisões banais e costumeiras à realidade, mas cruciais a um enredo em que a relação familiar define o quão longe você pode chegar.

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Jornalista, Repórter de Cultura Pop e Crítica de Cinema | contatoliviasc@gmail.com