Crítica | Stereolab volta após 15 anos com o seguro 'Instant Holograms on Metal Film'
Stereolab/Divulgação

Crítica | Stereolab volta após 15 anos com o seguro ‘Instant Holograms on Metal Film’

Quinze anos são muitos anos. Tempo suficiente para o mundo girar, a música se transformar e os fãs de Stereolab matarem um pouco da saudade mergulhando no catálogo da banda. Agora, em 2025, Tim Gane e Laetitia Sadier finalmente voltam com Instant Holograms on Metal Film, um álbum que soa como um abraço reconfortante de um velho amigo. Reconhecemos a voz, o jeito, as manias, mas será que ainda há espaço para surpresas?

O disco é, em essência, uma celebração do que sempre fez do Stereolab um grupo único: a mistura de pop francês dos anos 1960, krautrock, jazz e uma pitada de bossa nova, tudo envolto em sintetizadores que parecem saídos de uma sessão de Moog dos anos 1970. A produção, assinada por Cooper Crain (do Bitchin Bajas), mantém aquele brilho analógico que os fãs adoram, mas sem se perder em nostalgia vazia. Há texturas ricas, camadas bem costuradas e um equilíbrio entre o orgânico e o eletrônico que só eles sabem fazer.

Crítica | Stereolab volta após 15 anos com o seguro 'Instant Holograms on Metal Film'
Stereolab/Divulgação

A abertura com “Mystical Splosives” é um convite instantâneo: um minuto de batidas sintéticas que parecem vir de um theremin abandonado em um filme de ficção científica dos anos 1960. Logo em seguida, “Aerial Troubles” traz de volta o swing e os vocais suaves de Sadier, como se o Stereolab nunca tivesse ido embora. A faixa é uma aula de como construir uma canção que é, ao mesmo tempo, relaxante e energética – guitarras crispadas, bateria jazz-pop e letras que flutuam entre o francês e o inglês sem causar estranhamento.

Um dos grandes trunfos do álbum está nas faixas instrumentais. “Immortal Hands” começa como uma jam despretensiosa, mas logo se transforma em uma viagem Kraftwerkiana, que dialoga com um groove de guitarra digno da era disco. Já “Electrified Teenybop!” (sim, o ponto de exclamação faz parte da diversão) é uma explosão de sintetizadores borbulhantes, quase como uma homenagem aos interlúdios dançantes dos anos 1980. É curta, mas eficaz – e prova que o duo ainda sabe como injetar energia em poucos segundos.

No entanto, em “Esemplastic Creeping Eruption” (típico título Stereolab, cheio de charme e nonsense) tenta equilibrar rock e eletrônico, mas acaba se arrastando mais do que deveria. Ainda assim, há mérito na ousadia: a guitarra distorcida e as mudanças de ritmo mostram que Gane e Sadier não estão apenas reproduzindo fórmulas passadas.

O ponto alto do disco, sem dúvida, é “Melodie is a Wound”. A faixa é uma jornada: começa como um lounge suave de Sadier, que aos poucos se transforma em uma jam expansiva, quase kosmische. É Stereolab em seu melhor – político, melódico e cheio de camadas para descobrir a cada audição.

Mas e aí, o álbum justifica o hiato de 15 anos? Depende do que você espera. Se quiser inovação radical, pode se decepcionar. Instant Holograms on Metal Film não reinventa a roda – e talvez nem precise. O que ele faz, e faz bem, é lembrar por que amamos Stereolab: aquele mix de cool e cerebral, de pop e experimentalismo, que poucos artistas conseguem equilibrar.

Ainda assim, é impossível ignorar que o mundo mudou. Bandas como Of Montreal e Ginger Root levaram adiante a herança do Stereolab, explorando novas fronteiras do avant-pop. Enquanto isso, Gane e Sadier optam por um retorno seguro – competente, charmoso, mas sem aquele risco que os tornou pioneiros nos anos 1990.

No fim, Instant Holograms on Metal Film é como reencontrar um amigo querido depois de anos: a conversa flui, as lembranças são boas, mas você não pode evitar a sensação de que ambos cresceram em direções diferentes. Mas talvez essa seja a magia do Stereolab: eles não precisam provar nada. Apenas existem, com sua música inteligente e cool, como um farol para quem ainda acredita que pop pode ser sofisticado sem ser pretensioso. E, por enquanto, isso já é o suficiente.

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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor valvulado. Editor-chefe, crítico, roteirista, nortista e traficante cultural.