Rubel em Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?
Foto: Bruna Sussekind / Divulgação

Crítica | Rubel volta as origens e se reencontra em ‘Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?’

Se em “As Palavras Vol. 1 e 2” Rubel se aventurava por diferentes gêneros da música brasileira em um álbum com bons momentos mas que bagunçava a identidade do artista; agora o músico carioca retorna as origens com o som minimalista e introspectivo do início da carreira e resgata sua essência em “Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?”, seu mais novo disco.

Capa de Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?
Divulgação

Aqui, o artista dispensa a produção grandiosa e o conceito ambicioso para se voltar a uma proposta mais simples e enxuta que remetem aos seus primeiros álbuns, “Pearls” (2013) e “Casas (2018)”. O violão é o que rege a sonoridade do álbum ao longo das 11 faixas que se destacam pela poética e a sinceridade das letras, ponto forte de Rubel.

Há reflexões pessoais sobre a vida, uma dose de romantismo e referências a figuras importantes que orbitam o seu universo, como Caetano Veloso, Milton Nascimento, Chico Buarque e o artista e escritor Valter Hugo Mãe.

A abertura com “Feiticeiro Gozador” já nos transporta diretamente para esse clima intimista que o cantor e compositor cria para o disco. É como se por alguns instantes entrássemos como convidados na sua mente e tivéssemos acesso a um fluxo de pensamentos intenso e ao mesmo tempo delicado. Essa atmosfera se estende e tem continuidade na faixa seguinte “A Janela, Carolina”, versão em português de “A la ventana, Carolina” (2017), do cantor e compositor mexicano El David Aguilar, que aqui ganha a cadência do samba.

“Ouro” é a canção que mais se destaca no disco e a que tem a maior força melódica. A faixa começa no minimalismo já estabelecido do disco mas vai crescendo aos poucos com o arranjo ganhando cada vez mais peso e elementos enquanto Rubel entoa versos românticos com toques de erotismo, mantendo o fôlego até o fim.

“Azul, Bebê” é uma das composições mais delicadas do disco, na qual o artista fala sobre o amor como força de reconstrução e parece remeter a sua recuperação da cirurgia feita em junho de 2023 feita para prevenir a ameaça de um sopro no coração. “A mais linda filha de Iemanjá / Depois de tudo que eu já sofri / Nossa fé pra nos abençoar / E o mistério a gente perseguir”, diz a letra.

Rubel em Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?
Foto: Bruna Sussekind / Divulgação

“Pergunta ao Tempo” faz referência direta ao clássico “Resposta ao Tempo” de Aldir Blanc e Cristovão Bastos, imortalizada na voz de Nana Caymmi (1941 – 2025) e traz uma letra que reflete sobre o futuro e as imprevisibilidades da vida. “Noite de Réveillon” é outra faixa que cresce durante seu decorrer e ganha uma levada mais jazzística com um singelo arranjo de cordas e sopros.

“Carta de Maria” cai num delicioso samba com ares de Caetano Veloso, incluindo referências sonoras baianas. “Praticar a Teimosia” volta para o minimalismo em um momento mais introspectivo que faz a preparação para o final com o surpreendente cover de “Reckoner”, sucesso do disco “In rainbows” (2007) do Radiohead que é recantada aqui com um bom falsete de Rubel e um belo arranjo de cordas feito por Arthur Verocai.

Em “Beleza. Mas agora a gente faz o que com isso?” Rubel se reencontra consigo mesmo como artista e retorna as origens em um álbum que ganha pela simplicidade e dá espaço para as letras brilharem ao lado dos arranjos refinados e caprichados. Aqui, o artista parece encontrar um equilíbrio entre a experimentação com coisas novas sem se desconectar da sua própria essência e semeia um bom caminho para o futuro.

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